O sentido histórico da pandemia de covid-19: defesa da vida, saúde pública e nova hegemonia

AutorMaria Valéria Correia
CargoAssistente Social. Mestra e Doutora em Serviço Social pela UFPE, pós-doutorado pela UERJ. É líder do Grupo de Pesquisa e Extensão Políticas Públicas, Controle Social e Movimentos Sociais do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social/FSSO da UFAL. E-mail: mvcc@fsso.ufal.br
Páginas103-123
O SENTIDO HISTÓRICO DA PANDEMIA DE COVID-19: defesa da vida, saúde pública e nova
hegemonia
Maria Valéria Correia
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O artigo tem como objetivo apr esentar alguns aspectos do período pandêmico que evidenciam o caráter destrutivo do
capitalismo contemporâneo, o qual coloca em risco a vida e a própria existência da humanidade, enfatizando que ele está
relacionado: ao surgimento do novo coronavírus e à possibilidade de novas pandemias em decorrência da devastação da
natureza; ao aprofundamento das desigualdades sociais; à mercantilização da vida e dos serviços de saúde. O artigo foi
desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica sobre o tema e de consulta aos estudos já realizados pelo grupo de pesquisa
da autora. Na conclusão traz reflexões, a partir do pe nsamento de Gramsci, sobre a necessária construção da hegemonia
das classes subalternas, com um horizonte anticapitalista das lutas sociais para a preservação da humanidade.
Palavras-chave: Pandemia; desigualdade social; Saúde pública; Hegemonia.
THE HISTORICAL SENSE OF THE COVID-19 PANDEMIC: defense of lif e, public health and new hegemony
The article aims to present some aspects of the pandemic period that highlight the destructive character of the contemporary
capitalism, which puts the life and the very existence of humanity at risk, emphasizing that contem porary capitalism is
related: to the emergence of the new coronavirus and possibility of new pandemics as a result of devastation of nature; to
the deepening of social inequalities; to the commodification of life and health services. It was developed from bibliographic
research on the subject and consultation of studies already developed by the author’s research group. The conclusion brings
reflections, based on Gramsci’s thought, on the necessary construction of the hegemony of the subaltern classes, with an
anti-capitalist horizon of social struggles for the preservation of humanity.
Keywords: Pandemic; social inequality; public health; Hegemony.
Artigo recebido em: 12/02/2022 Aprovado em: 21/08/2022
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Assistente Social. Me stra e Doutora em Serviço Social pela UFPE, pós-doutorado pela UERJ. É líder do Grupo de
Pesquisa e Extensão Políticas Públicas, Controle Social e Movimentos Sociais do Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social/FSSO da UFAL. E-mail: mvcc@fsso.ufal.br
Maria Valéria Correia
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1 INTRODUÇÃO
O presente artigo foi elaborado para subsidiar a exposição na mesa-redonda “A
Precarização do Trabalho e a Luta por Direitos, a Defesa da Educação e da Saúde Públicas e o
Sentido Histórico da Pandemia Covid-19”, da X Jornada Internacional de Políticas Públicas (X
JOINPP), ocorrida em 18 de novembro de 2021. Tem o objetivo de apresentar como o período
pandêmico evidenciou o caráter destrutivo do capitalismo, na relação predatória com a natureza, no
aprofundamento da desigualdade social e na mercantilização da vida e dos serviços da saúde,
colocando em risco a própria existência da humanidade. Período em que recrudesce o lucro acima da
vida, banalizando-se milhares de mortes evitáveis, ao tempo que revela a necessidade de as lutas
sociais terem um horizonte anticapitalista para que a vida e a saúde sejam preservadas.
Para o desenvolvimento do artigo, partiu-se de uma ampla pesquisa bibliográfica sobre o
tema e de estudos já desenvolvidos para a elaboração da coletânea Determinação social da saúde e
enfrentamento da covid-19: o lucro acima da vida, e do dossiê Política de saúde e lutas sociais em
tempos de pandemia da covid-19.
O caráter destrutivo das relações sociais capitalistas na fase de financeirização do capital
se tornou mais explícito na pandemia: ele está na raiz do surgimento do novo coronavírus, em
decorrência da devastação da natureza; no aprofundamento das desigualdades sociais, propiciando
maior letalidade entre a classe trabalhadora negra; na mercantilização da saúde, dificultando o acesso
aos serviços e gerando mortes evitáveis tudo em função do lucro. Por isso, neste artigo, o sentido
histórico atribuído ao período pandêmico foi a visibilidade e comprovação do referido caráter destrutivo
do capitalismo e o necessário horizonte anticapitalista das lutas sociais para a preservação da própria
humanidade. Este artigo levanta apenas alguns aspectos iniciais do tema escolhido, que suscitam
novos estudos sobre a realidade em que ainda estamos imersos.
Iniciamos abordando o caráter destrutivo das relações sociais capitalistas para a natureza,
relacionando-o com o surgimento do novo coronavírus e com a possibilidade de novas pandemias.
Mostramos ainda como, no Brasil, sob o governo negacionista de Bolsonaro, a devastação do meio
ambiente tem avançado, favorecendo grupos econômicos, e como a ausência de uma política nacional
de enfrentamento da covid-19, em nome do lucro, propiciou mortes evitáveis.
A segunda parte expõe que a pandemia atinge de forma diferente parcelas diversas da
população, de acordo com as condições materiais de existência de cada uma, realidade que remete ao
conceito de determinação social da saúde. Uma taxa de letalidade mais alta entre a classe
trabalhadora negra evidencia que a pandemia é atravessada pela questão de classe e de raça. Aponta
a agudização da desigualdade social durante a pandemia, ou seja, o aumento concomitante da riqueza

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