Uma história dos "Estudos Culturais"
Autor | Diogo da Silva Roiz |
Cargo | Doutorando em História pela UFPR, bolsista do CNPq. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Campus de Amambaí. |
Páginas | 269-274 |
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CEVASCO, M. E. Dez lições sobre estudos culturais. 2ª edição. São Paulo: Boitempo, 2008 (1ª ed. 2003), 188p.
Os "Estudos Culturais" constituem hoje um campo de pesquisa fértil e promissor em muitos países. Não estando limitados apenas a uma renovação dos estudos literários, com as análises "pós-coloniais" e "pós-modernistas", este campo de pesquisa têm se estendido cada vez mais para todas as áreas das Ciências Humanas e Sociais. Estudos que cobrem a história de sua formação já não são tão escassos, como o foram entre os anos 1960 (quando foram inaugurados) e 1990 (quando houve um reconhecimento internacional de seus procedimentos e contribuições), mas nem por isso se pode considerar que sua história já tenha sido completamente escrita.
O empreendimento realizado por Maria Elisa Cevasco, embora não cubra todos os momentos e lugares em que foram se organizando os Estudos Culturais, é revelador ao demonstrar, em dez lições (tal como aulas oferecidas para iniciantes, mas justamente por isso também devem interessar aos pesquisadores), a sua implantação na Inglaterra ao longo do século XX. A importância de seu trabalho está ainda em ser uma excelente apresentação da formação deste campo de estudo e de seus principais praticantes naquele país. Em sua exposição, a autora se apóia na trajetória de Raymond Williams (1921-1988), a qual já havia se debruçado num trabalho anterior: Para ler Raymond Williams (publicado em 2001, pela editora Paz e Terra). Ela parte da premissa de que este autor contribuiu diretamente para rever a ideia de "cultura" na Inglaterra, de modo a torná-la mais flexível para um melhor reconhecimento da contribuição das massas e de suas relações com as elites, dado que a cultura se estabeleceria justamente nessas interrelações.
Para demonstrar essa questão, a autora refaz, num pequeno recenseamento, os diferentes significados dos termos cultura e sociedade, para indicar:
O fato de, em especial ao longo do século XX, a palavra [civilização] ter adquirido uma conotação imperialista [...] contribuiu para a virada de sentido.
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É nesse processo que "cultura", a palavra que designava o treinamento das faculdades mentais, se transformou, ao longo do século XIX, no termo que enfeixou uma reação e uma crítica - em nome dos valores humanos - à sociedade em processo acelerado de transformação. A aplicação desse sentido às artes, como as obras e práticas que representam e dão sustentação ao processo geral de desenvolvimento humano, é preponderante a partir do século XX [...] Na Inglaterra dos anos 1950, momento de estruturação da disciplina de estudos culturais, o debate sobre a cultura parece...
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