UMA PUTA EDUCADORA: ENTREVISTA COM INDIANARA ALVES SIQUEIRA

AutorJaqueline Gomes de Jesus
Páginas57-67
GÊNERO | Niterói | v.14 | n.1 | 2.sem.2013 57
UMA PUTA EDUCADORA:
ENTREVISTA COM INDIANARA ALVES SIQUEIRA
Jaqueline Gomes de Jesus
Universidade de Brasília
E-mail: jaquebrasilia@gmail.com
Uma mulher normal, de peito e pau. É assim que costuma se identificar a
prostituta — há 26 anos na profissão, prefere mesmo é ser chamada, carinho-
samente, de puta1 — e coordenadora da ONG carioca TransRevolução, India-
nara Alves Siqueira (Figura 1), nas conversas mais intimistas ou em palestras para
dezenas ou centenas de pessoas.
Figura 1: Foto da capa de perfil no Facebook.
Fonte: https://www.facebook.com/indianara.siqueira?fref=ts
1 Recomendo assistir o vídeo “Porque Gabriela gosta da palavra puta”, disponível em https://youtu.be/CvKkGPiXv0o, no qual
aparece Gabriela Leite — prostituta como Indianara, falecida em 2013. Era reconhecida nacionalmente por sua militância pelos
direitos dos profissionais do sexo e regulamentação do trabalho. Foi fundadora da ONG Davida e idealizadora da grife DASPU.
Pude assistir um de seus desfiles em Belo Horizonte, no dia 4 de novembro de 2006, durante o VI Congresso Brasileiro de DST/
Aids, com a presença da própria Gabriela, ao som do refrão “Daspu é uma puta parada, Daspu é uma parada de puta” — explica a
sua predileção pelo uso da palavra “puta”, tanto pela sonoridade quanto pelo seu conteúdo empoderador (no sentido de gerar iden-
tidades políticas), transgressor e revelador da moralidade machista sobre os corpos das trabalhadoras do sexo. Tal posicionamento
corrobora o afirmado em Jesus (2012), no que tange à capacidade dos movimentos sociais de gerar reconhecimento público e
valorização intragrupal de identidades sociais deterioradas (estigmatizadas), conforme a definição de estigma por Gofman (1988).

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