Loïc Wacquant. As duas faces do Gueto. São Paulo: Boitempo, 2008.

AutorChristiane Pimentel e Silva
CargoUniversidade Federal do Pará (UFPA)
Páginas119-120

Page 119

As duas faces do Gueto

Loïc Wacquant é sociólogo, pesquisador, professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e pesquisador do Centro de Sociologia Européia em Paris. No Brasil já foram editadas duas de suas obras: As prisões da miséria e Punir os Pobres – A nova gestão da miséria nos EUA.

O Livro As duas faces do gueto, lançado em 2008, é composto de artigos, palestras, aulas e ensaios dispostos ao longo de nove capítulos, sendo resultado de pesquisas, realizadas durante uma década, voltadas à marginalidade urbana nas sociedades avançadas do ocidente capitalista.

O autor aborda o desvio da estratégia governamental em direção à pobreza, sob a ótica da pesquisa comparada entre conjuntos habitacionais da periferia urbana da França, que são conhecidos por cités, e os guetos nos Estados Unidos.

A pesquisa busca construir um conceito analítico para o termo “gueto” especificando sua forma social e suas características constitutivas, pois, de acordo com Wacquant, freqüentemente o termo é utilizado a partir de um conceito descritivo: ora se referindo a um setor urbano restrito, ora a uma rede de instituições ligadas a um grupo específico, ora a uma constelação cultural e cognitiva que implica tanto o isolamento sociomoral de uma categoria estigmatizada quanto à “amputação sistemática” do espaço e das oportunidades de vida de seus integrantes.

Para melhor compreender a distinção entre pobreza, segregação e aglomeração étnica, o autor expõe:

  1. A pobreza é uma característica freqüente, porém derivada e variável dos guetos, pois o fato de um gueto ser pobre ou não depende de fatores exógenos como a demografia, a ecologia, as políticas públicas do Estado e o desempenho da economia circundante;

  2. Se todos os guetos são segregados, nem todas as áreas segregadas são guetos, isso porque a segregação residencial é uma condição necessária, mas não suficiente, para a guetonização em que o confinamento espacial é imposto e abrange, de certa maneira, todos os campos da existência sobrepondo-se a ele uma série distintiva de instituições duplicativas que permitem ao grupo isolado a perpetuação dentro dos limites do perímetro que lhe foi estabelecido;

  3. Guetos e bairros étnicos têm estruturas divergentes e funções opostas na medida em que o gueto é um local de isolamento material e simbólico enquanto que o bairro étnico serve para assimilação por meio do aprendizado cultural e da mobilidade sócio-espacial.

Para Wacquant, o gueto acentua a...

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