UNIVERSIDADE PÚBLICA, GÊNERO E PRODUÇÃO ACADÊMICA

AutorAndréa Giordanna Araujo da Silva, Erica Bianco de Souza Queiroz
Páginas24-50
24 GÊNERO | Niterói | v. 21 | n. 1 | p. 24-50 | 2. sem 2020
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UNIVERSIDADE PÚBLICA, GÊNERO E PRODUÇÃO ACADÊMICA
Andréa Giordanna Araujo da Silva1
Erica Bianco de Souza Queiroz2
Resumo: O estudo identifica os espaços reservados à discussão sobre a
mulher e aos estudos de gênero na Universidade Federal de Alagoas. Tratada
política de cotas por gênero e da inserção do debate das questões políticas e
culturais que permeiam a questão do gênero nas produções acadêmicas no
âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão. O estudo mostra que ainda que
avanços em torno da discussão de gênero no ambiente acadêmico tenham
ocorrido, o debate está circunscrito ao campo das Ciências Humanas, sendo
amparado numa produção acadêmica limitada e insuficiente para o contexto
sociocultural em que se insere a universidade pública.
Palavras-chave: nero; universidade; políticas afirmativas.
Abstract: This study identifies the spaces reserved for discussion about women
and gender studies at the Federal University of Alagoas. It addresses the quota
policy by gender and the role of this debate on political and cultural issues that
permeate the issue of gender in academic productions, within the scope of
teaching, research, and extension. Advancements in the discussion of gender
in the academic environment are discussed, but debate is limited to the field of
humanities and is supported by limited and insucient academic production for
the socio-cultural context in which the public university is situated.
Keywords: Gender; university; Armative policies.
1 Doutora em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco. Professora do Centro de
Educação da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Brasil. E-mail: andrea.giordanna@cedu.ufal.br.
Orcid: 0000-0002-5907-2856
2 Pós-graduada em Pedagogia Empresarial pelo Centro Universitário Internacional (Uninter).
E-mail: eriicabianco@gmail.com. Orcid: 0000-0003-4566-1593
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Introdução
Neste estudo, entende-se como “produção acadêmica” o conjunto das
atividades e dos produtos desenvolvidos, no âmbito da pesquisa, do ensino
e da extensão, no interior da universidade. Logo, considerando as ques-
tões de gênero como debate ainda inaugural na produção acadêmica bra-
sileira, o estudo aborda os espaços reservados à discussão de gênero3 na
Universidade Federal de Alagoas (Ufal), mais especificamente nos cursos
de formação de professores. Assim, por meio da realização da pesquisa
documental, investigou-se como tem ocorrido a inserção das discussões
sobre gênero em uma universidade pública da região do Nordeste do Brasil.
De acordo com os estudos históricos, Bertha Lutz pode ser apontada
como a precursora do movimento feminista no Brasil (BLAY, 2001). Ela foi
líder da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, organização criada
em 1922 em prol dos direitos da mulher. No início do século XX, a ativista
uniu-se a um grupo de mulheres da burguesia e, de avião, arremessaram
panfletos pelo Rio de Janeiro nos quais demandavam o direito ao voto para
as mulheres. Graças às reivindicações e ao fortalecimento da luta, o direito
foi estabelecido pelo Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, o qual
definia como eleitores pessoas maiores de 21 anos, sem quaisquer distin-
ções sexuais (BRASIL , 1932).
Todavia, o debate sobre o papel da mulher na realidade brasileira tomou
força a partir de 1970. À discussão e conceituação de gênero foram acres-
centadas a dimensão política e as relações de poder, o que formou um
amplo, multifacetado e complexo panorama de debates. Várias pesquisas
sobre gênero foram despendidas a diversos campos do conhecimento, com
destaque particular para aquelas que abordavam o lugar da mulher na socie-
dade, com o intuito de compreender os processos e conflitos que envolvem
o gênero. Ganhou evidência, portanto, a problemática da luta das mulheres
para a superação de um sistema de exploração e submissão.
Para Silva (2008), a conquista desse espaço nas narrativas históricas
se deu a partir da Escola de Annales, movimento historiográfico surgido
na França durante a primeira metade do século XX, que tem como pro-
posta o abandono de uma visão positivista da escrita da história, soberana
no final do século XIX e início do século XX. Portanto, o novo modelo
pôs em questionamento a historiografia tradicional, apresentando novos
3 Levando em consideração a abrangência do tema, realizou-se um específico recorte de gênero, centrado
na mulher.

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