Apresentação

AutorGeraldo Alckmin
Ocupação do AutorMédico e professor, foi vereador e prefeito de Pindamonhangaba, deputado estadual, deputado federal e governador de São Paulo.
PáginasVII-VIII
APRESENTAÇÃO
Já se disse que o século XIX foi o século dos impérios, o século XX, das nações
e o século XXI será o século das cidades. Essa previsão estava certa: o grande motor
do desenvolvimento econômico, social e cultural, na contemporaneidade, são as
metrópoles.
Nesses assim chamados centros urbanos globais nascem ideias inovadoras e
disruptivas, empreendimentos arrojados, oportunidades de trabalho diversif‌icadas,
novas tendências de comportamento são fomentadas com inf‌luência nas relações
afetivas daqueles que aí vivem. Nos lugares de passagem e de interação, por sua vez,
vão se formando memórias que constituem a história de cada indivíduo. Na rua, casa
da democracia, visões diferentes sobre a política disputam a preferência dos cidadãos.
A despeito da potência criadora que abriga, a cidade pode ser também um lugar
de sofrimento e af‌lição. Da urbanização caótica surgem as mais variadas patologias do
corpo e da alma. A poluição atmosférica está na raiz de doenças respiratórias graves.
Depressão, ansiedade e síndrome do pânico são afecções cada vez mais comuns entre
os habitantes das grandes cidades.
Além das patologias que acometem a saúde das pessoas, a vida urbana abriga
também as moléstias que atacam o corpo social. O escandaloso número de pessoas
que dormem sob viadutos e em praças públicas, entregues a toda sorte de violações,
é sintoma de um organismo com comprometimentos múltiplos. Além de incompa-
tível com a gramática de direitos consagrada na Constituição Cidadã de 1988, esse
cenário escancara nossas contingências morais. A indignidade de existências assim
em nada se coaduna com a perspectiva de uma vida cristã.
Bem por isso tem alertado o Papa Francisco para a necessidade de uma comunhão
de esforços em prol da nossa “casa comum”. Das páginas da encíclica Laudato Si, de
2015, extrai-se uma denúncia vigorosa contra a relação predatória dos homens com
o meio ambiente e contra a precariedade da vida urbana.
A Laudato Si não é, no entanto, uma carta pessimista: ela nos lembra que o amor
sempre prevalece e que, da vida difícil nas periferias mais pobres, surge um sentido
forte de pertencimento comunitário que está na raiz de uma resiliência libertadora.
Isso, evidentemente, não autoriza a banalização da exclusão e do sofrimento. Pelo
contrário: mostra que todos são chamados à responsabilidade de edif‌icar uma cidade
que partilhe de maneira mais igualitária os benefícios da urbanização.
Construir cidades melhores passa, nesse sentido, por articular esforços coletivos.
Do ponto de vista institucional, cabe aos administradores públicos observar o recado
dado pelo legislador constituinte de 1988, que assim def‌iniu os contornos da política

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