Sobre tecnologia e estética do racismo

AutorAndré Fabiano Voigt
CargoUniversidade Regional de Blumenau - FURB
Páginas177-179
SOBRE A TECNOLOGIA E A ESTÉTICA DO RACISMO
André Fabiano Voigt1
Universidade Regional de Blumenau - FURB
FLORES, MARIA BERNARDETE R AMOS. Tecnologia e estética do racismo: ci-
ência e arte na política da beleza. Chapecó: Argos, 2007.
Em uma época ainda marcada pelos determinismos econômicos como prin-
cipais explicadores da realidade política e social contemporânea, tratar do papel
desempenhado pela ciência e pela arte nos dias atuais podem ser entendidos
como abordagens secundárias, ou por vezes até pouco importantes, diante das
grandes interpretações macroeconômicas, denominadas sob o termo globaliza-
ção. Os conceitos de infraestrutura e superestrutura também direcionam, so-
bremaneira, as abordagens históricas sobre a atualidade. E é esta diferenciação
piramidal, pensada pela economia política liberal do século XVIII e incorporada
aos estudos marxistas durante o século XIX, que acaba por atribuir aos estudos
que trabalham aspectos da produção científica e artística a categoria de estudos
pouco relevantes.
No entanto, as interpretações oriundas da produção científica e artística –
sempre tratadas como meros reflexos de uma determinada condição macroeco-
nômica – são a chave para a compreensão histórica de uma série de questões
que dizem respeito à permanência do racismo como prática presente na parti-
lha do mundo sensível e na hierarquização do domínio político da contemporanei-
dade. Falar de racismo pode trazer sobressaltos em uma época que procura apa-
gá-lo de todas as suas práticas. Como seria possível haver racismo em um tempo
que se caracteriza pela derrota dos fascismos e pela vitória da democracia? De
qualquer maneira, o racismo de que se fala está na feliz expressão de Michel
Foucault: racismo de Estado. A delimitação de políticas de governo das popula-
ções, fundamentadas em uma taxonomia dos povos conforme o seu grau de civi-
lização, estabelecendo os critérios sobre quem deve viver e quem deve morrer,
de modo a purificar a raça.2
O livro de Maria Bernardete Ramos Flores, Tecnologia e Estética do
Racismo, trabalha estas questões em sua repercussão na produção intelectual e
artística brasileiras, a partir do início do século XX. A purificação da raça é o

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