Amor e afeto

AutorCleyson de Moraes Mello
Ocupação do AutorVice-Diretor da Faculdade de Direito da UERJ - Professor do PPGD da UERJ e UVA - Advogado - Membro do Instituto dos Advogados do Brasil ? IAB
Páginas19-49
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Capítulo 1
AMOR E AFETO
1.1 Construindo o Amor
O relacionamento amoroso na pós-modernidade ocorre de
várias formas. Os novos relacionamentos permeados pelo afeto dão
o tom das novas cores do mundo atual. Os avanços tecnocientíficos
possibilitam novas dimensões nas práticas amorosas. Facebook,
websites, blogs, Instagram, e-mails, telefones celulares, Skype,
dentre outros, criam uma ambiência propícia para novos
relacionamentos entre as pessoas. De outro lado, neste mundo
conturbado, muitos se encontram sozinhos e deprimidos na falta de
relacionamento concreto em busca da construção do amor.
Dessa maneira, não obstante os grandes avanços na área da
tecnologia capazes de aproximar as pessoas, muitos estão com
problemas psíquicos e psiquiátricos em razão de relacionamentos
amorosos vazios e fugazes. Dificilmente um relacionamento
amoroso se desenvolve sem rupturas, atropelos e obstáculos, uma
vez que a complexidade é inerente ao próprio ser humano.
Liberdade, segurança, ciúme, alegria, tristeza, felicidade,
satisfação, prazer, dor, raiva, inveja, ódio e sofrimento são vetores
que permeiam os relacionamentos amorosos na
contemporaneidade, desvelando-se difíceis o seu equacionamento
no seio familiar.
Destacar o amor como epicentro da felicidade familiar é
cil. Difícil é a decomposição do amor, uma vez que se
desmultiplica em várias definições, adornando, cada vez mais as
relações familiares. Do casamento “arranjado” a união poliafetiva,
o amor e afeto se destacam na construção dos laços familiares.
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Cada vez mais, novos arranjos familiares se formam na busca pela
construção da vida boa e feliz.
O amor é a fonte e o sentido das relações familiares
inseridas na pós-modernidade. Não obstante, esse amor pode se
transformar em ódio, ferindo até mesmo referências coletivas em
questões religiosas, morais, jurídicas, raciais e familiares.
LUC FERRY destaca que o “advento do amor como único
fundamento legítimo dos casais e das famílias logo ultrapassa o
âmbito do casamento e se torna a regra de todas as uniões
amorosas, quer as pessoas sejam casadas ou não, quer sejam do
mesmo sexo ou não. A reivindicação do casamento homossexual é,
nesse sentido, a ponta extrema dessa história que vai acabar de
desconectar a união de casais de seus princípios tradicionais: a
linhagem, a biologia, a economia.”1 Ocorre que ainda existem
relacionamentos amorosos pautados em razões patrimoniais e
sociais. A discriminação a qualquer união amorosa não tradicional
(aquela que não baseada no casamento) ainda é extremamente
perceptível nos dias atuais. Se o filho do patrão se unir à filha da
empregada por meio de um amor irresistível, essa união ainda é
vista como problemática. A discriminação não se limita às relações
amorosas, mas se amplia em novos horizontes. Até bem pouco
tempo, a empregada doméstica era proibida de usar o elevador
social (foi preciso uma lei para proibir qualquer tipo de
discriminação no uso dos elevadores).
Na esfera filosófica, o homem sempre buscou um
fundamento último para a vida boa. Em linhas gerais, o fundamento
cosmológico relacionava a vida boa do homem na harmonia com o
Cosmo; o fundamento teológico aproxima a concepção de vida boa
aos ensinamentos de Jesus Cristo (pensamento ocidental do final do
século IV até o século XVII); em seguida, com o Renascimento, o
fundamento se atrela ao progresso das ciências e das artes. É o
1 FERRY, Luc. Do Amor: Uma Filosofia para o Século XXI. Tradução de Rejane
Janowitzer. Rio de Janeiro: DIFEL, 2013, p. 29.

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