A transição na política externa da 'ascensão pacífica' para o 'sonho chinês' à luz do debate teórico de ri na China

AutorIsabela Nogueira - Letícia Eloi Meira Fona
CargoProfessora adjunta do Instituto de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional (PEPI) - Mestranda no programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional (PEPI) no Instituto de Economia da UFRJ e pesquisadora associada do LabChina (Laboratório de Estudos em Economia Política da China)
Páginas86-108
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 86-108, jan./abr. 2022 | ISSN 2447-861X
A TRANSIÇÃO NA POLÍTICA EXTERNA DA “ASCENSÃO PACÍFICA”
PARA O “SONHO CHINÊS” À LUZ DO DEBATE TEÓRICO DE RI NA
CHINA
The Transition in Chinese Foreign Policy from “Peaceful Rise” to “Chinese Dream”
in the Light of IR Theoretical Debate in China
Isabela Nogueira
Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Brasil
Letícia Eloi Meira Fona
Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Brasil
Informações do artigo
Recebido em 13/04/2022
Aceito em 06/05/2022
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n255.p86-108
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
NOGUEIRA, Isabela; FONA, Letícia Eloi Meira. A
transição na política externa da “ascensão pacífica” para
o “sonho chinês” à luz do debate teórico de ri na China.
Cadernos do CEAS: Revista Crítica de Humanidades.
Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 86-108, jan./abr. 2022.
DOI: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n255.p86-108
Resumo
No final da década de 2010, é perceptível a mudança no perfil de
política externa adotada pela C hina, por meio da transição do
modelo de baixo perfil da Ascensão Pacífica para a assertividade
do Sonho Chinês, introduzido por Xi Jinping. Ao mesmo tempo,
desenvolve-se no país o campo teórico das Relações
Internacionais com muitos expoentes na atualidade, com
destaque para Yan Xuetong, com sua teoria do Realismo Moral,
e Qin Yaqing, com a Teoria Relacional. Tais teorias adotam a
perspectiva filosófica e cultural chinesa para analisar a política
internacional a partir de uma perspectiva própria. Este artigo
tem como objetivo analisar como a transição é interpretada
pelas diferentes teorias de RI chinesas, expondo o debate
acadêmico existente e suas premissas teó ricas. Conclui-se que,
ainda que haja consenso quanto à China ter vivenciado
mudanças em sua política externa, os teóricos do Realismo
Moral enfatizam o abandono do baixo perfil, enquanto os
teóricos da Teoria Relacional destacam os elementos de
continuidade, implicando diferentes interpretações sobre os
erros e acertos da política externa atual de Xi Jinping.
Palavras-Chave: China. Política Externa. A scensão Pacífica.
Sonho Chinês. Teorias de RI.
Abstract
By the end of 2010s, the change in the foreign policy profile
adopted by China is noticeable, through the transition from the
low-profile model of the Peaceful Rise to the assertiveness of the
Chinese Dream, introduced by Xi Jinping. At the same time, the
theoretical field of International Relations it is developed i n the
country with many exponents, with emphasis on Yan Xuetong,
whose theory is Moral Realism, and Qin Yaqing, whose is
Relational Theory. Such theories adopt the Chinese
philosophical and cultural perspective to analyze international
politics from its own perspective. This article aims to analyze
how the transition is interpreted by the different Chinese IR
theories, exposing the existing academic debate and its
theoretical premises. We conclude that, although there is
consensus that China has experienced changes in its foreign
policy, Moral Realism theorists emphasize the abandonment of
the low profile, while Relational Theory theorists highlights the
elements of continuity, implying different interpretations of the
mistakes and successes of Xi Jinping's current foreign policy.
Keywords: China. Foreign Policy. Peaceful Rise. Chinese Dream.
IR Theories.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 86-108, jan./abr. 2022.
87
A transição na política externa da “ascensão pacífica” para o “sonho chinês”... | Isabela Nogueira e Letícia Eloi Meira Fona
INTRODUÇÃO
Ao fim da década de 2010, a China se encontra em uma posição consolidada no
Sistema Internacional, em um cenário de possível disputa hegemônica com os EUA. Ao longo
dessa década, observou-se, também, a transição da política externa chinesa da Ascensão
Pacífica para o Sonho Chinês, elabor ado por Xi Jinping, ao assumir a liderança do Partido
Comunista Chinês e o posto de presidente da China. Até então, a inserção internacional
chinesa, por meio da Ascensão Pacífica, era caracterizada sobretudo por seu b aixo perfil
(keeping a low profile), visando, principalmente, à garantia de um ambiente internacional
pacífico e favorável ao desenvolvimento econômico chinês. No entanto, após a crise
internacional de 2008 e a partir do início do governo de Xi Jinping em 2012, percebeu-se o
afastamento da política externa chine sa do baixo perfil. A política externa passou a
caracterizar-se pela assertividade na defesa e conquista dos interesses nacionais chineses
(striving for achievement). Essa transição ficou clara com a implementação do Sonho Chinês
que deslocou o objetivo central do desenvolvimento econômico, única e exclusivamente,
para o “rejuvenescimento nacional”. Com o Sonho Chinês, a China passou não só a adotar um
comportamento mais proativo no Sistema Internacional, assumindo maiores
responsabilidades quanto à governança global, como também a se inserir mais
multilateralmente.
Em paralelo à transição da política externa chinesa, o campo acadêmico chinês,
dedicado às Relações Internacionais, vivencia um momento fértil. Visando à construção de
teorias de RI chinesas, isto é, que adotassem o pensamento filosófico clássico chinês co mo
base para analisar as relações int erestatais tanto da China quanto dos demais países, a
academia chinesa dedica-se ao estudo da transição. Atualmente, a academia chinesa ainda
debate a ocorrência efetiva dessa transição e, indo além, debate qual a melhor estratégia de
política externa para o país. Há uma grande divisão entre os teóricos quanto à caracterização
do atual modelo. Logo, questiona-se: como a transição do modelo de política externa é
interpretada e entendida pelas diferentes linhas de Relações Internacionais na China?
Este artigo visa responder a essa pergunta a partir da exposição do debate teórico
vivenciado na China, da análise da transição e dos modelos de política externa chineses, bem
como da apresentação das múltiplas interpretações desse processo. Parte-se da hipótese de
que a transição de fat o ocorreu e que ela é vista e interpretada de diferentes formas pelas

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT