Serviço social e a produção intelectual sobre as desigualdades de gênero, raça/etnia, diversidade sexual e geração

AutorKamila Teixeira, Mably Trindade
CargoDoutora em Política Social pela Universidade Federal Fluminense/Universidade Coimbra (UFF/UC). Professora do Curso de Serviço Social da Universidade do Estado do Paraná (UNESPAR ? Apucarana). E-mail: teixeira.kcs27@gmail.com / Doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora da Escola de Serviço Social da...
Páginas132-148
2GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 2 | p. 2-2 | 1. sem 2022
EDITORIAL
2
EDITORIAL
Nesta edição da revista Gênero, apresentaremos o dossiê Gênero,
Políticas Públicas e Serviço Social, organizado pelas professoras doutoras
Luciana Zucco e Teresa Kleba L isboa, ambas da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), e pela professora doutora Magali Silva Almeida,
da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Serão apresentadas discus-
sões sobre gênero e a interseccionalidade entre raça e classe; sexualidade;
violência; migração feminina; encarceramento de mulheres; e suas inter-
faces com as políticas públicas, visando contribuir para o aprofundamento
dos estudos sobre a temática no serviço social. Esses estudos são de
grande relevância em um contexto de graves retrocessos no campo das
políticas públicas e de avanço do racismo e da violência contra mulheres,
homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais devido ao neoconservado-
rismo e ultraneoliberalismo que dominam o Estado brasileiro.
Ademais, esta edição conta com uma série de artigos de temas livres,
como adoção por casais do mesmo sexo; mulheres e esporte; participação
feminina na democracia portuguesa; feminismo negro; abor to; e trabalho
doméstico. Oferece, ainda, duas resenhas: uma sobre o livro E se fosse você?
sobrevivendo às redes de ódio e fake news, de autoria de Manuela d’Ávila;
eoutra sobre o livro Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano,
que tem como autora Grada Kilomba. Sendo assim, convidamos a todas
e todos, da comunidade acadêmica ou não, que possuem interesse pelos
estudos de gênero a desfrutar de uma ótima leitura.
Equipe editorial:
João Bosco Hora Góis
Kamila Cristina da Silva Teixeira
Sidimara Cristina de Souza
GÊNERO | Niterói | v. 23 | n. 1 | p. 132-148 | 2. sem 2022
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SERVIÇO SOCIAL E A PRODUÇÃO INTELECTUAL
SOBRE AS DESIGUALDADES DE GÊNERO, RAÇA/ETNIA,
DIVERSIDADE SEXUAL E GERAÇÃO
Kamila Cristina da Silva Teixeira21
Mably Jane Trindade Tenenblat22
O colonialismo é uma ferida que nunca foi tratada. Uma ferida que dói sempre,
Por vezes, infecta.
E outras vezes sangra
(Grada Kilomba, 2019).
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo compreender os desafios
contemporâneos enfrentados pelo Serviço Social em sua produção intelectual
sobre desigualdades de gênero, raça/etnia, diversidade sexual e geração no
mundo do trabalho. Para isso realizou-se um ensaio bibliográfico no qual foi
possível constatar que, nas últimas décadas, o Serviço Social aproximou-se de
maneira muito competente de tais temáticas, porém ainda bastante embrionária
na questão étnico-racial. Além de suscitar inúmeras controvérsias, pois esses
temas são compreendidos, por vezes, como “identirarismos”, como se ao
abordá-los estivéssemos fragmentando a “classe”, mesmo a profissão sendo
constituída majoritariamente por mulheres e atuando com grupos minoritários.
PALAVRAS-CHAVE: Gênero. Raça/Etnia. Diversidade Sexual. Geração.
Serviço Social.
ABSTRACT: This article aims to understand the contemporary challenges faced by
Social Work in its intellectual production on inequalities of gender, race/ethnicity,
sexual diversity and generation in the world of work. For this, a bibliographic
21 Doutora em Política Social pela Universidade Federal Fluminense/Universidade Coimbra (UFF/UC).
Professora do Curso de Serviço Social da Universidade do Estado do Paraná (UNESPAR – Apucarana).
E-mail: teixeira.kcs27@gmail.com Orcid.
22 Doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora da Escola de
Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: mablytrindade@gmail.com Orcid:
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Comercial 4.0 Internacional.
2GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 2 | p. 2-2 | 1. sem 2022
EDITORIAL
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EDITORIAL
Nesta edição da revista Gênero, apresentaremos o dossiê Gênero,
Políticas Públicas e Serviço Social, organizado pelas professoras doutoras
Luciana Zucco e Teresa Kleba L isboa, ambas da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), e pela professora doutora Magali Silva Almeida,
da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Serão apresentadas discus-
sões sobre gênero e a interseccionalidade entre raça e classe; sexualidade;
violência; migração feminina; encarceramento de mulheres; e suas inter-
faces com as políticas públicas, visando contribuir para o aprofundamento
dos estudos sobre a temática no serviço social. Esses estudos são de
grande relevância em um contexto de graves retrocessos no campo das
políticas públicas e de avanço do racismo e da violência contra mulheres,
homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais devido ao neoconservado-
rismo e ultraneoliberalismo que dominam o Estado brasileiro.
Ademais, esta edição conta com uma série de artigos de temas livres,
como adoção por casais do mesmo sexo; mulheres e esporte; participação
feminina na democracia portuguesa; feminismo negro; abor to; e trabalho
doméstico. Oferece, ainda, duas resenhas: uma sobre o livro E se fosse você?
sobrevivendo às redes de ódio e fake news, de autoria de Manuela d’Ávila;
eoutra sobre o livro Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano,
que tem como autora Grada Kilomba. Sendo assim, convidamos a todas
e todos, da comunidade acadêmica ou não, que possuem interesse pelos
estudos de gênero a desfrutar de uma ótima leitura.
Equipe editorial:
João Bosco Hora Góis
Kamila Cristina da Silva Teixeira
Sidimara Cristina de Souza
GÊNERO | Niterói | v. 23 | n. 1 | p. 143-148 | 2. sem 2022 133
essay was carried out in which it was possible to verify that, in the last decades,
the Social Service approached such themes in a very competent way, but still
very embryonic in the ethnic-racial question. In addition to raising numerous
controversies, as these themes are sometimes understood as “identitarianisms”,
as if by approaching them we were fragmenting the “class”, even though the
profession is constituted mostly by women and working with minority groups.
Keywords: Gender, Race/Ethnicity, Sexual Diversity, Generation. Social Work.
INTRODUÇÃO
É fato inconteste que as transformações históricas e societárias advindas
da Revolução Industrial consolidaram o capitalismo e romperam com as formas
de organizações sociais tradicionais. Assim como é notório que todas essas
mudanças afetaram diretamente as relações sociais e as bases estruturais da
ontologia do trabalho.
As consequências do novo modo de produção capitalista, por intermédio
do desenvolvimento industrial e, consequentemente, por meio do processo de
urbanização constituem a base do acirramento da questão social, compreen-
dida como as “desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais,
mediadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais
e formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil
no acesso aos bens da civilização” (IAMAMOTO, 2009, p. 177), apontando,
inevitavelmente, para a relação capital/trabalho (a exploração) como sua
determinação essencial.
Contudo, nesse novo cenário – fruto obviamente do sistema capitalista –,
o trabalho, instrumento central na constituição da vida social, ou seja, do ser
social, tem sua ontologia diretamente afetada, passando a ser contemplado
apenas com aquele trabalho “necessário [...] apenas e tão somente” para a
reprodução do capital – o trabalho abstrato (LESSA, 2002, p. 31).
Inicia-se, assim, uma desconsideração do trabalho enquanto formador de
valores-de-uso e trabalho útil, sendo uma condição de existência do homem,
independentemente de todas as formas de sociedade (MARX, 2008). Nesse
sentido, o resultado, ou seja, a materialização de um processo teleológico – que
já estava no intelecto do indivíduo e que propicia uma transformação da matéria
natural ao mesmo tempo em que objetiva sua idealização (LUKÁCS,1979,
p. 16) – passa a ser considerado apenas como ação abstrata, cujo objetivo
central é propiciar a produção de mais-valia.

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