O significado sexual da sujeira ritual

AutorFurio Jesi
Páginas84-86
doi:10.5007/1984-784X.2014v14n22p84
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O SIGNIFICADO SEXUAL DA SUJEIRA RITUAL
Furio Jesi
A pesquisa etnográfica trouxe à luz, e genericamente enquadrado no con-
junto de ligações por nós conhecidas, o fenômeno da assim chamada “sujeira
ritual.” Trata-se de um elemento das cerimônias iniciáticas primitivas sobre
cuja natureza formal já quase não existe mais dúvida: é a proibição de lavar-se
que pode se prolongar por todo o tempo da permanência no “lugar sa-
grado” da iniciação , à qual se acrescenta a obrigação de se untar de cinzas,
de fuligem ou de argila.
Samter, Propp e outros estudiosos reconheceram nessa prática a intenção
de confirmar com um ato ritual a incognoscibilidade (e num certo sentido
também a invisibilidade) do neófito, ligada à sua permanência no Outro mun-
do. Propp, especialmente, pôs em evidência as sobrevivências alteradas de tal
prática na tradição de fábulas populares, mesmo sem chegar a conclusões de-
cisivas sobre o significado da própria prática, com base no material folclórico-
literário por ele examinado.
Conclusões semelhantes é necessário dizer agora nós procuraremos
dar e formular no decorrer desse estudo. É, portanto, necessário que caracte-
rizemos ulteriormente os termos da problemática relativa, dando por conhe-
cidos os documentos etnográficos não suscetíveis de revisão formal e já publi-
cados.
Consideremos, antes de tudo, se o não lavar-se está realmente ligado ao
ato de se untar de fuligem ou de argila (e, do mesmo modo, com o pintar-se
de preto ou de branco: práticas em clara relação com a invisibilidade), e, con-
sequentemente, pode ser interpretado através de um ponto de vista análogo.
Do ponto de vista formal, as duas práticas (não se lavar, e sujar-se) pare-
cem análogas: assim, poderiam ser consideradas em harmonia e em consoli-
dação uma com a outra, supondo um significado comum de características da
Il significato sessuale della sporcizia rituale.
Riga, Milano, n. 31 (Org. Marco Belpoliti e Enrico Manera), p. 34-35, 2010.
Texto inédito, presente em arquivo privado, escrito por volta de 1960.
Tradução de Davi Pessoa Carneiro
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 14, n. 22, p. 84-86, 2014|

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