Sobre velhices e protagonismos femininos: questões de gênero e geração

AutorSimone Dourado, Daiany Cris Silva
CargoDoutora em Ciências Sociais, Universidade Estadual de Maringá, Brasil/Mestre em Ciências Sociais, Universidade Estadual de Maringá, Brasil
Páginas234-255
234GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 1 | p. 234-234 | 2. sem 2021
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SOBRE VELHICES E PROTAGONISMOS FEMININOS:
QUESTÕES DE GÊNERO E GERAÇÃO
Simone Dourado1
Daiany Cris Silva2
Resumo: Este artigo discute como as categorias gênero e geração são
importantes marcadores para a compreensão da trajetória de vida de mulheres
idosas. Colocamos em diálogo a vertente dos estudos geracionais, ancorada
no pensamento de Karl Mannheim, e a abordagem de gênero, que tem como
referência os trabalhos de Joan Scott. Discutimos, também, como as pesquisas
sobre envelhecimento se valem dessas produções sobre geração e gênero para
compreender o envelhecimento feminino. A pesquisa empírica que confere
suporte a este artigo contou com a realização de cinco entrevistas com mulheres
que estão acima dos 60 anos e que mantêm uma vida pública ativa.
Palavras-chave: Gênero; Geração; Envelhecimento.
Abstract: This article discusses how the categories of gender and generation
are important markers for understanding the life trajectory of older women.
To this end, it dwells on Karl Mannheim’s generational theory and Joan
Scott’s approach to gender, discussing how research on aging employs these
productions to understanding female aging. This empirical research was
conducted with data collected by means of interviews with five women over
60 years old who keep an active public live.
Keywords: Gender; Generation; Aging.
1 Doutora em Ciências Sociais, Universidade Estadual de Maringá, Brasil. E-mail: simone.dourado890@gmail.com.
Orcid: 0000-0001-5140-5866
2 Mestre em Ciências Sociais, Universidade Estadual de Maringá, Brasil. E-mail:daianycriss@gmail.com.
Orcid: 000-0002-1897-9777
Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-
NãoComercial 4.0 Internacional.
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GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 1 | p. 234-255 | 2. sem 2021
Introdução
Prendam as avós em casa (rebelião da terceira idade na quarentena)! Esses dias
mesmo falei com minha bisavó e ela me disse que estava indo ao forró porque,
segundo ela, ela já tinha vivido demais e não era um corona que ia impedir ela
de ir ao forró. Felizmente, o forró foi fechado e ela está proibida de sair de casa.
(PRENDAM …, 2020).
O trecho citado é a fala de um jovem influenciador digital em seu
canal no YouTube. Durante a pandemia de covid-19, esse jovem tomou a
velhice como um dos elementos centrais para os conteúdos de seus vídeos.
Suas falas são um pequeno anúncio das piadas feitas contra os idosos e,
particularmente, contra as mulheres idosas, na atualidade. A sociabili-
dade estabelecida em tempos de pandemia é, sobretudo, a virtual, o que
facilita a circulação de vídeos, áudios, figurinhas e os chamados “memes”.
Recentemente, Toledo e Souza Junior (2020) se perguntam sobre a exis-
tência de uma sociabilidade pandêmica e mostram como a “memeficação”
da pandemia tomou conta das redes sociais, criando um clima de despoli-
tização que tem sustentado posturas negacionistas em relação às orienta-
ções de controle da covid-19. Os idosos se tornaram personagens centrais
dessa “memeficação”, como mostra o jovem youtuber citado acima em
muitos vídeos reproduzidos em seu canal. Os mais velhos se tornaram pro-
tagonistas de situações ridículas: fugas de casa, resistência às orientações
de distanciamento social, dificuldades de diferentes ordens no uso das for-
mas de sociabilidade virtual e as mulheres idosas são ridicularizadas de uma
forma ainda mais perversa: são aprisionadas na imagem da avó dependente
que deve ficar em casa.
A situação atual confirma que há, como destaca Wivian Weller (2010),
uma atualidade no uso do conceito de geração como ferramenta analítica.
Posto que, por estar em uma faixa etária classificada do envelhecimento,
se espera que os indivíduos cumpram determinados papéis. Aos idosos,
de forma ampla, cabe o papel de abstenção da vida pública, e às mulheres
idosas, em específico, o cumprimento das funções domésticas e dos cui-
dados. Ao definir a participação de mulheres idosas na vida pública como
nosso tema neste artigo, buscamos uma relação entre essas duas categorias
que, sob a nossa perspectiva, melhor representam o movimento dinâmico
de uma sociedade, suas mudanças e transições: geração e gênero. As traje-
tórias das mulheres aqui apresentadas foram recolhidas antes do contexto

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