Uma arte política ou uma política da arte: os pequenos sujeitos na arte do artista León Ferrari
| Autor | Emerson Dionísio Gomes de Oliveira |
| Cargo | Mestre em História da Arte pela Unicamp e aluno do Doutorado da Universidade de Brasília (UnB) |
| Páginas | 31-51 |
UMA ARTE POLÍTICA OU UMA POLÍTICA DA ARTE:
OS PEQUENOS
SUJEITOS
NA ARTE DO ARGENTINO LEÓN
FERRARI
Emerson Dionísio Gomes de Oliveira**
**
*
Universidade de Brasília
Resumo
O presente artigo buscou compreender a leitura empreendida pela crítica
de arte especializada sobre a série de gravuras denominada Plantas do artista
argentino León Ferrari (Buenos Aires, 1920). Tal leitura tipifica tais obras como
não-políticas e pertencentes um momento pouco engajado do artista. Nosso tra-
balho mostra outra possibilidade interpretativa, cujo teor mira nas relações entre
as políticas do ordinário e do cotidiano.
Palavras-chave: arte latino-americana, arte política, cotidiano, cidade
Abstract
Political art or a policy of art: the small subjects in the art of the Argenti-
nean artist, León Ferrari (Buenos Aires, 1920). This paper sought to understand
the reading material from specialized art critics about the series of engravings
denominated Plants by the Argentinean artist León Ferrari. This reading material
typifies these works as non-political, which belong to a moment when the artist
was little engaged. Our work shows another interpretative possibility, where the
content looks at the relationships between the ordinary and everyday policies/
politics.
Key words: Latin American art, political art, quotidian, city.
* Mestre em História da Arte pela Unicamp e aluno do Doutorado da Universidade de Brasília (UnB)
Este trabalho foi orientado pela Profa. Dra. Eleonora Zicari Costa de Brito e
contou com recursos da CAPES. E-mail: emerson_dionisio@hotmail.com
32 REVISTA ESBOÇOS Nº 18— UFSC
A Pinacoteca adverte que esta exposição apresenta
obras que podem ferir a sensibilidade moral ou religiosa dos
visitantes. Recomenda-se que menores de 16 anos sejam acom-
panhados por seus pais ou responsáveis.1
Interpretar uma obra de arte é propor uma teoria sobre o assunto de que
ela trata, sobre seu objeto e elementos constitutivos. Para alguns olhos, principal-
mente no mundo dos gostos da arte, essa premissa pode parecer corriqueira, mas
não o é na esfera da história da arte e da cultura. O trabalho desenvolvido nos
próximos parágrafos deseja discutir assuntos e conteúdos de determinadas obras
de arte e nasce de algumas inquietudes, na medida em que lida com uma arte de
fronteira, dividida entre as culturas argentina e brasileira.
Conheci as primeiras obras de León Ferrari (Bu-
enos Aires, 1920) em 2001, quando trabalhei no Mu-
seu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC).
Três esculturas em metal, da série instrumentos musi-
cais, desenvolvidas nos anos 80, e quatro gravuras não
intituladas, da série Plantas, decorrentes de um de-
senvolvimento técnico específico na carreira do artis-
ta, das quais três fazem parte das minhas preocupa-
ções.
Dessas gravuras, duas são obras impressas com carimbo metálico sobre
eucatex, realizadas em 1983. A primeira possui 159 x 159 cm (fig.1), e nela en-
contram-se pequenas figuras humanas estilisticamente representadas em 38 li-
nhas horizontais e verticais, perfazendo 1.444 sujeitos. Cada um deles está sen-
tado em uma espécie de mesa, simplificada por um pequeno quadrado, que nos
leva a compor a cena. Os pequenos apresentam-se em apenas quatro variações
de traços, e sua repetição induz o espectador a uma ilusão perceptiva. A segunda
gravura possui 119 x 84 cm (fig.2) e apresenta motivos semelhantes; são peque-
nas figuras humanas que partem das extremidades superior e inferior da obra em
direção a seu centro, onde aglomeram-se, deixando uma faixa de pouco mais de
7 cm em branco, como limite entre os dois grupos.
Fig. 1. Sem título,1983, impressão com carimbo metálico sobre eucatex, 159 x 159 cm. Acervo do
Museu de Arte Contemporânea de Campinas, foto: Rodrigo Biojone.
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