A tradição das bonecas abayomis: reflexões sobre raça, classe e gênero no serviço social

AutorLara Iara Gomes Borges, Alessandra , Ester
Páginas113-131
2GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 2 | p. 2-2 | 1. sem 2022
EDITORIAL
2
EDITORIAL
Nesta edição da revista Gênero, apresentaremos o dossiê Gênero,
Políticas Públicas e Serviço Social, organizado pelas professoras doutoras
Luciana Zucco e Teresa Kleba L isboa, ambas da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), e pela professora doutora Magali Silva Almeida,
da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Serão apresentadas discus-
sões sobre gênero e a interseccionalidade entre raça e classe; sexualidade;
violência; migração feminina; encarceramento de mulheres; e suas inter-
faces com as políticas públicas, visando contribuir para o aprofundamento
dos estudos sobre a temática no serviço social. Esses estudos são de
grande relevância em um contexto de graves retrocessos no campo das
políticas públicas e de avanço do racismo e da violência contra mulheres,
homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais devido ao neoconservado-
rismo e ultraneoliberalismo que dominam o Estado brasileiro.
Ademais, esta edição conta com uma série de artigos de temas livres,
como adoção por casais do mesmo sexo; mulheres e esporte; participação
feminina na democracia portuguesa; feminismo negro; abor to; e trabalho
doméstico. Oferece, ainda, duas resenhas: uma sobre o livro E se fosse você?
sobrevivendo às redes de ódio e fake news, de autoria de Manuela d’Ávila;
eoutra sobre o livro Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano,
que tem como autora Grada Kilomba. Sendo assim, convidamos a todas
e todos, da comunidade acadêmica ou não, que possuem interesse pelos
estudos de gênero a desfrutar de uma ótima leitura.
Equipe editorial:
João Bosco Hora Góis
Kamila Cristina da Silva Teixeira
Sidimara Cristina de Souza
GÊNERO | Niterói | v. 23 | n. 1 | p. 113-131 | 2. sem 2022 113
A TRADIÇÃO DAS BONECAS ABAYOMIS: REFLEXÕES
SOBRE RAÇA, CLASSE E GÊNERO NO SERVIÇO SOCIAL
Carolini Constantino15
Fábia Halana16
Michele Barth17
RESUMO: Este artigo apresenta um relato de experiência de uma oficina
socioeducativa desenvolvida no ano de 2019, na disciplina de Epistemologia
Feminista, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Serviço Social
da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PPSS-PUC-GO), que resultou
na confecção de bonecas abayomis. A atividade teve como objetivo geral
propor uma discussão sobre gênero, classe e raça a partir do resgate da cultura
afro-brasileira. O desenvolvimento metodológico, ancorado em Moreira
(2015), contribuiu para o pensamento crítico acerca de metodologias não
tradicionais. Os resultados indicam que a estratégia de qualificação colaborou
para o fortalecimento das discussões sobre o feminismo negro.
PALAVRAS-CHAVE: Bonecas abayomis. Oficina socioeducativa. Serviço Social.
ABSTRACT: This article presents an experience report of a socio-educational
workshop developed in 2019, in the Feminist Epistemology discipline, of the
Stricto Sensu Graduate Program in Social Work at the Pontifical Catholic
University of Goiás (PPSS-PUC-GO), which resulted in the making of
abayomis dolls. The activity had as general objective to propose a discussion
about gender, class and race from the rescue of Afro-Brazilian culture. The
methodological development, anchored in Moreira (2015), contributed to
critical thinking about non-traditional methodologies. The results indicate
that the qualification strategy contributed to the strengthening of discussions
about black feminism.
KEYWORDS: Abayomis dolls. Socio-educational workshop. Social service.
15 caroliniconstantino@gmail.com
16 fabiahalana@hotmail.com
17 designer.mibarth@gmail.com
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição Não-
Comercial 4.0 Internacional.
2GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 2 | p. 2-2 | 1. sem 2022
EDITORIAL
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EDITORIAL
Nesta edição da revista Gênero, apresentaremos o dossiê Gênero,
Políticas Públicas e Serviço Social, organizado pelas professoras doutoras
Luciana Zucco e Teresa Kleba L isboa, ambas da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), e pela professora doutora Magali Silva Almeida,
da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Serão apresentadas discus-
sões sobre gênero e a interseccionalidade entre raça e classe; sexualidade;
violência; migração feminina; encarceramento de mulheres; e suas inter-
faces com as políticas públicas, visando contribuir para o aprofundamento
dos estudos sobre a temática no serviço social. Esses estudos são de
grande relevância em um contexto de graves retrocessos no campo das
políticas públicas e de avanço do racismo e da violência contra mulheres,
homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais devido ao neoconservado-
rismo e ultraneoliberalismo que dominam o Estado brasileiro.
Ademais, esta edição conta com uma série de artigos de temas livres,
como adoção por casais do mesmo sexo; mulheres e esporte; participação
feminina na democracia portuguesa; feminismo negro; abor to; e trabalho
doméstico. Oferece, ainda, duas resenhas: uma sobre o livro E se fosse você?
sobrevivendo às redes de ódio e fake news, de autoria de Manuela d’Ávila;
eoutra sobre o livro Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano,
que tem como autora Grada Kilomba. Sendo assim, convidamos a todas
e todos, da comunidade acadêmica ou não, que possuem interesse pelos
estudos de gênero a desfrutar de uma ótima leitura.
Equipe editorial:
João Bosco Hora Góis
Kamila Cristina da Silva Teixeira
Sidimara Cristina de Souza
GÊNERO | Niterói | v. 23 | n.1 | p. 113-131 | 2. sem 2022
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INTRODUÇÃO
O presente artigo apresenta um relato de experiência de uma oficina
socioeducativa desenvolvida no ano de 2019, durante a disciplina de Epistemologia
Feminista, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Serviço Social
da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PPSS-PUC-GO), que resultou
na confecção de bonecas abayomis,18 que podem ser consideradas elementos
culturais e símbolos de resistência da tradição de matriz africana na sociedade
brasileira contemporânea.
A atividade teve como objetivo geral propor uma discussão sobre as
questões de gênero, classe e raça, tendo como eixo norteador o resgate da
cultura afro-brasileira, a fim de dar voz à invisibilidade desse povo, em face
de uma construção social discriminatória que atinge 33% da população negra
brasileira, segundo dados do relatório da Comissão Econômica para a América
Latina e o Caribe (CEPAL, 2016). Essa iniciativa também vai ao encontro do
tema sugerido pela campanha “Assistente Sociais no Combate ao Racismo”,
do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e dos Conselhos Regionais
de Serviço Social (CRESS), que propunha estratégias antirracistas por meio
da defesa dos direitos sociais.
Para elaboração da oficina socioeducativa, um cenário propício foi criado
e aplicado em uma turma de pós-graduação, com alunas mestrandas, por
intermédio da professora docente, a partir do resgate histórico da repre-
sentação dessas bonecas e de seu simbolismo na atualidade. Por meio da
apresentação de slides sobre a história das abayomis e da realização de uma
roda de conversa, bonecas foram confeccionadas fazendo reviver os modos
de ser e de se relacionar das mulheres negras.
Dentre os objetivos específicos, a oficina buscou estabelecer um debate
acadêmico acerca do feminismo negro – tema abordado nessa disciplina constituída
apenas de mulheres, formadas na área de Serviço Social, Pedagogia e Direito
–, conforme determina o projeto ético-político do Serviço Social, além de
possibilitar às alunas, em processo de formação intelectual, uma ruptura de
paradigmas hegemônicos, conservadores, enraizados e naturalizados através
de preconceitos que envolvem a temática racial nos espaços acadêmicos e
profissionais.
18Abayomi”, termo ioruba que significa “meu presente” ou também “encontro precioso”, é o nome dado às
bonecas, originalmente feitas de pano ou de palha de milho, da década de 1980, confeccionadas por Lena
Martins, artista e artesã, natural de São Luís do Maranhão, em oficinas nas comunidades do Rio de Janeiro.

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