Arquidiocese de Mariana, Teologia da Libertação e Emergência do Movimento dos Atingidos por Barragens do Alto Rio Doce (MG)

AutorFabrício Roberto Costa Oliveira, Franklin Daniel Rothman
CargoDoutor em Sociologia pela University of Wisconsin-Madison e Professor Associado do Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa. - Licenciado e Bacharel em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
Páginas177-203
Artigo
Arquidiocese de Mariana, Teologia da
Libertação e Emergência do Movimento
dos Atingidos por Barragens do
Alto Rio Doce (MG)
Fabrício Roberto Costa Oliveira*
Franklin Daniel Rothman**
1. Introdução1
O
objetivo deste estudo foi demonstrar como, em um momento
em que a cúpula da Igreja Católica procurava diminuir o ativismo
político do catolicismo, a Arquidiocese de Mariana (MG) mostrou-se
mais receptiva às idéias da Teologia da Libertação e abriu espaço para
que setores progressistas pudessem apoiar o Movimento dos Atingi-
dos por Barragens do Alto Rio Doce (MAB-ARD), de Minas Gerais.
Intrigante é o fato de que, enquanto muitas dioceses brasilei-
ras atuavam apoiando movimentos populares nas décadas de 1970
e 1980, a Arquidiocese de Mariana legitimava a ditadura militar e
não apoiava manifestações populares contestatórias das ordens
econômicas, sociais e políticas vigentes. Na década de 1990, quan-
do houve uma investida do Vaticano no sentido de frear a atuação
dos progressistas e um claro apoio a setores ligados à Renovação
* Doutor em Sociologia pela University of Wisconsin-Madison e Professor Asso-
ciado do Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa.
Endereço eletrônico: frothman@ufv.br.
** Licenciado e Bacharel em História pela Universidade Federal de Ouro Preto
(UFOP), Mestre pelo Programa de Mestrado em Extensão Rural da Universidade
Federal de Viçosa (UFV), doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Professor Substituto do Setor de Sociologia
e Antropologia da UFOP. Endereço eletrônico: frcoliveira@yahoo.com.br.
1 Est e artigo foi originalmente apresentado no XIII Co ngresso da Sociedade
Brasileira de Sociologia, realizado de 29 de maio a 1º de junho de 2007, em
Recife (Pernambuco).
178 p. 177 – 203
Nº 12 – abril de 2008
Carismática Católica, a Arquidiocese de Mariana destacou-se por sua
atuação progressista, apoiando o MAB e mostrando-se engajada com
os problemas sociais da população de sua jurisdição eclesiástica.
Entre os grupos da sociedade civil apoiados pela Arquidiocese,
o MAB-ARD merece especial atenção devido à sua grande atuação na
região, bem como por sua relação com a Arquidiocese2. Diante disso,
este trabalho analisa as transformações institucionais e ideológicas
ocorridas na Arquidiocese – como, por exemplo, a convergência
de fatores internos e externos à Igreja Católica que criaram uma
oportunidade política que facilitou a emergência do movimento
progressista de religiosos dentro da Arquidiocese, a qual, por sua
vez, contribuiu para a organização do MAB-ARD – e analisa como
se dá o apoio da Arquidiocese a esse Movimento.
Além da introdução, em que são apresentados os objetivos des-
te estudo, este texto foi dividido em quatro partes: na primeira, é feita
uma explanação da teoria utilizada; na segunda, são explicitados os
processos de transformação na Arquidiocese de Mariana; na terceira,
mostra-se como as instituições progressistas da Igreja contribuíram
para a mobilização e construção de uma “consciência insurgente”
com os atingidos pelas barragens e a organização do MAB-ARD; por
fim, encontram-se na última parte o resumo e as conclusões.
2. Oportunidades políticas, frames e estruturas de
mobilização
Os pesquisadores de movimentos sociais de diversos países
que representam diferentes tradições teóricas têm analisado os
mesmos três conjuntos de fatores nas pesquisas sobre esses movi-
mentos e/ou revoluções. Esses conjuntos podem ser descritos como:
1) estruturas de oportunidades políticas e constrangimentos que
confrontam o Movimento; 2) formas de organização disponíveis aos
insurgentes e 3) processo coletivo de interpretação, atribuição e
2 Esse fato pode ser explicitado pelo posicionamento da Arquidiocese em seu
jornal oficial, assim como por declarações feitas pelo arcebispo e pelos padres,
e também porque o Movimento utiliza-se de recursos da Arquidiocese, como
escritório, telefone e secretária.

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