Serviço Social: contribuições analíticas sobre o exercício profissional

AutorMarilda Villela Iamamoto
CargoAssistente Social, Dra. em Ciências Sociais (PUC-SP)
Páginas139-142
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Este número da Revista Katálysis,Serviço Social: con-
tribuições analíticas sobre o exercício profissional, apre-
senta um panorama de múltiplas tendências teóricas e políticas
vigentes no universo profissional em relação aos fundamentos
do exercício profissional. Elas se desdobram no direcionamento
impresso à profissão no processo de produção e reprodução
das relações sociais, na implementação da formação profissi-
onal, nas interpretações dos determinantes históricos dessa
profissionalização e nas formas de explicar e efetivar as com-
petências dos assistentes sociais na cena histórica contempo-
rânea, demarcada por profundas transformações históricas
incidentes na economia, na política e na cultura.
A diversidade de perspectivas aqui presentes nas inter-
pretações do processo de institucionalização e desenvolvimento
da profissão no marco das sociedades nacionais, dos desafios
atuais postos ao trabalho do assistente social e sua efetivação
– em suas indissociáveis dimensões teórico-metodológicas,
ético-políticas e técnico-operativas – condensa o debate pro-
fissional e acadêmico presente na área de Serviço Social no
país, ao mesmo tempo em que abre uma interlocução com
produções referentes à União Européia (Portugal e Alema-
nha) e à outros países da América Latina (Uruguai e Argen-
tina). Simultaneamente atribui-se visibilidade aos desafios en-
frentados pela categoria para a edificação de um projeto pro-
fissional coletivamente construído e socialmente respaldado
em forças sociais que lutam pela hegemonia no direcionamento
da vida em sociedade.
Pode-se afirmar que os artigos aqui apresentados nos
convocam a intensificar um debate teórico rigoroso e
exigente, cientificamente qualificado, voltado a apreen-
der os determinantes da vida social mais além de suas
manifestações empíricas; e a decifrar os discursos dos
agentes sociais tais como aparecem na superfície da vida
social, assim como a formalização “científica” que os le-
gitima e reitera, impondo o esforço da crítica teórica
para o seu desvelamento. Isso é uma pré-condição para
afirmar a dimensão teleológica do trabalho, elucidar o sig-
nificado e os efeitos sociais do exercício profissional para
os sujeitos sociais a quem se dirige e, em especial, para o
conjunto das classes subalternas. Elas buscam afirmar
seus interesses e necessidades sociais na cena pública,
na luta por direitos de cidadania, entendida esta como
processo histórico, que envolve: a socialização do poder
político, da economia e da cultura (COUTINHO, 2000).
Os artigos agrupados nesse número temático da
Katálysis buscam analisar e responder a desafios profis-
sionais que são historicamente circunscritos: incidem no
Serviço Social, mas não se explicam nos seus muros in-
ternos, visto que enraizados nas amplas e profundas trans-
formações operadas na sociedade capitalista, no contex-
to de mundialização do capital, que reforça o desenvolvi-
mento desigual e combinado de países regiões, empresas
e ramos de produção, classes sociais e formações cultu-
rais, matizado pelos traços de suas particularidades his-
tóricas (LÊNIN, 1976; MANDEL, 1985).
Na contratendência de uma onda longa de tonalidade
recessiva no cenário mundial, sob a hegemonia das finan-
ças (CHESNAIS, 1996, 1998), orquestrada pelos organis-
mos multilaterais na sombra do império norte-americano,
o capitalismo avançou em sua vocação de internacionalizar
a produção e os mercados, requerendo políticas de “ajus-
tes estruturais” por parte dos Estados nacionais, que dão
livre curso ao capital especulativo financeiro destituído de
regulamentações e à lucratividade dos grandes conglome-
rados multinacionais, radicalizando a “questão social”.
O caráter conservador do projeto neoliberal se ex-
pressa, de um lado, na naturalização do ordenamento ca-
pitalista e das desigualdades sociais a ele inerentes tidas
como inevitáveis, obscurecendo a presença viva dos su-
jeitos coletivos e suas lutas na construção da história a
favor da exaltação dos indivíduos isolados, conforme os
cânones liberais; e, de outro lado, em um retrocesso his-
tórico condensado no desmonte das conquistas sociais
acumuladas, resultantes de embates históricos das clas-
ses trabalhadoras consubstanciados nos direitos sociais
universais de cidadania, que têm no Estado uma media-
ção fundamental. Aquelas conquistas são transformadas
em “ameaças ou dificuldades”, causa de “gastos sociais
excedentes” que se encontrariam na raiz da crise fiscal
dos Estados. A contrapartida tem sido a difusão da idéia
liberal de que o “bem-estar social” pertence ao foro pri-
vado dos indivíduos, famílias e comunidades, exaltando o
voluntariado e as iniciativas filantrópicas, num amplo
empreendimento de moralização da “questão social” –
ao desqualificá-la como questão pública, questão política
e questão nacional (YAZBEK, 2001) – e de despolitização
da noção de sociedade civil. A intervenção do Estado, no
atendimento às necessidades sociais, é focalizada em
programas sociais de combate à extrema pobreza, no con-
trole dos riscos sociais, assim como transferida ao mer-
cado e à filantropia como alternativas aos direitos soci-
ais. E reafirma Soares (2003, p. 12):

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