A violência contra as mulheres no brasil: uma análise feminista, antirracista e anticapitalista

AutorRenata Gomes da Costa - Mariana Teixeira da Paz - Carolina Rubano de Oliveira
CargoDoutora em Serviço Social. Professora Adjunta da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO - Graduanda em Serviço Social na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO - Graduanda em Serviço Social na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Estado do...
Páginas547-564
A VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NO BRASIL: uma análise feminista, antirracista e
anticapitalista
Renata Gomes da Costa
1
Mariana Teixeira da Paz
2
Carolina Rubano de Oliveira
3
Resumo
O presente artigo analisa alguns dos resultados do projeto de pe squisa “Os funda mentos da violência contra as mulheres no
Brasil”, que investiga a origem e a estrutura deste fenômeno, com base em uma análise documental no Atlas da Violência
2020,no Anuário de Segurança Pública 2020 e no documento Estatísticas de gênero indicadores sociais das mulheres no
Brasil (IBGE-2018), para coletar dados referen tes às situações de violência contra as mulheres.Após essa sistematização, faz
uma revisão da literatura empírica, ou seja, reinterpreta os dados a partir de um debate teórico que articula violência contra as
mulheres, racismo e patriarcado. O principal resultado da investigação aponta que a violência é uma das consequências da
imbricação dos três sistemas de dominação-exploração, ou seja: patriarcado, racismo e cap italismo.
Palavras-chave: Patriarcado. Racismo. Capitalismo. Violência contra as mulheres.
VIOLENCE AGAINST WOMEN IN BRAZIL: a feminist, antiracist, and anticapitalist analysis
Abstract
This paper analyzes some of the results of the research program “The foundations of violence against women in Brazil”, which
investigates the origin and structure of this. In 2020, a documentary analysis based on the “Atlas of Violence 2020”, in the
“Yearbook of Public Security 2020” and in the “Gender statistics social indicators of women in Brazil (IBGE-2018)” document, to
collect data referring to situations of violence against women. After this summing up, a review of the empirical literature, that is,
reinterprets the data from a theoretical debate that connects violence against women, racism, and patriarchy. The main result
points out that violence is one of the consequences of the overlapping of the three systems of domination -exploitation, namely:
patriarchy, racism, and capitalism.
Keywords: Patriarchy. Racism. Capitalism. Violence against women
Artigo recebido em: 15/04/2021 Aprovado em: 20/11/2021
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v25n2p547-564
1
Doutora em Serviço Social. Professora Adjunta da Escola de Serviço Social da Universidade F ederal do Estado do Rio de
Janeiro - UNIRIO. E-mail: renata.costa@unirio.br
2
Graduanda em Serviço Social na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO. E-
mail: marianapaz@edu.unirio.br
3
Graduanda em Serviço Social na Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO.. E-
mail: carolinarubano@edu.unirio.br
Renata Gomes da Costa, Mariana Teixeira da Paz, Carolina Rubano de Oliveira
548
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo analisa e debate alguns dos resultados do projeto de pesquisa “Os
fundamentos da violência contra as mulheres no Brasil”. O projeto é implementado, desde 2019, na
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e investiga os elementos econômicos e
sociais que originam e estruturam a violência contra as mulheres na realidade brasileira.
No aspecto metodológico, a pesquisa é realizada por meio de uma investigação e análise
documental nas principais estatísticas nacionais sobre a violência contra as mulheres. Os dados são
colhidos e sistematizados a partir de um referencial bibliográfico que articula violência, patriarcado, racismo
e capitalismo.
No ano de 2020, o projeto foi executado a partir de duas estratégias: 1) análise dos dados do
Anuário brasileiro de Segurança Pública 2020; do Atlas da violência 2020; e dodocumento “Estatísticas de
gênero indicadores sociais das mulheres no Brasil (IBGE-2018); 2) articulação dos dados com a pesquisa
bibliográfica sobre violência, racismo e patriarcado. O referencial teórico da pesquisa se fundamentou,
principalmente, nos trabalhos de: Guerda Lener (2019), Paola Tabet (2014), Heleieth Saffioti (1985; 1987;
1988; 1993; 1994; 2000; 2015), Helena Hirata (2002; 2001; 2009; 2011; 2018) e Lélia Gonzalez
(2010;2018).
Os dados usados na pesquisa são de relatórios nacionais já compilados. Nosso percurso
metodológico foi selecionar os principais resultados estatísticos sobre a violência contra as mulheres e
realizar um tratamento teórico dessa realidade expressa nos dados, ou seja, uma revisão da literatura
empírica.
A violência contra as mulheres é consequência da estrutura patriarcal e racista, fruto de uma
organização em sociedade fundamentada em desigualdades socioeconômicas entre homens, mulheres,
brancos e negros. No Brasil, a visão convencional (senso comum) sobre o tema trata a violência contra as
mulheres como consequência de um mau comportamento por parte das mulheres, que fere algumas regras
sociais e familiares em relação aos papéis de gênero impostos em uma sociedade estruturada pelo
patriarcado.
Ao longo de várias décadas, principalmente a partir dos anos de 1960, o fenômeno da
violência como sinônimo de problemas entre o casal ou entre a família foi questionado tanto pelo
movimento feminista como por intelectuais e pesquisadoras nas universidades. Este processo resultou em
algumas conquistas jurídicas, de acesso a direitos, às políticas sociais e em um amplo arcabouço teórico

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