O tempo à luz da fenomenologia: um estudo sob a ótica de universitários

AutorDouglas Thadeu Crispim Nascimento, Diego Luiz Teixeira Boava, Fernanda Maria Felício Macedo, Jussara Jéssica Pereira
CargoAssistente em pesquisa no Laboratório de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo na UFOP. Especialista em Gestão Estratégica de Pessoas. Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Ouro Preto/Professor Associado na Universidade Federal de Ouro Preto. Doutor em Administração pela Universidade Federal de Lavras. Mestre em Administração...
Páginas1-19
R C A
Consumo sustentável através das lentes das práticas: proposta de framework sobre
domínios de práticas de consumo suscetíveis a intervenções para sustentabilidade
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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RESUMO
O tempo consiste em um elemento onipresente na vida hu-
mana. Sabe-se de sua existência, sente-se o seu movimento,
todavia não se tem o hábito de reetir sobre tal fenômeno.
Assim, busca-se observar como um graduando em adminis-
tração percebe o tempo, o qual, entre suas diversas vertentes,
permite transformar a realidade organizacional e ambiental.
Para isso, são estabelecidos paralelos que podem possibilitar
um melhor entendimento sobre fenômeno temporal em
relação ao administrador, considerando, para tal, bases de dis-
cussões losócas. Desse modo, foram realizadas entrevistas
com graduandos, visando desvelar sua relação com o tempo, a
partir do método fenomenológico. O resultado demonstra que
a percepção do aluno assume que a essência da administração
é o tempo, sem o qual a atividade se torna inviável, não corres-
pondendo à dinâmica real do mercado. O proposto trabalho
fomenta, portanto, uma perspectiva ainda pouco galgada, mas
que oferece imenso campo de averiguação.
Palavras-Chave: Tempo, Administração, Fenomenologia.
ABSTRACT
Time is a ubiquitous element in human life. One knows its
existence, one feels its movement, nevertheless one does not
have the habit of reecting on this phenomenon. Thus, it is
sought to observe how an undergraduate in administration
perceives the time, which, among its various aspects, allows
transforming the organizational and environmental reality. For
this, parallel are established that can allow a better understan-
ding of temporal phenomenon in relation to the administrator,
considering, for that, bases of philosophical discussions. Thus,
interviews were conducted with undergraduates, aiming to
unveil their relation with time, from the phenomenological
method. The result shows that the student’s perception takes
on the essence of the administration is the time, without which
the activity becomes unfeasible, not corresponding to the real
market dynamics. The proposed work therefore promotes a
perspective which is still not very reached, but which oers
an immense inquiry eld.
Key-words: Time. Administration. Phenomenology.
O Tempo à Luz da Fenomenologia:
Um Estudo sob a Ótica de Universitários
Time in the Light of Phenomenology:
A Study From the Perspective of University Students
Douglas Thadeu Crispim Nascimento
Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP
E-mail: ddthadeu@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0009-0001-6418-9311
Diego Luiz Teixeira Boava
Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP
E-mail: profboava@yahoo.com.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2112-6377
Fernanda Maria Felício Macedo
Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP
E-mail: profamacedo@yahoo.com.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2815-6771
Jussara Jéssica Pereira
Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP
E-mail: jussarajpereira@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3202-8414
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8077.2023.e65807
Recebido: 20/06/2019
Aceito: 02/05/2023
Douglas Thadeu Crispim Nascimento • Diego Luiz Teixeira Boava • Fernanda Maria Felício Macedo • Jussara Jéssica Pereira
Revista de Ciências da Administração • v. 25, n. 65, p. 1-19, jan.-abr. 2023
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R C A
1 INTRODUÇÃO
Tempo é a medida da vida humana, o agente do
inevitável, que constrói a visão do que se foi e do que
ainda virá, quando está naquele que permanece. Para
os campos de estudo, tem sido um imenso desao
compreender o tempo, sobretudo para a losoa, por
ser um tema que é um de seus objetos de pesquisa.
Na administração, pela ótica funcionalista, tem-
po representa unidade relativa ao alcance de metas,
fator estratégico controlável, de forma a gerar eci-
ência e resultados. Nos dizeres de Lana et al. (2018,
p. 108), “a relevância do tempo em pesquisas de
administração continua a ser uma questão em aberto,
uma vez que sua discussão caminha a passos lentos”.
Uma análise transcendental torna o tempo um
bem de magnitude, até certo ponto, indescritível. San-
to Agostinho (397-8, Livro XI, XIV. 17, L.10) reete:
“Que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu
sei; mas se quiser explicar a quem indaga, já não sei”.
Por meio da incerteza, pode-se encontrar ashes da
consciência desapegada de métodos; se nada se pode
propor como verdade ou mentira, tem-se a visão do
fenômeno.
Dessa forma, a administração e o tempo for-
malizam uma parceria transcendente, pois um está
contido no outro, um atenua a limitação do huma-
no, a racionalidade limitada, pelo tempo de vida,
das escolhas; para o ser, aquele que compreende as
incertezas e as transforma em ação, entendendo a
incapacidade de controlar todas as variáveis, mas que
busca, enquanto viver, sentir a vivência em plenitude.
Diante disso, o problema que orienta esta pesquisa
surge da relação entre o tempo e o estudante de ad-
ministração da Universidade Federal de Ouro Preto.
É por meio da experiência com a vivência acadêmica
que se espera averiguar como o tempo para o futuro
administrador é um fator relevante para a compre-
ensão de suas potencialidades, do seu vir a ser. A
opção por estudar o tempo, na ótica do graduando em
administração, justica-se pelo caráter de transição
dessa vivência, pois ele ainda não é, mas se prepara
para ser um administrador. Nessa etapa de formação,
o administrador encontra-se mais reexivo, pois está
em contato com o conhecimento formal. Quando
se gradua e inicia o exercício da prossão de fato,
pode-se ocorrer uma maior instrumentalização de
sua racionalidade.
Estrutura-se o trabalho em introdução, três
partes principais (a primeira constrói paralelos do
tempo com a tradição losóca; a segunda inclui
a administração no contexto temporal; e a terceira
efetuará a análise fenomenológica dos dados coleta-
dos na tentativa de alcançar o entendimento sobre o
tempo como fator preponderante na interpretação
da administração) e conclusão.
2 O TEMPO COMO FENÔMENO
Compreender um fenômeno requer um retorno
às suas origens; explicá-lo traz à luz os processos
históricos sobre distorções e perdas do cotidiano. Se-
gundo Salomão, Teixeira e Teixeira (2015, p. 30), o uso
da etimologia é um caminho interessante em qualquer
análise acerca de conceitos complexos. Em grego, a
palavra “tempo” tem duas formas: Kairós (καιρός) e
Chronos (Χρόνος). Kairós advém da mitologia grega
como o “Deus do tempo oportuno” e transforma-se
em “um momento oportuno, “em oportunidade”. “No
sentido material e temporal, kairós caracteriza uma
situação crítica que exige uma decisão para a qual o
homem é levado pela fatalidade” (BROWN, 2000, p.
2459). Já Chronos é a determinação do tempo físico
e cronológico. Na mitologia, é associado ao “Deus
do tempo”, representando o “tempo dos homens”, “a
capacidade destrutiva deste” e “a impossibilidade
humana de fugir dos seus efeitos”. Como tempo des-
perdiçado, signica “perda de tempo. Além disso, é
reconhecido como “duração da vida”, “anos”. Arantes
(2015) destaca que o conceito de tempo apresenta
duas origens etimológicas que sugerem que os gre-
gos antigos diferenciavam os pontos ou períodos de
tempo individuais, que poderiam ser inuenciados
pelas decisões humanas (kairós), dos períodos de
tempo mais amplos, cujo progresso independia da
inuência humana (chronos).
Para Bester (2006, p. 39), kairós é “o espaço
de tempo dentro do qual muitas decisões são feitas
para o indivíduo e que a pessoa deve ter a ousadia
de explorar”. O indivíduo que prezar por sonegá-lo
ou evitá-lo “está destruindo a si mesmo. Chronos
pode ser considerado como o juiz, pois seu passar

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