Servidão voluntária

AutorWladimir Novaes Martinez/Francisco de Assis Martins
Páginas210-211
210
Nesta etapa final serão comentados alguns conceitos que têm íntima conexão
com as normas jurídicas “disciplinadoras” da união estável. Eles ajudarão a entender
o que, na verdade, elas nos dizem. Até que não é muito difícil, é só prestar atenção.
Esta análise será uma contribuição para o esforço realizado em busca da com-
preensão dos bastidores da luta em face aos desafios postos cotidianamente contra
a emancipação humana, em especial quanto à constituição das relações familiares.
26. SERVIDÃO VOLUNTÁRIA
O Discurso sobre a servidão voluntária, do filósofo francês Etienne de La Boétie
que morreu aos 33 anos de idade, em 1563, é um dos mais importantes apelos à
liberdade.
Etienne de La Boétie destaca a irracionalidade da servidão entendida como
uma espécie de doença coletiva já que o ser humano encontra-se aprisionado por
onde quer que ande.
Ele inicia questionando a razão da submissão de nações inteiras à vontade
de um só, de um tirano. Afirma que decorre do hábito e da educação que o povo
recebe e também pela busca de poder: “assim é: os homens nascem sob o jugo, são
criados na servidão, sem olharem para lá dela, limitam-se a viver tal como nasceram,
nunca pensam ter outro direito nem outro bem senão o que encontraram ao nascer,
aceitam como natural o estado que acharam à nascença. Mas o costume, que sobre
nós exerce um poder considerável, tem uma grande força de nos ensinar a servir e
a engolir tudo até que deixamos de sentir o amargor do veneno da servidão”.
Nada mais explicativo ao que ocorre com as tradições familiares, com a moral
instituída pela religião e pelos “bons costumes”. Elas segregam e punem as pessoas
que ousam desafiar a ordem constituída.
O Direito de Família, esta legislação sufocante e preconceituosa, tal qual o
tirano da época de La Boétie, oprime a sociedade e a impede de livremente es-
colher seus relacionamentos familiares. Não acompanha a sua evolução. Dorme
em “berço esplêndido” e usa expressões ultrapassadas como “concubinato”, cria
P III
PERSPECTIVA FUTURA

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