Simulado 2

AutorAndré Nascimento, Bruna Vieira, Enildo Garcia, Fernanda Franco, Flavia Moraes Barros, Henrique Subi, Ricardo Quartin, Renan Flumian, Robinson Barreirinhas, Rodrigo Ferreira Lima e Teresa Melo
Páginas29-47
SIMULADO 2 27
COMO NASCE UMA HISTÓRIA (FRAGMENTO)
1 Quando cheguei ao edifício, tomei o elevador que serve do primeiro ao décimo quarto andar.
Era pelo menos o que dizia a tabuleta no alto da porta.
— Sétimo — pedi.
4 A porta se fechou e começamos a subir. Minha atenção se xou num aviso que dizia:
É expressamente proibido os funcionários, no ato da subida, utilizarem os elevadores para
descerem.
7 Desde o meu tempo de ginásio sei que se trata de problema complicado, este do innito
pessoal. Prevaleciam então duas regras mestras que deveriam ser rigorosamente obedecidas. Uma
armava que o sujeito, sendo o mesmo, impedia que o verbo se exionasse. Da outra infelizmente já
10 não me lembrava.
Mas não foi o emprego pouco castiço do innito pessoal que me intrigou no tal aviso: foi estar
ele concebido de maneira chocante aos delicados ouvidos de um escritor que se preza.
13 Qualquer um, não sendo irremediavelmente burro, entenderia o que se pretende dizer neste
aviso. Pois um tijolo de burrice me baixou na compreensão, fazendo com que eu casse revirando a
frase na cabeça: descerem, no ato da subida? Que quer dizer isto? E buscava uma forma simples e
16 correta de formular a proibição:
É proibido subir para depois descer.
É proibido subir no elevador com intenção de descer.
19 É proibido car no elevador com intenção de descer, quando ele estiver subindo.
Se quiser descer, não tome o elevador que esteja subindo.
Mais simples ainda:
22 Se quiser descer, só tome o elevador que estiver descendo.
De tanta simplicidade, atingi a síntese perfeita do que Nelson Rodrigues chamava de óbvio
ululante, ou seja, a enunciação de algo que não quer dizer absolutamente nada:
25 Se quiser descer, não suba.
Fernando Sabino. A volta por cima. Rio de Janeiro: Record, 1995, p. 137-140 (com adaptações).
Acerca do gênero textual e das estruturas linguísticas do texto acima, julgue os itens a seguir.
(1) O trecho das linhas 5 e 6 pode ser reescrito, com correção gramatical, da seguinte maneira: É expres-
samente proibido a utilização dos elevadores que estiverem subindo pelos funcionários que desejarem
descer.
(2) A regra gramatical enunciada pelo autor em “Uma armava que o sujeito, sendo o mesmo, impedia
que o verbo se exionasse” (l. 8-9) aplica-se aos verbos subir e descer no seguinte exemplo: Se os
funcionários querem subir, não devem descer.
(3) O gênero textual apresentado permite o emprego da linguagem coloquial, como ocorre, por exemplo,
em “Qualquer um, não sendo irremediavelmente burro” (l. 13) e “um tijolo de burrice” (l. 14).
(4) O sentido do período seria mantido, mas a correção gramatical seria prejudicada, caso se substituísse
“atingi a síntese perfeita” (l. 23) por cheguei à síntese perfeita.
BATERIA DE SIMULADOS INSS
28
Texto I
1 Naquele novo apartamento da rua Visconde de Pirajá
pela primeira vez teria um escritório para trabalhar. Não era um
cômodo muito grande, mas dava para armar ali a minha tenda
4 de reexões e leitura: uma escrivaninha, um sofá e os livros.
Na parede da esquerda caria a grande e sonhada estante
onde caberiam todos os meus livros. Tratei de encomendá-la a
7 seu Joaquim, um marceneiro que tinha ocina na rua Garcia
D’Ávila com Barão da Torre.
O apartamento não cava tão perto da ocina. Era
10 quase em frente ao prédio onde morava Mário Pedrosa, entre
a Farme de Amoedo e a antiga Montenegro, hoje Vinicius de
Moraes. Estava ali havia uma semana e nem decorara ainda o
13 número do prédio. Tanto que, quando seu Joaquim, ao
preencher a nota de encomenda, perguntou-me onde seria
entregue a estante, tive um momento de hesitação. Mas foi só
16 um momento. Pensei rápido: “Se o prédio do Mário é 228,
o meu, que ca quase em frente, deve ser 227”. Mas
lembrei-me de que, ao ir ali pela primeira vez, observara que,
19 apesar de car em frente ao do Mário, havia uma diferença na
numeração.
– Visconde de Pirajá, 127 – respondi, e seu
22 Joaquim desenhou o endereço na nota.
– Tudo bem, seu Ferreira. Dentro de um mês estará
lá sua estante
25 – Um mês, seu Joaquim! Tudo isso? Veja se reduz
esse prazo.
– A estante é grande, dá muito trabalho... Digamos,
28 três semanas.
Ferreira Gullar. A estante. In: A estranha vida banal. Rio de Janeiro: José Olympio, 1989 (com adaptações).
No que se refere aos sentidos do texto I, julgue os próximos itens.
(5) O trecho “dá muito trabalho” (L.27) constitui uma referência de seu Joaquim à confecção da estante,
tarefa que, segundo ele, seria trabalhosa.
(6) De acordo com as informações do texto, é correto inferir que seu Joaquim era analfabeto, uma vez que
ele “desenhou o endereço na nota” (L.22).
(7) A expressão “armar ali a minha tenda” (L.3) foi empregada no texto em sentido gurado.
(8) De acordo com as informações do texto, Vinicius de Moraes passou a morar no apartamento onde antes
residia Mário Pedrosa.
(9) O “momento de hesitação” (L.15) vivido pelo narrador deveu-se ao medo de informar o endereço a
um desconhecido.
(10) O verbo dever foi empregado na linha 17 no sentido de ser provável.
Julgue os seguintes itens, a respeito de aspectos linguísticos do texto I.
(11) A correção gramatical e o sentido do texto seriam preservados, caso se substituísse o trecho “lembrei-me
de que” (L.18) por lembrei que.

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