Pode-se utilizar a desconstrução na pesquisa teórica em psicanálise?

AutorCharles Elias Lang - Juliana Falcão Barbosa
CargoProfessor Doutor nos cursos de graduação e pós graduação em Psicologia na Universidade Federal de Alagoas. Psicanalista, analista membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre - Psicóloga, mestranda em Psicologia no Programa de Mestado em Psicologia da Universidade Federal de Alagoas
Páginas75-99
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2012v13n102p75
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.13, n.102, p.7 5-99 jan/jul 2012
Pode-se utilizar a desconstrução
na pesquisa teórica em psicanálise?
Can deconstruction be used
in the theoretical research on psychoanalysis?
Charles Elias Lang1, Juliana Falcão Barbosa2
Resumo
Este trabalho discute questões acerca de metodologias de pesquisa e de leitura,
com o objetivo de discutir sobre a possibilidade de se utilizar a desconstrução como
estratégia de leitura para as pesquisas teóricas em psicanálise. Tomamos como
ponto de partida, algumas questões apontadas por Thomas Kuhn (1969/1987) em
seu livro A estrutura das revoluções científicas, sobre o que são os manuais
científicos, ou seja, os livros através dos quais uma nova geração de praticantes de
uma ciência é introduzida em seu ofício. Em seguida, apresentamos alguns tipos,
métodos e etapas de pesquisa, utilizando um manual científico como guia para os
pontos que buscamos abordar. Apontamos a pesquisa teórica como um tipo de
pesquisa no qual, em geral, subestima-se ou exclui-se a apresentação da
metodologia e dos protocolos de leitura que conduziram a pesquisa. Neste cenário,
tomamos a pesquisa teórica em psicanálise como problemática para discutirmos
algumas questões de pesquisa. Por fim, apresentamos e propomos as estratégias
desconstrucionistas como fundo para a metodologia de leitura na pesquisa teórica
em psicanálise.
Palavras-chave: Metodologia de pesquisa. Manuais científicos. Desconstrução.
Pesquisa teórica. Psicanálise.
Abstract
This work discusses approaches about research and reading methodologies, aiming
to discuss about the possibility of using deconstruction as a reading strategy for
theoretical research, in psychoanalysis. As a starting point, we take some of the
issues pointed by Thomas Kuhn (1969/1987) in his book The structure of scientific
revolutions, about what the scientific manuals are, that is, the books through which a
new generation of science researchers is introduced to their practice. Next, we
present some types, methods and stages of research using a scientific manual as a
guide for the topics we intend to approach. We point out the theoretical research as
a type of research in which, generally, the presentation of the methods and the
reading protocols that conducted the research are underestimated or excluded. In
1 Professor Doutor nos cursos de graduação e pós graduação em Psicologia na Universidade Federal
de Alagoas. Psicanalista, analista membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre. E-mail para
contato: charleslang@pop.com.br.
2 Psicóloga, mestranda em Psicologia no Programa de Mestado em Psicologia da Universidade
Federal de Alagoas. E-mail para contato: juliana.falcao@gmail.com.
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
76
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.13, n.102, p.75-99 jan/jul 2012
this scenario, we take the theoretical research in psychoanalysis as problematic to
discuss some research matters. Finally, we present and propose the deconstructive
strategies as a background for the reading methodology in the theoretical research
on psychoanalysis.
Key Words: Research methodology. Scientific manuals. Deconstruction. Theoretical
research. Psychoanalysis.
Considerações preliminares
Umas das primeiras coisas que todo jovem pesquisador tem a enfrentar são
os manuais científicos, ou seja, a forma como se transmite a ciência normal de uma
geração para outra. O jovem pesquisador ainda não sabe que quando ocorre uma
revolução científica, todos os manuais são reescritos, e a própria história daquela
ciência a que aspira é restabelecida. E ao reescrever-se a história da ciência, novos
compromissos são estabelecidos, novos precursores são entronados.
Se no ponto de partida da formação científica fôssemos informados disso,
logo saberíamos que a solidez e a autoridade do discurso científico, a própria ciência
e a transmissão da ciência estão na dependência de um trabalho de escrita, de
escritura. E é pela escritura que se estabelecem os compromissos teóricos
constitutivos de um paradigma científico. Dentre esses compromissos, alguns têm o
caráter de teorias empíricas, enquanto outros são de natureza metodológica e
axiológica, ou de ordem ontológica.
Ao nos depararmos com trabalhos científicos, percebemos que na descrição
da metodologia utilizada para as pesquisas teóricas, a questão do processo de
leitura-escritura realizada pelo pesquisador tende a ficar oculto. Pretendemos, neste
texto, abordar as metodologias e estratégias de leitura possíveis privilegiadamente
a desconstrução nas pesquisas teóricas em psicanálise.
Thomas Kuhn, ao escrever o seu livro A estrutura das revoluções cientificas
(1969/1987), lembra-nos da importância do acordo intersubjetivo que está à base da
pesquisa cientifica, ou seja, que a ciência é algo que, fundamentalmente, se dá na
comunicação intersubjetiva, e baseada no pressuposto de que a comunidade
científica sabe como é o mundo:
A pesquisa eficaz raramente começa antes que uma comunidade científica
pense ter adquirido respostas seguras para perguntas como: quais são as
entidades fundamentais que compõem o universo? Como interagem essas
entidades umas com as outras e com os sentidos? Que questões podem

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT