Características Resilientes do Empreendedor Associadas ao Insucesso Empresarial

AutorItalo Fernando Minello - Isabel Bohrer Scherer
CargoProfessor Adjunto do Departamento de Ciências Administrativas. Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS. Brasil - Servidora Técnica Administrativa da UFSM - Diretora da Divisão de Contabilidade e Coordenação Contábil. Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS. Brasil
Páginas228-245
Artigo recebido em: 21/02/2013
Aceito em: 04/10/2013
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
CARACTERÍSTICAS RESILIENTES DO EMPREENDEDOR
ASSOCIADAS AO INSUCESSO EMPRESARIAL
The Resilient Characteristics of Entrepreneur Associated with
the Business Failure
Italo Fernando Minello
Professor Adjunto do Departamento de Ciências Administrativas. Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS. Brasil.
E-mail: ítalo.minello@uol.com.br
Isabel Bohrer Scherer
Servidora Técnica Administrativa da UFSM - Diretora da Divisão de Contabilidade e Coordenação Contábil. Universidade Federal de
Santa Maria. Santa Maria, RS. Brasil. E-mail: isa.ufsm@yahoo.com.br
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2014v16n38p228
Resumo
Este estudo tem como objetivo analisar as características
resilientes do empreendedor no intuito de compreender
se e como o seu comportamento pode ser associado
à descontinuidade do negócio. Caracteriza-se como
um estudo qualitativo, exploratório e utilizou a técnica
de análise de conteúdo, associada à aplicação da
Escala de Funcionamento Defensivo, para analisar o
comportamento de empreendedores antes do insucesso
empresarial. Foram entrevistados 13 empreendedores
paulistas que vivenciaram o insucesso empresarial.
Como principais resultados, evidencia-se a onipotência
como estilo apresentado por 12 dos 13 entrevistados;
a afiliação, constatada em nove dos 13 entrevistados;
e a atuação, em sete dos 13 entrevistados antes do
insucesso empresarial. Considerando que a onipotência
foi a característica comportamental mais evidenciada,
pode-se entender que esse comportamento pode
demonstrar a arrogância do indivíduo diante de
outras pessoas, o que pode influenciar nas decisões
do empreendedor, desmotivação de funcionários e
insatisfação de clientes, acarretando assim, o insucesso
empresarial.
Palavras-chave: Empreendedor. Comportamento
Resiliente. Insucesso empresarial.
ABSTRACT
This study aims to analyze the resilient characteristics of
entrepreneurs in order to understand if and how their
behavior can be associated with business failure. This
is a qualitative and exploratory study and it was used
the technique of content analysis, coupled with the
application of Defensive Functioning Scale, to analyze
the entrepreneurs behavior before business failure.
We interviewed 13 entrepreneurs from São Paulo
who experienced business failure. As main results, it is
evident the omnipotence style presented in 12 of the
13 respondents; affiliation, confirmed in 9 of the 13
respondents, and actuation, in 7 of the 13 respondents
before business failure. Considering that omnipotence
was the behavioral trait more evident, this behavior can
demonstrate the arrogance of the individual against
the others, which may influence the decisions of the
entrepreneur, employee motivation and customer
dissatisfaction, thereby resulting, business failure.
Keywor ds: Entrepreneurship. Entrepreneurs. Business
Failure.
1 INTRODUÇÃO
A Escala de Funcionamento Defensivo (EFD)
faz parte do manual DSM-IV-TR (APA, 2002) que
disponibiliza, dentre outros instrumentos e diretrizes,
escalas desenvolvidas com a finalidade de avaliar o
grau de funcionamento do indivíduo e seus estilos de
enfrentamento diante da adversidade. No entanto, ele
apenas pode ser aplicado por um profissional da área
da saúde habilitado e capacitado para sua utilização
(APA, 2002). Em função disso, para validar sua aplica-
ção neste trabalho, foi convidado o médico psiquiatra
João Francisco Pollo Gaspary, devidamente habilitado
para a aplicação da Escala de Funcionamento Defensi-
vo. Nesse sentido, agradecemos a ele pela colaboração
nesse estudo ao aplicar a mencionada escala.
A disposição para empreender e o dinamismo do
ambiente empresarial podem resultar em empreendi-
mentos bem-sucedidos, assim como em um grande
número de negócios malsucedidos. No entanto, as
perdas com os insucessos afetam não somente aspectos
econômicos como também acarretam perdas pessoais,
requerendo atenção pelo dano que podem causar.
(MRTVI et al., 2012)
A descontinuidade de um empreendimento é um
evento que muda o curso de vida e cria significativo
estresse para o empreendedor (SINGH; CORNER;
PAVLOVICH, 2007; MINELLO, 2010). Segundo
Kübler-Ross (1976), nos momentos difíceis da vida o
ser humano pode reagir de maneiras distintas, depen-
dendo de sua capacidade de enfrentar a adversidade:
ou cai no negativismo ou procura atribuir a culpa a
alguém ou opta pela recuperação e por continuar a
viver, amar e aprender. Na visão da autora é uma
questão de escolha relacionada ao grau de convicção
do indivíduo em relação a suas crenças e valores, e
aos objetivos e metas que ele estabelece para sua vida.
Enriquez (2000, apud JOB, 2003) parece corroborar a
ideia evidenciando que em um universo cujo indivíduo
é colocado no centro, tanto o sucesso como o fracasso
não serão atribuídos à estrutura da organização ou do
negócio, mas à atitude daquele que necessita constan-
temente superar os desafios e adversidades que tem
que enfrentar.
Evidencia-se que a maneira como o indivíduo
percebe a situação a sua volta, evitando ou lidando
com a adversidade como uma ameaça ou como uma
oportunidade de desenvolvimento, parece refletir a ad-
ministração de sua própria subjetividade, caracterizan-
do seu comportamento diante de situações adversas.
Para Welpe et al. (2011), as emoções interferem na
avaliação de oportunidades e influenciam a percepção
de risco e preferências.
No momento em que o indivíduo apresenta
capacidade de autocontrole (ROTTER; 1989; FRI-
BORG et al., 2006; KUMPFER, 1999; WERNER;
SMITH, 1992), de autoestima e crença, de autoeficácia
(RUTTER, 1987; BANDURA, 1997), de perseverança
(SCHWARTZ, 2000; WERNER, 2001), de identificação
da adversidade e de suas repercussões (GROTBERG,
2005; COUTU, 2002), de estabelecer estratégias cogni-
tivas e comportamentais para lidar com a adversidade
(FOLKMAN; TEDLIE; MOSKOWITZ, 2004; LAZARUS;
FOLKMAN, 1984) e de aprendizagem diante desse
processo (KOBASA, 1979; CONNOR; DAVIDSON,
2003), ele pode ser considerado resiliente.
Resiliência é frequentemente referida por pro-
cessos que explicam a superação de crises e adversi-
dades em indivíduos, grupos e organizações (YUNES;
SZYMANSKI, 2001). Para Grotberg (2005), resiliência
consiste na capacidade humana para enfrentar e su-
perar experiências de adversidade, saindo fortalecido
ou transformado das mesmas. Esses processos estão
atrelados à avaliação cognitiva do indivíduo que per-
cebe a situação em que está inserido e se comporta de
acordo com seus padrões cognitivos, crenças e valores,
dentre outros aspectos.
As conclusões do estudo de Lazarus e Folkman
(1994) sobre os processos de avaliação cognitiva do
indivíduo parecem corroborar essa ideia, no momento
em que evidenciam a relevância da percepção do ser
humano e de sua interação com as diferentes experi-
ências de vida pelas quais vivencia, como no caso do
insucesso empresarial. Os autores concluem que:
[...] a percepção do indivíduo está intimamente
ligada ao processo de avaliação cognitiva, assim
como a situação também influencia este pro-
cesso; o estresse é mais influenciado pela per-
cepção que o indivíduo tem da situação do que
pela própria situação em si; a vulnerabilidade
também se refere à suscetibilidade de reagir
em situações de estresse e moldada por fatores
pessoais, incluindo compromissos, crenças e
recursos; as pessoas mudam com o tempo e com
suas experiências, dessa forma, a percepção e o
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Revista de Ciências da Administração • v. 16, n. 38, p. 228-245, abr. 2014
Características Resilientes do Empreendedor Associadas ao Insucesso Empresarial

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