Aglomeração industrial e meio ambiente em debate: o caso do segmento têxtil-vestuarista da microrregião do Alto Vale do Itajaí ? Santa Catarina

AutorElaine Cristina de Oliveira Menezes, Paulo Henrique Freire Vieira
CargoGraduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Catarina (1998), mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002) e doutora em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade do Vale do Itajaí (Itajaí). - Graduado em...
Páginas225-256
Artigo
Aglomeração industrial e meio ambiente
em debate: o caso do segmento
têxtil-vestuarista da microrregião do
Alto Vale do Itajaí – Santa Catarina
Elaine Cristina de Oliveira Menezes*
Paulo Henrique Freire Vieira**
Resumo
Este artigo focaliza a gênese e as transformações operadas no segmento
industrial têxtil-vestuarista na microrregião do Alto Vale do Itajaí, a partir do
início dos anos 1990. Busca-se caracterizar e avaliar os principais impactos
socioambientais desse segmento. A pesquisa apresenta uma abordagem
qualitativa e quantitativa, aliando as técnicas de entrevistas semiestrutura-
das à aplicação de questionários. Os resultados do estudo demonstraram
que a aglomeração industrial em questão é caracterizada como informal,
verificando-se a ausência de uma governança em parceria, fruto do baixo
grau de cooperação existente entre e intrafirmas. Além disso, a pesquisa
demonstrou limitações relacionadas à articulação da atividade industrial
têxtil-vestuarista com a questão socioambiental e o longo prazo. Do ponto
de vista socioambiental, a ação dessa atividade, no território, reflete-se não
só a partir de inúmeros impactos biofísicos, mas também sociais. Foram
apontadas, todavia, margens de manobra que sinalizam para a internalização
gradativa da dimensão socioambiental entre os atores locais.
Palavras-chave: Desenvolvimento territorial sustentável, aglomeração
industrial, impacto socioambiental.
* Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Santa Catarina
(1998), mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina
(2002) e doutora em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa
Catarina. Professora do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade
do Vale do Itajaí (Itajaí). Endereço eletrônico: eoliveira.menezes@gmail.com.
** Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Doutor em
Ciência Política pela Ludwig-Maximilians Universität München, Alemanha. Professor
titular do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de
Santa Catarina e pesquisador do CNPq. Coordena o Núcleo Interdisciplinar de Meio
Ambiente e Desenvolvimento (NMD), vinculado ao Programa de Pós-Graduação
em Sociologia Política da UFSC. Endereço eletrônico: vieira.p@cfh.ufsc.br.
226 p. 225 – 255
Volume 9 – Nº 16 – abril de 2010
Introdução
O
complexo industrial têxtil-vestuarista contribuiu significativa-
mente para o processo de formação socioeconômica do Estado
de Santa Catarina. Esse complexo industrial é, com efeito, parte de
um segmento tradicional e vem, nas últimas décadas, conforme Lins
(2005), sofrendo inúmeras transformações em função da abertura
econômica e das pressões do mercado mundial, o que culminou
na reconfiguração da atividade dentro do seu próprio território.
Importa salientar que essa reconfiguração acarretou o processo
de interiorização do segmento, especialmente do Médio Vale em
direção ao Baixo e Alto Vale do Itajaí, bem como para outras ma-
crorregiões do estado de Santa Catarina.
Evidencia-se que todas essas transformações vêm, também,
sendo alvo de inúmeras discussões sobre o esgotamento do cha-
mado modelo de desenvolvimento catarinense (VIEIRA & CUNHA, 2002;
LENZI, 2000). Esse debate é, de fato, reflexo dos desafios que são
colocados às estruturas produtivas atuais, uma vez que os padrões
de desenvolvimento requerem do setor produtivo uma perspectiva
mais ampla de atuação, que contemple aspectos socioeconômicos,
sociopolíticos e socioambientais do desenvolvimento. Diante des-
sas constatações, buscou-se refletir, neste trabalho: “Quais são os
entraves existentes, dentro do quadro de evolução da aglomeração
industrial têxtil-vestuarista do Alto Vale do Itajaí, à incorporação
das preocupações com a dimensão socioambiental do desenvolvi-
mento? Assim, a partir da questão central da pesquisa, procurou-se
identificar os fatores condicionantes do surgimento e da evolução
da atividade têxtil-vestuarista na microrregião do Alto Vale Itajaí;
aprofundar sua estrutura, organização e modos de coordenação,
além de avaliar os aspectos relativos aos principais impactos socio-
ambientais gerados por esse segmento.
Tendo isso em vista, apresenta-se uma visão cursiva da
metodologia e do enfoque analítico adotado, bem como os
resultados subdivididos nas seguintes seções: trajetória socioe-
conômica do Alto Vale do Itajaí e estrutura da aglomeração in-
dustrial têxtil-vestuarista; padrões de articulação do aglomerado
227
p. 225 – 255
Elaine Cristina de Oliveira Menezes Paulo Henrique Freire Vieira
Aglomeração industrial e meio ambiente em debate: o caso do segmento
têxtil-vestuarista da microrregião do Alto Vale do Itajaí – Santa Catarina
Artigo
têxtil-vestuarista; impactos socioambientais dessa indústria; e,
por fim, as principais conclusões.
1. Aspectos metodológicos
Este estudo é do tipo empírico e vale-se de um arcabouço
teórico para norteá-lo. Caracteriza-se, também, como um estudo
exploratório-descritivo-analítico. Exploratório-descritivo, pois
pretende descrever as características do fenômeno (TRIVIÑOS,
1987). Objetiva-se, ainda, não apenas configurar e diagnosticar
a organização do segmento de confecções da microrregião do
Alto Vale do Itajaí, mas também identificar os impactos socio-
ambientais da atividade têxtil-vestuarista sobre o território, as
dificuldades e as potencialidades das empresas em internalizar os
custos sociais dessa atividade. Analítico, pois está fundamentado
pela matriz teórico-metodológica do Desenvolvimento Territorial
Sustentável, recuperando elementos de uma abordagem quali-
tativa e quantitativa.
No que tange aos aspectos qualitativos, verifica-se a partici-
pação de 86 atores-chave entrevistados. Dentre esses atores-chave
selecionados, constam: representantes de instituições municipais
prefeituras e associações empresariais de 12 municípios, cuja
participação do segmento vestuarista no emprego formal total do
município seja superior a 12% (RAIS, 2006); representantes de ins-
tituições regionais como secretarias de desenvolvimento regional,
associações de municípios, ONGs, órgãos ambientais, instituições
de ensino e formação ligadas ao setor; representantes de outras
instituições, como empresas do setor, sindicatos, faccionistas –
formais e informais, agricultores.
Quanto aos elementos quantitativos, a pesquisa também
contou com a aplicação de 53 questionários junto às empresas
dessa microrregião, o que possibilitou a complementação dos dados
obtidos por meio de entrevistas, cuja seleção e amostragem estão
contempladas na Tabela 1:

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT