Trabalho profissional do/a assistente social no suas tensionamentos em tempos de 'falso normal

AutorDannylo Cavalcante Alves, Iracilda Alves Braga
CargoAssistente Social/Assistente Social
Páginas880-899
TRABALHO PROFISSIONAL DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO SUAS: tensionamentos em tempos
de “falso normal”
Dannylo Cavalcante Alves1
Iracilda Alves Braga2
Resumo
O presente artigo aborda o trabalho profission al das/os assistentes sociais na Política de Assistência Social frente à
pandemia de Covid-19. Realiza um estudo bibliográfico e documental à luz do método histórico-dialético, intentando
descortinar as ideologias presentes no cenário pandêmico, diante do “novo normal”. Ne sse sentido, analisa a proteçã o
social oportunizada pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS) nas três esferas de governo. Em seguida, discorre
sobre o trabalho de assistentes sociais frente à pandemia e aos impactos da crise sanitária nos processos de trabalho,
assim como no t rabalho social com famílias nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e nos Centros de
Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). Os resultados evidenciam que o cenário de falsa normalidad e
acirra os processos de desigualdade social, acumulação capitalista, intensificação da demanda a necessidade de
instrumentalização para as lutas coletivas e individuais por parte de assistentes sociais, tr abalhadores/as do SUAS e
conjunto da classe trabalha dora. Logo, conclui que a pandemia de Covid-19 traz repercussões para o Sistema de Proteção
Social brasileiro, colocando na ordem do dia a defesa do Estado social e o enfrentamento das dificuldades de garantia de
proteção social.
Palavras-chave: Trabalho; assistente social; assistência social.
PROFESSIONAL WORK OF THE SOCIAL ASSISTANT IN SUAS: tensions in times of fals e normal
Abstract
This article addresses the professional work of social workers in the Social Assistance Policy in the face of the Covid-19
pandemic. The bibliographical and documentary study was conducted in light of the dialectical historical method, to unveil
the ideologies present in the pandemic scenario, such as the proclaimed "new normal". In this sense, it analyzes the social
protection provided by the Unified System of Social Assistance in the three spheres of government. Then, it discusses the
work of social workers fac ing the pandemic and the impacts of the health crisis in the work processes and in the social work
with families in the Reference Centers for Social Assistance and Specialized Reference Centers for Social Assistance. Thus,
the scenario of false normality accentuates the processes of social inequality, capitalist accumulation, intensification of
demand and the need for social workers, SUAS workers and the working class as a whole to be instrumentalized for
collective and individual struggles. The Covid-19 pandemic brings repercussions to the Brazilian Social Protection System,
putting on the agenda the defense of the Social State and the confrontation of the difficulties in guaranteeing social
protection.
Keywords: Labor; social worker; social assistance
.
Artigo recebido em: 11/07/2022 Aprovado em: 14/11/2022
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v26n2p880-899
1 Assistente Social. Mestrando em Políticas Públicas (UFPI). Especialista em Família e Políticas Públicas (UNIFSA).
Assistente Social da Prefeitura de Teresina (PMT). Integrante do Grupo de Estudos em Políticas de Seguridade Social e
Serviço Social (GEPSS). E-mail: dannylocavalcante@ufpi.edu.br.
2 Assistente Social. Doutora em Serviço Social (UFPE). Mestre em Políticas Públicas (UFPI). Professora Adjunta do Curso
de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas (UFPI). Líde r do GEPSS.E-mail:
iracildabraga@ufpi.edu.br
Dannylo Cavalcante Alves e Iracilda Alves Braga
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1 INTRODUÇÃO
A constituição dos Sistemas de Proteção Social possuem especificidades, tendo em vista
o desenvolvimento das experiências históricas do Welfare State ou Estado de bem-estar social,
Estado-providência ou Estado social. No Brasil, é possível afirmar que com a Constituição Federal de
1988 e a instituição da Seguridade Social, constroem-se as possibilidades do Estado social.
A efetivação de garantias das políticas sociais, a partir de 1988, foram atravessadas pelos
processos de reestruturação produtiva, neoliberalismo e ajuste fiscal, enquanto iniciativa global de
respostas às crises estruturais e cíclicas do capital. Nesse contexto, a disputa pelo fundo público entre
capital e trabalho -se no interior das políticas sociais.
Dessa forma, os/as assistentes sociais, que participaram ativamente das lutas pela
instituição da Seguridade Social, também passaram por lutas internas com vistas à disputa por
hegemonia na profissão, ao enfrentamento relativo ao conservadorismo e à promoção do Projeto Ético-
Político do Serviço Social.
Isso posto, tem-se que a história do Serviço Social se confunde com a da Política de
Assistência Social, ainda que os/as assistentes sociais contem com um amplo leque de possibilidades
quanto à sua atuação profissional. Aliás, o Serviço Social atuou decisivamente pela inscrição da
assistência social no texto da ordem social da Constituição Federal de 1988, integrando a Seguridade
Social enquanto direito do/a cidadão/ã e dever do Estado.
Na mesma direção, os/as assistentes sociais constituem as equipes de referência do
SUAS, particularmente dos CRAS e dos CREAS. Assim, o processo de trabalho do Serviço Social na
Política de Assistência Social desenvolve-se a partir das competências teórico-metodológicas, ético-
políticas e técnico-operativas da profissão, frente às orientações técnicas e demais normativas do
SUAS.
Nesse sentido, nem sempre a concepção da Política de Assistência Social do Projeto
Ético-Político do Serviço Social converge com a direção da Política de Assistência Social inscrita nos
documentos e regulamentos oficiais, uma vez que se identifica uma matriz familista nas requisições
profissionais (TEIXEIRA, 2013).
Com efeito, a pandemia de Covid-19 intensifica a direção familista da proteção social, uma
vez que as ações de enfrentamento à crise sanitária e de atendimento à população não acontecem na
velocidade e densidade que o cenário demanda, constituindo um cenário de desproteção social ainda
que iniciativas tenham se estabelecido ao longo dos últimos quase dois anos de pandemia. É nesse
contexto que atuam os/as assistentes sociais e demais trabalhadores do SUAS, enquanto área
essencial de enfrentamento à crise pandêmica.

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