The default in a credit program of a Minas Gerais' financial public institution: an analysis using logistic regression/A inadimplencia em um programa de credito de uma instituicao financeira publica de Minas Gerais: uma analise utilizando regressao logistica.

Autorde Camargos, Marcos Antonio
CargoArtigo-Financas
  1. INTRODUCAO

    A intermediacao financeira, funcao basica do sistema financeiro, e essencial para o crescimento economico de um pais. O credito ofertado pelas instituicoes financeiras (IF's) figura como um importante instrumento de suporte a esse crescimento. O aumento recente da oferta de credito, bem como das facilidades em sua obtencao, torna necessario o aprimoramento de mecanismos mais robustos de analise de risco de credito, a fim de evitar ou reduzir os niveis de inadimplencia. Assim, o desenvolvimento de modelos de previsao, para aumentar sua qualidade e precisao, e relevante por minimizar o risco de inadimplencia, garantindo, alem da sustentabilidade, ganhos financeiros para a instituicao concedente.

    A partir de 1994, com a implantacao do Plano Real e a estabilizacao da moeda, a concessao de credito financeiro passou a ser um negocio cada vez mais rentavel para as instituicoes bancarias, uma vez que estas ja nao contavam com os ganhos que provinham da desvalorizacao da moeda. Terminado o periodo inflacionario, notou-se a necessidade de expandir as alternativas de investimento para suprir a rentabilidade do periodo de inflacao. A concessao de credito, porem, nao poderia ser feita a todos os demandantes, razao pela qual foi necessario o aprimoramento dos procedimentos de avaliacao, para a tomada de decisao adequada sobre emprestimo ou nao do capital ao proponente. Como o lucro dos credores esta diretamente relacionado a proporcao de contratantes aprovados e ao porcentual de clientes adimplentes, essa decisao assume carater relevante na gestao do risco de credito.

    A escolha dos proponentes que recebiam credito foi, ate o inicio do seculo XX, baseada no julgamento de um ou mais analistas (THOMAS; EDELMAN; CROOK, 2002). Em consequencia disso, a aprovacao do credito era de carater puramente subjetivo e levava a situacoes nas quais, para as mesmas caracteristicas de proponentes uma proposta poderia ser ou nao aprovada, dependendo do analista que a julgasse. Em razao da morosidade e da ausencia de criterios objetivos, os modelos de analise para concessao de credito comecaram a ser adotados pelas IF's com o objetivo de acelerar o processo de aprovacao e minimizar o vies causado pela subjetividade do antigo processo, promovendo, assim, maior objetividade e agilidade de decisao, menores custos, melhor predicao e, consequentemente, menor risco.

    A atividade de concessao de credito e uma funcao primaria das IF's, logo, o risco de credito se eleva a fator de vital importancia na composicao dos riscos inerentes a essas instituicoes. Os principais tipos de operacoes de credito de um banco sao: emprestimos, financiamentos, adiantamentos de cambio, avais, fiancas, dentre outros servicos de intermediacao financeira.

    Tanto a utilizacao de modelos de analise de risco de credito (credit scoring) quanto os estudos que buscam identificar caracteristicas condicionantes da inadimplencia em processos de financiamento vem crescendo nos ultimos anos. Trata-se de um tema que tem se mantido atual, alem de relevante, no recente cenario de crise. No cenario internacional destacam-se algumas pesquisas recentes sobre o mesmo tema: Berger, Cowan e Frame (2011), Karlan e Zinman (2010), Avery, Brevoort e Canner (2009), Falangis (2008) e Bardos (2007). No Brasil, e crescente o numero de pesquisas que tiveram por objetivo desenvolver ou analisar modelos de previsao de falencias e concordatas, bem como de insolvencia e inadimplencia, tanto por parte de pessoas fisicas, quanto de empresas Dentre suas pesquisas, que se basearam nos dados socioeconomicos, contabeis e financeiros de pessoas e empresas, estao as de: Alves e Camargos (2010), Camargos et al. (2010), Ribeiro, Zani e Zanini (2009), Santos e Santos (2009), Lima et al. (2009), Melo Sobrinho e Carmona (2008), dentre outros, destacados na secao 2.3.

    Dessa maneira, a justificativa para a realizacao deste trabalho passa pela importancia da classificacao precisa do cliente via modelos de analise de risco de credito para uma IF. Uma classificacao ineficaz pode causar perdas (no caso em que se classifica um cliente "inadimplente" como "adimplente") ou privar essa instituicao de ganhos (no caso em que se classifica um cliente "adimplente" como "inadimplente").

    Este estudo tem por objetivo construir um modelo econometrico para estimar o risco de inadimplencia em financiamentos de uma IF publica do Estado de Minas Gerais por meio da proposicao de um modelo credit scoring para aprovacao de credito, utilizando a tecnica estatistica de regressao logistica hierarquica. O escopo do modelo e prever a ocorrencia de eventos de inadimplencia, para subsidiar os gestores no processo de concessao de credito e gestao de risco. Na construcao desse modelo foram utilizados dados contratuais, socioeconomicos dos socios e avalistas e economico-financeiros das empresas de uma amostra de 9.232 processos, extraida de uma populacao de 25.616 processos de financiamento a micro e pequenas empresas, concedidos entre jun./97 e dez./05. Na sequencia, e apresentado o quadro teorico de referencia, seguido dos procedimentos metodologicos e da analise e discussao dos resultados, nas secoes 2, 3 e 4, respectivamente. Encerra-se com as consideracoes finais e a conclusao, na secao 5, seguidas das referencias.

  2. REFERENCIAL TEORICO

    2.1 Risco

    Em financas, o risco e a probabilidade de nao obter o retorno esperado no investimento realizado. O risco pode ser definido como a propria variancia do retorno. Quanto maior a variacao dos valores observados em torno da sua propria media, maior sera o retorno exigido para compensar esse alto risco. Existem dois fatores que afetam o desvio do retorno. O risco sistematico (sistemico, conjuntural ou nao diversificavel) e determinado pelos sistemas politico, economico e social (variaveis macroeconomicas), e o risco naosistematico (diversificavel, naosistemico, unico, especifico ou idiossincratico) e relacionado ao proprio ativo ou ao subsistema a que pertence (variaveis microeconomicas) e nao exerce influencia sobre outros ativos e seus ambientes, diferentemente do primeiro risco (SECURATO, 2002).

    Na ausencia de uma norma de classificacao do risco, cada instituicao adota medidas e estrategias para gerencia-lo. No ambiente das IF's brasileiras ele e analisado sob tres perspectivas- risco de mercado, risco operacional e risco de credito, discutidos com mais detalhes na proxima secao.

    A atividade de conceder credito e funcao primordial e basica dos bancos, portanto, o risco de credito se eleva como papel preponderante na composicao dos riscos de uma instituicao e e percebido tanto nas operacoes em que existe a liberacao de recursos financeiros para os clientes, quanto nas que sao preestabelecidas, com possibilidade de uso. Os principais tipos de operacoes de credito nas IF's sao: emprestimos, financiamentos, adiantamento de cambio, leasing, fiancas, etc.

    O credito pode ser entendido como uma cessao temporaria de fundos a terceiros, operacao na qual se exige uma remuneracao (juros) do tomador (ou devedor) por sua utilizacao. A taxa de juros a ser cobrada sera determinada em funcao do risco apresentado pelo tomador, o que torna este ultimo um dos aspectos mais relevantes na concessao do credito (RIBEIRO; ZANI; ZANINI, 2009).

    O risco de credito, na visao de Chinelatto Neto, Felicio e Campos (2007), e a possibilidade de ocorrerem perdas provocadas pela incerteza sobre o recebimento de uma quantia contratada por quem toma um emprestimo (tomador) ou pelo emissor de um titulo. Tambem denominado risco de default, e a expectativa de que o devedor nao cumpra o pagamento, tornando-se inadimplente (CAMARGOS et al., 2010). Cherobim e Barbosa (2007) destacam duas importantes questoes desse risco: a esperanca de receber integralmente os recursos e o prazo definido, apresentado na decisao de concessao do recurso. Ja Sehn e Carlini Junior (2007) conceituam esse risco como inadimplencia, ou seja, o nao pagamento ou nao cumprimento de um contrato ou clausula, no caso, da divida contratada. E um risco oriundo do ciclo de emprestar, aplicar e quitar o debito (SOUZA; BRUNI, 2008), que deve, portanto, ser mensurado de forma eficiente.

    De acordo com Ribeiro, Zani e Zanini (2009), na mensuracao do risco de credito e necessario que sejam consideradas as vertentes: a) qualitativa: o analista de credito julga os aspectos da concessao do credito com base nos 5 C's do credito (capacidade, carater, capital, condicoes e colateral) e b) quantitativa: sao utilizados modelos estatisticos ou econometricos para auxiliar na decisao de credito, buscando-se complementar os dados qualitativos e ampliar a seguranca, estruturacao e monitoramento do processo decisorio. Nesta ultima vertente figuram os chamados modelos de credit scoring, que sao sistemas classificatorios ou tecnicas objetivas de risco de credito que geram uma medida numerica do risco de nao receber um credito concedido por uma IF na data predefinida (CHINELATTO NETO; FELICIO; CAMPOS, 2007).

    Lima et al. (2009) destacam, porem, que mesmo nas analises baseadas em modelos quantitativos que proporcionam razoavel nivel de seguranca a tomada de decisao de fornecimento de credito. As decisoes sugeridas por esses modelos revelam-se dificeis de serem exercidas, dado que sao pouco analisadas, o que faz com que a avaliacao qualitativa prepondere no processo de concessao de credito. Dessa forma, a decisao sobre concessao inicial de credito seria mais simples que aquela sobre manter ou descontinuar o fornecimento de credito a um tomador.

    Chinelatto Neto, Felicio e Campos (2007) sugerem que o enquadramento dos tomadores ou das operacoes de credito nos niveis de risco deve ocorrer fundamentado em aspectos quantitativos e qualitativos, pois os criterios precisam ser predeterminados com base tecnica, a fim de se evitarem avaliacoes divergentes da politica de credito da organizacao. Segundo Camargos et al. (2010), os sistemas de credito resultam de atitudes, respostas e padroes de...

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