A study on the use of andragogy in post-graduation education in administration/Um estudo sobre a utilizacao de andragogia no ensino de pos-graduacao em administracao/Un estudio sobre la utilizacion de andragogia en la ensenanza de postgrado en administracion.

AutorShinoda, Ana Carolina Messias
CargoArtigo--Ensino de Administracao
  1. INTRODUCAO

    A andragogia e uma abordagem de ensino com foco no publico adulto, que vem ganhando significativa importancia nos ultimos anos, a partir do expressivo crescimento do numero de adultos que estao retornando as salas de aula. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilios (PNAD), em 2008, 6,3 milhoes de pessoas frequentavam o ensino superior de graduacao e pos-graduacao no Brasil, o que ja representava 11,3% do total de estudantes (IBGE, 2008). Alem disso, especificamente na posgraduacao stricto sensu, em 2009, havia 161 mil estudantes, dos quais 5,5 mil estavam inscritos no curso de Administracao e Ciencias Contabeis (CAPES, 2010a). De acordo com a Coordenacao de Aperfeicoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES) (2010a), o numero de alunos na posgraduacao stricto sensu em Administracao e Ciencias Contabeis cresceu 20,8% entre os anos de 2005 e 2009. Dada a expressividade desse publico, e necessario compreender suas peculiaridades e adequar os metodos de ensino a ele.

    A necessidade de uma abordagem com foco especifico no adulto advem da premissa de que adultos e criancas aprendem de formas diferentes. Alguns pesquisadores propuseram teorias a respeito dessas diferencas, que devem ser levadas em conta para facilitar o aprendizado (LINDEMAN, 1926; GIBB, 1960; KNOWLES; HOLTON III; SWANSON, 2009). De forma resumida, podem-se destacar as seguintes particularidades: os adultos precisam entender por que devem aprender algo e qual o ganho que terao nesse processo, tem de utilizar a experiencia adquirida ao longo da vida para construir o aprendizado, tem de se autodirigir (no sentido de ter autonomia) e usar situacoes reais da vida; alem disso, sua motivacao e mais interna do que externa (autoestima e desenvolvimento, e nao notas, por exemplo).

    Ha bastante discussao a respeito da validade de tais principios, especialmente no que diz respeito ao que supostamente diferencia a educacao de adultos da educacao de criancas, pois, a principio, criancas tambem precisariam entender por que estao aprendendo determinado conceito, tambem teriam experiencias validas para construir o seu aprendizado. De acordo com Davenport e Davenport (1985), a andragogia foi contestada por inumeros pesquisadores (HOULE, 1972; LONDON, 1973; MCKENZIE, 1977; LEBEL, 1978; ELIAS, 1979; CARLSON, 1979; COURTENEY e STEVENSON, 1983; RACHAL, 1983).

    No entanto, o foco do presente estudo nao e averiguar a validade da andragogia ou de seus principios. Parte-se da constatacao de que adultos tem necessidades diferenciadas, que devem ser levadas em consideracao pelas escolas para definir a melhor abordagem de ensino. Assim, procura-se entender como os alunos de pos-graduacao em Administracao percebem a utilizacao da andragogia em seu curso.

    O foco em administracao advem do interesse de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino nessa area especifica. Por outro lado, a pesquisa concentrou-se nos cursos mais bem avaliados porque esses cursos devem estar entre os mais avancados na qualidade da educacao. Dessa forma, justifica-se a replicacao do estudo no contexto brasileiro do ensino de Administracao.

    Por conseguinte, este estudo, aplicado aos alunos dos cursos de pos-graduacao stricto sensu em Administracao mais bem avaliados no estado de Sao Paulo, pretende identificar o modo como percebem a utilizacao da andragogia.

    Buscou-se tambem como objetivos secundarios verificar se genero, idade, curso (mestrado/ doutorado), escola (FEA/ EAESP) e atuacao como professor influenciam a percepcao de utilizacao de andragogia.

    As escolas do estado de Sao Paulo nas quais se aplicou a pesquisa foram a Faculdade de Economia, Administracao e Contabilidade da Universidade de Sao Paulo (FEA-USP) e a Escola de Administracao de Empresas da Fundacao Getulio Vargas (EAESP-FGV).

  2. REVISAO BIBLIOGRAFICA

    A revisao bibliografica aborda, no primeiro momento o contexto historico no qual evoluiram a conceituacao da andragogia e seus principios; em seguida, apresenta a mensuracao do processo de aprendizagem da andragogia.

    2.1 A evolucao do conceito e os principios da andragogia

    O presente estudo aborda o ensino para adultos e, para melhor esclarecer de onde surgiu e como se desenvolveu a andragogia, devemos partir do ensino convencional, a pedagogia. Para Knowles, Holton III e Swanson (2009), a pedagogia ou aprendizagem direcionada e um metodo no qual o aluno e dependente do professor e as leituras e exercicios designados sao de total responsabilidade do facilitador (DEAQUINO, 2007; KNOWLES; HOLTON III; SWANSON, 2009; CONNER, 2010). Segundo os autores, os alunos sao motivados por fatores extrinsecos, como notas, aprovacao, competicao, dentre outros. Forrest III e Peterson (2006) e Knowles, Holton III e Swanson (2009) complementam que a experiencia do aluno nao vale muito no ambiente pedagogico, pois se acredita que uma crianca possui pouca ou nenhuma experiencia relevante.

    Ja o termo andragogia, que vem do grego andra (adulto) e agogus (lider de), tem como significado "a arte de liderar adultos". O termo se diferencia de pedagogia, que, advindo de paid (crianca) e agogus (lider de), significa "a arte de liderar criancas" (DEAQUINO, 2007).

    E importante mencionar que pedagogia e andragogia nao sao opostos, mas complementares. DeAquino (2007) aponta que a pedagogia e a andragogia se encontram nas extremidades opostas de um continuo, no qual criancas tem maior afinidade com a abordagem pedagogica e adultos mais familiaridade com a abordagem andragogica. Knowles, Holton III e Swanson (2009) expecficam que algumas vezes a pedagogia e necessaria para o ensino de adultos, por diversos motivos: quando os adultos nao tem familiaridade com o tema ou quando estao ha muito tempo longe dos estudos. Knowles, Holton III e Swanson (2009) assinalam tambem que muitos adultos ainda nao tem a capacidade de ser autodirecionados e questionadores e, portanto, necessitam de uma abordagem pedagogica.

    Historicamente, o ensino para adultos se desenvolveu como uma teoria dominante a partir da segunda metade do seculo XX (HOLTON III; WILSON; BATES, 2009; MERRIAM; CAFFARELLA, 1999). Em uma revisao sobre o surgimento da andragogia, o Nottinghan Andragogy Group (1983, apud DAVENPORT; DAVENPORT, 1985) descreve que foi Alexander Kapp, um professor alemao de gramatica, quem cunhou o termo andragogia em 1833, ao descrever alguns elementos da teoria filosofica de Platao.

    Essa especie de ensino surge a partir da premissa de que adultos nao aprendem como aprendem as criancas, dado que ja possuem certa carga de experiencia e que procuram preencher as lacunas de sua experiencia vivencial (FORREST III; PETERSON, 2006). Para McGregor (1960), os adultos buscam a autoorientacao, sao criativos, tem responsabilidade sobre si e suas atividades e estabelecem seu conhecimento com base em suas educacionais.

    Lindeman (1926) acentua a importancia do ensino para adultos como uma forma de permitir a autorrealizacao dos homens, que podem entao expressar suas potencialidades em uma sociedade democratica. Essa argumentacao e reforcada por Zmeyov (1998), que explicita que a perspectiva andragogica confere liberdade ao individuo no processo de aprendizagem, partindo das habilidades humanas para um aproveitamento mais completo do potencial humano.

    Knowles, Holton III e Swanson (2009) e Jarvis (1985, apud DEAQUINO, 2007) argumentam que andragogia e uma aprendizagem autodirecionada, ou seja, o professor nao e o detentor do conhecimento, mas um facilitador que deve auxiliar na educacao centrada nas necessidades e desejos dos alunos, e que o aluno e responsavel por sua educacao e evolucao profissional, e pelas decisoes que toma em sua vida, alem de ser motivado por fatores internos. Houle (1972) assinala que o ensino para adultos e uma cooperacao entre facilitador e aprendiz e entre aprendizes. Kolb (1984) diz que a aprendizagem de adultos e muito mais efetiva quando apresentada de forma vivencial e nao de forma passiva; o aluno precisa entrar em contato com o que esta sendo apresentado a ele. Forrest III e P eterson (2006) dizem que o aluno adulto tem a necessidade de aplicar prontamente aquilo que foi aprendido. Essas perspectivas podem ser sintetizadas na definicao de andragogia proposta por Knowles (1980:43; "a arte e ciencia de ajudar os adultos a aprenderem".

    Uma vez contextualizadas as visoes sobre andragogia, e oportuno compreender seus principios.

    Lindeman (1926) foi o precursor dos principios e destacou cinco pressupostos-chave para a educacao de adultos: (1) adultos sao motivados a aprender na medida em que experimentam que suas necessidades e interesses sao satisfeitos; (2) a orientacao...

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