Responsabilidade socioambiental corporativa e indicador de maturidade mediando desempenho estratégico para as organizações

AutorGiovanni de Araujo Gomes, Carlos Alberto Gonçalves, Daniel Jardim Pardini, Reynaldo Maia Muniz
CargoMestrado em Administração na Universidade FUMEC. - Doutorado em Administração pela Universidade de São Paulo. - Doutorado em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais - Doutorado em Ciência Política e Administração Pública pela Universidad Complutense de Madrid.
Páginas244-269

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Giovanni de Araujo Gomes 1

Carlos Alberto Gonçalves 2

Daniel Jardim Pardini 3

Reynaldo Maia Muniz 4

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1 Introdução

As atuações das firmas nos ambientes de negócio no estágio atual das relações comerciais têm apresentado importantes desafios para as organizações. A busca por maiores competitividade e produtividade requer consideração às carências e aspirações dos grupos que interferem em sua sustentabilidade (stakeholdersou partes interessadas) e lhes mostra a necessidade de assumir posição gerencial mais aberta, diferente dos primórdios da administração, quando o processo produtivo, ou a capacidade de produção com menores custos e maior qualidade, era o centro das tomadas de decisão. Hoje, a preocupação crescente com os impactos sociais e ambientais de suas ações se faz presente e a Responsabilidade Socioambiental, antes calcada no altruísmo e na caridade, assumiu uma concepção mais abrangente, estratégica.

Para isso, modelos teóricos e práticos de avaliação de ações Socioambientais corporativas foram analisados no decorrer deste trabalho, entre eles, os Dow Jones Sustainability IndexesNova Iorque, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da Bovespa Holding, os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, do Instituto Ethos, e a representação de Hopkins (1997).

A pesquisa se propõe aos seguintes objetivos: (i) apresentar um modelo teórico e mensurar com qual intensidade o Desenvolvimento em Responsabilidade Socioambiental Corporativa – RSAC é explicado por ações nos âmbitos de Responsabilidade AmbientalResponsabilidade Social; (ii) mensurar com qual intensidade a RSAC explica o desempenho plural formado pelos construtosmelhoria da Reputação da empresa, aumento da Satisfação dos stakeholderse na minimização Riscos de externalidades (negativas); (iii) propor e mensurar uma equação para avaliar o grau de maturidade de RSAC em setores da economia.

Os resultados buscaram identificar a maturidade em RSAC do setor industrial da construção civil de Minas Gerais demonstrando se os investimentos necessários ou voluntários se traduzem em benefícios para a firma ou se, na percepção dos gestores, traduzem apenas de um centro de custos.

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2 Proposições Teóricas e Práticas Organizacionais

A Responsabilidade Social Corporativa desenvolveuse, segundo os autores Bernardo et al. (2005), Xavier e Souza (200?), Ashley (2002) e Ackerman (1985), a partir do início do Século XX, sendo primeiramente abordados temas de cunho social e agregando, posteriormente, o fator meio ambiente. Esse processo ocorreu gradativamente, dadas as pressões advindas de sindicatos, sociedade e governo, que, aos poucos, obrigaram as organizações a se adequarem, para garantirem um mínimo de sustentabilidade empresarial.

O relatório da Comissão das Comunidades Europeias (2001) ressalta que a responsabilidade social das empresas é, essencialmente, um conceito, segundo o qual elas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e um ambiente mais limpo. Essa responsabilidade manifestase em relação aos trabalhadores e, mais genericamente, em relação a todas as partes interessadas afetadas pela empresa e que, por seu turno, podem influenciar os seus resultados.

Alguns autores, como Ashley (2002) e Carrol (1991), comentam que a filantropia está mais presente, no mundo empresarial, em razão do aumento da conscientização do consumidor. Maia (2005) acredita que a ênfase em responsabilidade social, além de oferecer bons resultados operacionais, traz fôlego financeiro, melhores produtos e serviços, preços competitivos e contribui para a melhoria da qualidade de vida, desta e das próximas gerações. Entretanto, Melo Neto e Froes (2001) e Grajew (2002) alegam que filantropia não é responsabilidade social. Tratase apenas de uma ação voluntária, puramente assistencialista, de eficácia limitada, que coloca seus beneficiários em posição de meros receptores de recursos e doações. Os autores propõem que sejam realizados projetos de controle, para avaliar os recursos que estão sendo disponibilizados, por quais motivos e os resultados obtidos.

Quanto às ações ambientais, no início do período industrial, a concepção dominante era a de que todos os recursos naturais fossem renováveis e abundantes, os níveis de poluição e seus impactos sobre a qualidade do ar, da água e do solo permaneciam desconhecidos e a única preocupação consistia em maximizar os processos produtivos, base das teorias primárias da administração. Em 1992, Goldenberg relatou que, a partir do final dos anos 40, esses impactos ambientais começam a ser percebidos no meio científico e, no início dos anos 60, adquirem dimensão social e política.

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Desde então, as organizações passam a sofrer regulamentações e são condicionadas a dar atenção a suas ações e efeitos ambientais. Em 1972, o Clube de Roma publicou o Relatório Meadows, apontando os limites do crescimento econômico, face ao reconhecimento da finitude dos recursos naturais. Nesse mesmo período, a problemática do meio ambiente emergiu como fenômeno politicamente significativo, por meio da Conferência de Estocolmo, que, em 1979, criou o conceito de desenvolvimento sustentável – ou seja, compatibilidade de crescimento econômico com a preservação do meio ambiente, desde então seriamente considerado por agentes de organizações públicas, privadas, ONGs, movimentos afins e meios acadêmicos.

Em meados dos anos 90, postulouse uma nova fase histórica, com a integração da gestão ambiental em empresas industriais, quando algumas características se destacariam: (a) a introdução progressiva de uma perspectiva de sustentabilidade; (b) a proliferação dos engajamentos coletivos – como os códigos de conduta, os convênios e os acordos voluntários; (c) a maior interação entre as esferas pública e privada – com a participação dessas instituições na formulação de objetivos e na escolha de instrumentos de política ambiental; (d) o maior envolvimento da sociedade civil organizada – como, por exemplo, através das Organizações Não Governamentais (CORAZA, 2003).

Além disso, Porter e Linde (1995b) ressaltam que padrões ambientais adequadamente desenhados podem estimular inovações, que, por sua vez, podem baixar o custo total de um produto ou lhe agregar valor. Tais inovações permitem às companhias fazerem uso mais adequado de seus meios de produção – desde a matériaprima até a energia, compensando, dessa forma, o custo da melhoria ambiental. No final das contas, essa melhoria no uso dos meios de produção torna a companhia mais competitiva e não menos acabando, assim, com o impasse.

Um dos principais desafios corporativos da atualidade é com relação à gestão sustentável, que envolve aspectos econômicos, sociais e ambientais, ou seja, gerar lucros para proprietários e acionistas, promover a equidade de distribuição de renda e consideração social, e responsabilidade frente às gerações futuras. A combinação dos três elementos, em tese, contribui para a continuidade da empresa ao longo do tempo, ou seja, sustentabilidade (CORAL, 2002).

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2. 1 Indicadores, Normas e Modelos de RSAC

O crescente envolvimento das organizações nas causas Socioambientais e a consciência da necessidade de regulamentação interna, com relação às ações entre empresa e funcionário, empresa e fornecedor, entre outros, são observados, inclusive, no mercado financeiro, como fatores importantes de sustentabilidade. A partir de 2005, a Bovespa Holding passou a calcular e divulgar o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que se transformou em referencial do comércio brasileiro. Criado em conjunto com outras instituições, esse indicador, segundo a organização paulista, tem como objetivo refletir o retorno de uma carteira composta por ações de companhias com reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade, além de atuar como promotor das boas práticas no meio empresarial brasileiro.

A bolsa de valores de Nova Iorque criou o referencial Dow Jones Sustainability Indexes (DJSI) com a finalidade de demonstrar a valorização das ações de organizações engajadas com a responsabilidade social corporativa. Lançado em 1999, numa parceria entre a Dow Jones Indexes e a Sustainable Asset Management (SAM), gestora de recursos suíça, especializada em instituições envolvidas com a Responsabilidade Socioambiental, o DJSI acompanha o desempenho financeiro das empresas líderes da bolsa de Nova Iorque que comungam com a filosofia do desenvolvimento sustentável e da responsabilidade social.

Organizados em sete temas – valores, transparência e governança; público interno; consumidores e clientes; comunidade; governo; sociedade e meio ambiente, os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial (IERSE) visam gerar relatórios de sustentabilidade, ou seja, medir, divulgar e prestar contas aos stakeholders, internos e externos, do desempenho organizacional para o desenvolvimento sustentável (GRI, 2006).

A representação teórica analisada foi desenvolvida por Michael Hopkins, em 1997, em três níveis: (I) Princípios de Responsabilidade Social; (II) Processos de Capacidade de Resposta Social e (III) Resultados/Ações de Responsabilidade Social. Sua premissa básica consiste numa prática usual e diária de ações de Responsabilidade Social no ambiente interno das corporações, conscientes de que o seu papel na sociedade inclui o exercício do envolvimento nas dimensões: econômica, legal, ética...

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