Trabalho no Brasil: desafios e perspectivas

AutorJosé Dari Krein, Marcelo Manzano, Marilane Teixeira
CargoUniversidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas,
Páginas293-317
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 293-317, maio/ago. 2022 | ISSN 2447-861X
TRABALHO NO BRASIL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Work in Brasil: challenges and perspectives
José Dari Krein
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas,
Brasil
Marcelo Manzano
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas,
Brasil
Marilane Teixeira
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas,
Brasil
Informações do artigo
Recebido em 10/05/2022
Aceito em 30/05/2022
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n256.p293-317
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Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
KREIN, José Dari; MANZANO, Marcelo; TEIXEIRA,
Marilane. Trabalho no Brasil: desafios e perspectivas.
Cadernos do CEAS: Revista Crítica de Humanidades.
Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 293-317, maio/ago.
2022. DOI: https://doi.org/10.25247/2447-
861X.2022.n256.p293-317
Resumo
No presente artigo propõe-se a refletir sobre as incontornáveis
transformações que, carreadas pela crise da Covid-19, se
sobrepuseram ao mundo do trabalho em geral e em particular
em países como o Brasil, marcados pela condição periférica e
pela persistência do excedente estrutural de força de trabalho.
O artigo começa com a apresentação das características
estruturais do mercado de trabalho brasileiro e uma breve
análise da dinâmica das ocupações no período mais recente. Em
seguida, faz-se uma reflexão sobre as múltiplas dimensões da
crise (civil izacional, política, econômica) para, então, delinear
algumas diretrizes programáticas, não apenas para pensar em
formas de superação da atual crise do trabalho no Brasil, mas,
principalmente, para provocar uma discussão a respeito da
redefinição do próprio sentido e configuração do trabalho na
quadra atual da história e em um contexto político e econômico
carregado de tensões e contradições como as que estiveram
vigentes no Brasil na segunda década do século XXI.
Palavras-Chave: Mundo do trabalho. Covid-19. Mercado de
trabalho-Brasil - Excedente estrutural de força de trabalho.
Abstract
In this article we propose to reflect on the inevitable
transformations that, driven by the Covid-19 crisis, overlapped
the world of work in general and in countries like Brazil in
particular, marked by the peripheral condition and by the
persistence of the structural surplus of workforce. The article
begins with a presentation of the structural characteristics of the
Brazilian labor market and a brief analysis of the dynamics of
occupations in the m ost recent period. Then, we reflect on the
multiple dimensions of the crisis (civilizational, political,
economic) and then outline some programmatic guidelines, not
only to think about ways to overcome the current labor crisis in
Brazil, but mainly to provoke a discussion at respect for the
redefinition of the meaning and configuration of work in the
current period of history and in a political and economic context
full of tensions and contradictions as they were in force in Brazil
in the second decade of the 21st century.
Keywords: World of Labor. Covid-19. Labor Market-Brazil -
Structural surplus of labor force.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 293-317, maio/ago. 2022.
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Trabalho no Brasil: desafios e perspectivas | José Dari Krein, Marcelo Manzano e Marilane Teixeira
INTRODUÇÃO
A crise avassaladora que se instalou com a pandemia de Covid-19 no início de 2020 fez
agravar tendências já em curso no Brasil, indicando a aceleração de processos de mudanças
em várias dimensões da vida humana e da economia. Em relação ao mercado de trabalho
brasileiro, d eve-se ter em mente que foi atingido por essa inescapável onda de
transformações sem que houvesse sido superado, em qualquer momento anterior de nossa
história, o problema do excedente estrutural de força de trabalho, evidenciando aspectos
históricos que condicionam parcela da sociedade a posições subalternas e precárias. Ou seja,
somos abalroados por uma crise d e profundas repercussões sobre o mundo do tr abalho,
partindo de um patamar civilizatório muito baixo, marcado pela precariedade das relações
de emprego, pela informalidade como norma, pela grande dispersão salarial que deixa mais
de dois terços da força de trabalho sujeita a remunerações baixas e insuficientes, pela
inacessibilidade a direitos sociais e trabalhistas fundamentais. É incontornável considerar que
estamos tratan do de um país profundamen te marcado pelo escravismo, pela condição de
capitalismo tardio e periférico, com um mercado de trabalho débil e desorganizado
(MACHADO SILVA, 1990) e que sujeita sua população a transitar de forma reiterada do
emprego ao desemprego, do formal ao informal, das atividades precárias às ilegais.
Nesse contexto, parte-se do pressuposto de que, sem um projeto de desenvolvimento
que enfrente essa insuficiência estrutural de ocupações, será muito difícil, para não dizer
impossível, mudar a realidade atual do trabalho no país e, por conseguinte, reverter a enorme
desigualdade que nos caracteriza. Logo, o enfrentamento desse quadro coloca a necessidade
de uma alteração política e de modelo de sociedade que leve à superação do atual regime de
acumulação, crescentemente orientado para os interesses rentistas e do grande capital sem
pátria. A anomia institucional em que nos en contramos exige, portanto, uma redefinição do
papel do Estado e do lugar do trabalho em nossa sociedade.
Isto posto, a análise aqui desenvolvida parte das seguintes hipót eses: (i) o
reconhecimento de que ocorreram profundas transformações no mundo do trabalho,
decorrentes das novas formas de produção e distribuição de bens e serviços, especialmente
a partir da crise econômica dos anos 1970, quando se consolidou um novo padrão de
acumulação baseado na dominância financeira e na globalização, impulsionadas pelas novas
tecnologias de comunicação e informação e pela crescente participação de serviços ligados
às famílias; (ii) que tais mudanças alteraram também as percepções e valores da sociedade,

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