Violência contra a mulher: representações sociais de adolescentes

AutorAna Márcia de Almeida Rezende - Joilson Pereira da Silva
CargoMestranda em Psicologia Social pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade Federal de Sergipe, Graduada em Psicologia pela mesma universidade em Aracaju, SE, Brasil - Doutor em Psicologia pela Universidade Complutense de Madri-Espanha
Páginas212-230
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2018v15n1p92
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.15, n.1, p.92-110 Jan.-Abr. 2018
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE
ADOLESCENTES Ana Márcia de Almeida Rezende
1
Joilson Pereira da Silva
2
Resumo:
A violência contra a mulher nas relações íntimas de afeto é um problema grave, que
acarreta danos as suas vítimas. No imaginário social existem modos de pensar e
representações banalizadoras desse tipo de violência, considerando-a uma prática
natural. Nesse sentido, este artigo traz um estudo que objetivou conhecer as
representações sociais elaboradas por adolescentes sobre a violência contra a mulher
nas relações afetivas. Os dados foram coletados por meio de entrevista semi-
estruturada, realizada com 22 adolescentes, e analisados através da técnica de
análise de conteúdo (BARDIN, 2011). Os resultados revelaram que os/as
adolescentes representam a violência contra a mulher objetivada em um fenômeno
cotidiano, que acontece inclusive em suas famílias. Eles/elas também elaboraram
representações sociais ancoradas no patriarcado, em que o homem usa a violência
como meio para dominar a parceira. Observou-se a necessidade de trabalhos
preventivos que conscientizem os/as adolescentes acerca das ideologias patriarcais
presentes na sociedade, ajudando-os/as a construírem representações sociais
fundamentadas no respeito e na equidade de gênero.
Palavras-chave: Violência Contra a Mulher. Relações Afetivas. Representações
Sociais. Patriarcado. Adolescentes.
1 INTRODUÇÃO
A violência contra a mulher é um fenômeno que atinge diversos países ao redor
do mundo, inclusive o Brasil. A World Health Organization (2013) a considera como
problema de saúde pública e violação dos direitos humanos das mulheres. Para essa
entidade, a violência contra a mulher envolve um padrão de comportamentos que
limita a participação de meninas e mulheres na sociedade, e prejudica sua saúde e
bem-estar. Segundo estimativas internacionais, mais de um terço das mulheres em
todo o mundo são vítimas de agressões físicas ou sexuais, significando um problema
de saúde pública global (WHO, 2013). No caso do Brasil, estudo revelou que entre
1980 e 2013 foram assassinadas 106.093 mulheres. Em 1980 o número de mortes foi
1
Mestranda em Psicologia Social pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da
Universidade Federal de Sergipe, Graduada em Psicologia pela mesma universidade em Aracaju, SE,
Brasil. E-mail: anamarcia.almeidarezende2@gmail.com
2
Doutor em Psicologia pela Universidade Complutense de Madri-Espanha e Pós-Doutorado em
Psicologia pela Universidade Autônoma de Barcelona-Espanha. Professor na Pós-graduação em
Psicologia da Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE, Brasil. E-mail: joilsonp@hotmail.com
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de 1.353 passando para 4.762 em 2013, o que representou aumento de 252% no
quantitativo de assassinatos. Esse aumento fez o Brasil ter uma média de 4,8
homicídios para cada 100 mil mulheres, índice superior ao de países como Paraguai
e Argentina (1,8 e 1,4 respectivamente) (WAISELFISZ, 2015), o que demonstra a
grave dimensão do problema no país.
Porém, apesar dos altos índices de violência registrados, há uma tendência na
literatura a se evitar a expressão “violência contra a mulher”, pois esta denota situação
em que o homem sempre é o agressor e a mulher a vítima. Em substituição tem sido
preferido o termo “violência entre parceiros íntimos”, definido como situação de
violência física, violência sexual, perseguição, e/ou agressão psicológica cometidas
por um/a parceiro/a íntimo atual ou antigo (BREIDING; BASILE; SMITH, BLACK;
MAHENDRA, 2015). Esta definição tem uma dimensão inovadora, pois traz a ideia de
que a violência é fruto da relação entre parceiros íntimos, sejam estes heterossexuais
ou homossexuais, homens ou mulheres, rompendo com a visão tradicional do
agressor/vítima (CEZÁRIO; FONSECA; LOPES; LOURENÇO, 2015).
Nesse ínterim, outra questão na literatura refere-se à simetria/assimetria de
gênero na violência entre parceiros afetivos. A partir do entendimento de que a mulher
também pode ser agressora, passou-se a discutir a simetria da violência nos
relacionamentos (OLIVEIRA, 2004; WHITAKER; HAILEYESUS; SWAHN;
SALTZMAN, 2007). Assim, ambos os sexos seriam agressores, constatação que
gerou debates entre os estudiosos. Contudo, como propõe Casimiro (2008), a questão
não é definir o principal agressor, nem comprovar se há simetria, pois as agressões
de homens e mulheres são distintas entre si. Assim, para esse autor, o fundamental é
a investigação em torno dessas diferenças, a fim de se alcançar uma compreensão
aprofundada sobre a problemática da violência nos casais.
No presente estudo, embora se considere que homens e mulheres podem ser
agressores, o foco está exclusivamente sobre a violência contra a mulher. E isto se
justifica devido ao Brasil ser um país marcado por desigualdades de gênero, em que
há índices alarmantes de violência perpetrada por homens contra suas parceiras
(VENTURI; GODINHO, 2013; WAILSELFSZ, 2015). Desse modo, faz-se relevante
compreender o fenômeno da violência contra a mulher em profundidade, pois este é
um problema de considerável repercussão nacional.
A literatura aponta o sistema patriarcal como um dos responsáveis pela
manutenção de agressões contra a mulher (SAFFIOTI, 2004). Por ser um sistema

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