Por uma promoção democrática e dialógica da leitura

AutorHélio Márcio Pajeú, Wérleson Alexandre de Lima Santos
CargoDoutor em Linguística Professor titular da Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Ciência da Informação, Recife, Brasil heliopajeu@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-0657-1088 / Bacharel em Biblioteconomia werleson_ale@hotmail.com https://orcid.org/0000-0002-4682-6874
Páginas1-18
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, Florianópolis, v. 26, p. 01-18, 2021.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 1518-2924. DOI: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2021.e78364
Artigo
Original
POR UMA PROMOÇÃO DEMOCRÁTICA E
DIALÓGICA DA LEITURA
For a democratic and dialogic promotion of reading
https://orcid.org/0000-0002-0657-1088
https://orcid.org/0000-0002-4682-6874
A lista completa com informações dos autores está no final do artigo
RESUMO
Objetivo: O artigo tem como intuito traçar uma discussão teórica sobre os caminhos e ideais necessários para uma
democratização dialógica da leitura e para sua promoção enquanto um direito humano.
Método: As reflexões são tecidas em diálogo com textos de autores que t ratam da leitura como ato social, ideológico e
político, por meio de uma revisão bibliográfica.
Resultado: É visto como as condições sociais colaboram para o desenvolvimento das práticas de leitura, sua concepção
dentro de um orbe ideológico, bem como seu poder político como ferramenta de conscientização social e como
instrumento de ameaça a manutenção hegemônica do poder.
Conclusões: É necessária uma defesa a promoção da leitura arquitetada na dialogia, como fundamento de constituição
da cidadania e fortalecimento da democracia. Isso apresenta-se como dever de todo profissional mediador de cultura e
informação, como forma de garantir a plenitude do exercício de direitos pelo povo.
PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Democracia. Ideologia. Promoção da leitura. Direitos humanos.
ABSTRACT
Objective: The paper intends to draw a theoretical discussion about the paths and ideals needed for a dialogic
democratization of reading and for its promotion as a human right.
Methods: The discussions are drawn in dialogue with texts of authors who deal with reading as a social, ideological and
political act, by using literature review.
Results: It is seen how social conditions contribute to the development of reading practices, their conception within an
ideological orb, as well as their political power as a tool for social awereness and as an instrument of threat for the
hegemonic maintenance of power.
Conclusions: It is needed a defense of the promotion of reading built within the dialogy, as a basis for the constitution of
citizenship and strengthening of democracy. This shows up as a duty for each one that presents as culture and information
mediatior, as a way to ensure the full exercise of rights by the people.
KEYWORDS: Reading. Democracy. Ideology. Reading promotion. Human rights.
1 INTRODUÇÃO
uma disparidade no que tange a definição do que seja leitura na
contemporaneidade, é possível encontrarmos sujeitos enunciando sobre o tema e seus
objetos de maneiras bem distintas. Se procurarmos em um dicionário, por exemplo, seu
significado aparece como aquele mais elementar, como ação de ler; ato de decifrar o
conteúdo escrito de algo. Ação de compreender um texto escrito” (DICIO, 2018). Não é
Hélio Márcio Pajeú
Doutor em Linguística
Professor titular da Universidade Federal de Pernambuco,
Departamento de Ciência da Informação, Recife, Brasil
heliopajeu@gmail.com
Wérleson Alexandre de Lima Santos
Bacharel em Biblioteconomia
werleson_ale@hotmail.com
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, Florianópolis, v. 26, p. 01-18, 2021.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 1518-2924. DOI: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2021.e78364
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espantosa, contudo, tal definição, visto que ela é algo, extremamente, comum de se deparar
ao pensarmos em primeiro momento sobre o que seria a “leitura”.
De acordo com Britto (2012), chamamos de leitura diversas ações que são, em sua
finalidade, bastante distintas. Se pegarmos uma bula com o objetivo de sabermos quais
efeitos aquele remédio terá em nosso corpo, estamos realizando uma leitura, mas uma
leitura tipicamente informativa, que não é a mesma que a leitura de um romance do Stephen
King. A leitura da bula pode ser tida como uma simples decodificação dos signos
linguísticos, na qual compreendemos o que está escrito e processamos aquela informação,
sem trazer grandes reflexões acerca do texto e seu conteúdo e sem estabelecer algum tipo
de relação mais profunda com o mesmo (algo bem consonante com a definição de
dicionário). Esse mesmo tipo de leitura informativa ou decodificadora pode ser feita ao
lermos placas de trânsito, panfletos, propagandas eleitorais, anúncios de vitrine etc.
Contudo, falar de ler dando início pela palavra escrita é ignorar o fato de que nenhum de
nós nasce, efetivamente, sabendo fazê-lo; antes mesmo de sabermos unir sílabas e
compreender o que elas representam, nós realizamos uma leitura primordial para a relação
com a leitura do escrito: a leitura de mundo.
Ler o mundo é sentir, observar e conhecer o contexto no qual somos inseridos; é viver
os detalhes e observar a realidade, assimilando-a mesmo sem ter consciência disso.
Quando olhamos um rio em seu curso, ao conhecer a palavra “rio”, saberemos do que se
trata, pois já teremos o lido no mundo dado que “a leitura do mundo precede a leitura da
palavra”, como tão brilhantemente nos alerta Paulo Freire (2008, p. 11). Para compreender
um texto (palavra), é preciso antes compreender o mundo no qual estamos inseridos, pois
a leitura do mundo auxilia na constituição da identidade e da subjetividade de todo ser
humano.
A palavra surge a partir da vivência dos sujeitos em seus mundos, e a vivência nesse
mundo abrilhanta e completa a vivência na palavra, bem como as percepções desse mundo
ajudam nas percepções do texto; e o texto, por sua vez, nada mais é que um fragmento de
um mundo e de uma realidade, e tal relação não pode ser desconstruída. Ao ler e escrever,
o leitor revive seu passado e reescreve dentro de si o que lê a partir do momento em que a
experiência de leitura se encontra com seu acervo de memória.
Desse modo, o texto é o elemento de materialização da palavra, tomada como
discurso, que clareia as esferas da cultura como o lugar de interação entre sujeitos, lugar
de consolidação das relações cotidianas sólidas, que representam a vida repleta de
sentidos, de tons emotivo-volitivos diversos, dos sujeitos verdadeiramente humanos que

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