Social representations of the administration academics about human resources/Representacoes sociais dos academicos de administracao sobre recursos humanos/Representaciones sociales de los academicos de administracion sobre recursos humanos.

AutorScheffer, Angela Beatriz Busato
CargoArtigo--Gestao de Pessoas em Organizacoes
  1. INTRODUCAO

    Por meio do conhecimento das representacoes sociais, torna-se possivel um entendimento mais adequado dos processos de constituicao simbolica encontrados na sociedade, nos quais individuos se empenham para dar sentido ao mundo e nele construir sua identidade social. A identidade social remete, na sociedade atual, a ideia de identidade coletiva, que se estabelece especialmente por meio do trabalho, ou seja, de uma caracteristica que permite o reconhecimento identitario entre os individuos (MATTJIE, 2011). Assim, "um trabalhador que pretende pertencer a uma categoria deve, necessariamente, ter um posto de trabalho" (MATTJIE, 2011:148). Esse sentimento de pertenca se dara quando o individuo for integrado ao grupo, tornando-se parte dele. O profissional de Administracao, por exemplo, possui um nivel de formacao e certas aptidoes a serem desenvolvidas durante a graduacao que podem fazer com que os individuos que escolham esta profissao consigam perceber-se vinculados a identidade social que define um profissional de Administracao.

    Na profissao de administrador coexistem as subdivisoes de areas--mesmo que nao assinaladas de forma oficial nos curriculos dos cursos de graduacao -, caracteristicas do dia a dia da profissao e que configuram a identidade social dos administradores que atuam em um mesmo campo, como financas, marketing, gestao de pessoas, logistica e producao, etc. Essas areas representam as atribuicoes do administrador nas organizacoes e podem gerar competicao entre as identidades estabelecidas com base na suposicao de que uma opcao seja mais importante do que outra.

    Esse tipo de comportamento aparece quando existe a necessidade de afirmacao das identidades sociais, e pode levar a atitudes e posturas desrespeitosas entre grupos de trabalho. Neste estudo, buscou-se verificar, a partir de suas representacoes sociais, como os alunos de graduacao em Administracao de tres universidades federais do Rio Grande do Sul veem a area, o curso e o profissional atuante em Recursos Humanos (RH).

    A escolha desse foco de estudo esta atrelada ao que Dutra (2006) salienta sobre o processo evolutivo da gestao de pessoas (GP) e a forma pela qual e diferentemente avaliado por diversos autores, e, ademais, sobre o papel que a area tem desempenhado, a fim de demostrar que a GP vem ganhando espaco como tematica de pesquisa e e apontada como uma das bases para a formacao do administrador. Mesmo assim, a area, conhecida atualmente como Gestao de Pessoas, anteriormente denominada de Recursos Humanos, pode ser percebida em alguns contextos como inferior em importancia para as organizacoes, quando comparada a outras areas da Administracao.

    No entanto, apesar de os pesquisadores identificarem essa realidade, as funcoes da area e do profissional nao sao abordadas de forma clara e ampla no ambiente academico, ficando o conhecimento do assunto vinculado ao senso comum e as "conversas de bastidores". Com o intuito de dar visibilidade a essa tensao, buscou-se conhecer as representacoes sociais sobre a area de Recursos Humanos e examinar a percepcao dos academicos de Administracao e os pontos de vista que eles criam com a teoria apresentada sobre o assunto, as vivencias de estagios/empregos, relatos dos colegas e leituras em geral.

    Este estudo foi elaborado no decurso de uma disciplina de Gestao de Pessoas de um Programa de Pos-Graduacao em Administracao e contou com a participacao de todos os integrantes da turma e da docente responsavel. O interesse pelo objeto de pesquisa surgiu dos relatos de diversos alunos deste grupo de pos-graduacao profissionais e/ou professores da area--sobre experiencias de desprezo de discentes de graduacao ou profissionais ja formados em Administracao pelos temas vinculados a GP. O processo de pesquisa foi dividido em tres etapas: 1) primeiramente foram constituidos dois grupos focais, com cerca de 10 alunos cada, um com alunos dos primeiros semestres (primeiro e segundo semestres) e outro com alunos em final de curso (oitavo, nono e decimo semestres) da graduacao em Administracao da mesma universidade dos pesquisadores. Esses discentes foram estimulados a discutir temas concernentes a percepcao sobre as disciplinas de gestao de pessoas ofertadas no curso de Administracao, ao setor de GP presente nas organizacoes em que ja trabalharam e ao modo como vislumbram o profissional que atua na area. Os resultados dos grupos focais permitiram que fossem capturados elementos suficientes para a elaboracao de um questionario sobre as representacoes sociais referentes a area de gestao de pessoas, que foi, posteriormente, aplicado em academicos do curso de Administracao desta e de outras universidades; 2) na segunda etapa, foi elaborado e aplicado o questionario com 419 academicos de tres universidades federais. Na elaboracao do instrumento, levou-se em conta tanto a literatura sobre o tema quanto elementos surgidos nos grupos focais. A aplicacao procurou abranger o maior numero de alunos em diferentes semestres dessas universidades; encerrada a coleta, realizouse a analise estatistica dos questionarios para validacao do instrumento de coleta de dados e identificacao das representacoes sociais desses academicos; 3) na terceira fase, foram realizadas entrevistas com professores universitarios de diversas areas de concentracao da Administracao da universidade em que se constituiram os grupos focais, para verificar a opiniao deles sobre as representacoes dos alunos. A estrutura dos roteiros de entrevista baseou-se no roteiro feito para os grupos focais. Tanto para os grupos focais quanto nas entrevistas com os docentes, considerou-se a necessidade de obtencao do maximo de informacoes a respeito das percepcoes dos alunos sobre a area de gestao de pessoas, para alicercar a analise dos resultados da etapa quantitativa. Ressalte-se que, neste artigo, sao apresentados os resultados da pesquisa quantitativa referente a segunda etapa da pesquisa, na qual se recorreu a tecnica de analise fatorial dos dados, que resultou em oito fatores.

    O presente artigo divide-se em seis partes: a primeira discute aspectos da revisao da literatura, abordando, principalmente, as mudancas por que passou a area de Gestao de Pessoas e, consequentemente, o curso e o profissional; a segunda apresenta os procedimentos metodologicos; a terceira, o cenario da investigacao, seguido da caracterizacao da amostra; em seguida apresentam-se a analise dos dados e os resultados. Por fim, a sexta parte do artigo contempla as consideracoes finais.

  2. REPRESENTACOES SOCIAIS

    A psicologia social tem na teoria das representacoes sociais seu referencial central e, em Serge Moscovici, seu maior representante. O referido autor iniciou seus trabalhos por volta dos anos 1950, influenciado pelos trabalhos de Durkheim. Ha, porem, um ponto de divergencia entre os dois: Moscovici fez questao de dar a esse estudo a denominacao de representacao social, e nao representacao coletiva, como Durkheim, porque, no seu entender, as representacoes coletivas se prendiam a sociedades primitivas, em que a dinamica social era muito menos intensa que a existente no contexto das sociedades complexas atuais (CAVEDON; FERRAZ, 2005). Segundo Moscovici (1978), Durkheim nao aborda frontalmente nem explica a pluralidade de modos de organizacao do pensamento, mesmo que sejam todos sociais. No entanto, nao se pode ignorar a importancia de autores das Ciencias Sociais ou da Antropologia para o avanco do conhecimento em representacoes sociais.

    As representacoes sociais sao entidades quase tangiveis. Elas circulam, cruzam-se e se cristalizam incessantemente por meio de uma fala, um gesto, um encontro. Sabe-se que as representacoes sociais correspondem, por um lado, a substancia simbolica que entra na elaboracao e, por outro, a pratica que produz a dita substancia (MOSCOVICI, 1978). O autor salienta, ainda, que embora a realidade das representacoes sociais seja de facil apreensao, nao o e o seu conceito.

    A fim de capturar a nocao de representacao social, Moscovici (1978) salienta dois procedimentos: 1) precisar sua natureza de processo psiquico, capaz de tornar familiar, situar e tornar presente em nosso universo interior o que se encontra a certa distancia de nos; 2) constatar que, para penetrar no universo de um individuo ou de um grupo, o objeto entra em uma serie de relacionamentos e de articulacoes com outros objetos que ai ja se encontram, dos quais toma as propriedades e aos quais acrescenta as dele. Pode-se perceber, a partir dessas colocacoes, que o autor considera as representacoes sociais nao apenas como conceito, mas tambem como um processo dinamico e sempre em construcao.

    Para Spink (2003), representacoes sociais sao conhecimentos praticos constituidos a partir das relacoes sociais, bem como o quadro de referencia que permite dar sentido as representacoes e as ferramentas que instrumentalizam a comunicacao. Sendo conhecimentos socialmente construidos, suas raizes transcendem o momento presente e sao, inevitavelmente, a expressao de uma ordem social constituida, mas tambem resquicios de saberes e crencas passadas que ficaram depositadas no imaginario social.

    Para Cavedon (2005), a representacao social permite um descortinamento do simbolico de um dado contexto cultural, de modo que determinadas coisas--materiais ou imateriais podem adquirir significados diferentes, de acordo com a cultura social do grupo que os significa. Jovchelovitch (2004:22), ao falar de representacoes sociais, ressalta um deslocamento simbolico:

    O trabalho comunicativo da representacao produz simbolos cuja forca reside em sua capacidade de dar sentido, de significar. A representacao trabalha colocando algo no lugar de algo, seu trabalho e um trabalho de deslocamento simbolico. Este deslocamento de objetos e pessoas, que da a cada um e a todos uma nova configuracao, e a essencia da ordem simbolica. As representacoes sociais sao tanto a expressao de permanencias culturais como o locus da...

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