Artes e Direito: a busca de novos diálogos

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Artes e Direito...:
a busca de novos diálogos
Um homem e um leão discutiam. O homem proclamava
a superioridade da raça humana, ao passo que o leão
defendia a supremacia dos seus. Enquanto debatiam, o
homem apresentou, como prova de seu argumento, uma
estátua em que um leão era subjugado por um homem.
O leão respondeu: “Se também nós leões fôssemos
escultores, você veria mais imagens de homens derrotados
por leões do que o inverso”.1
Com a simplicidade e o engenho tão típicos de Esopo, a pe-
quena fábula acima nos ajuda a entender algumas das questões cen-
trais para o diálogo entre as Artes e o Direito. Ela nos ensina, em
primeiro lugar, que as obras de arte refletem, pelo anverso ou pelo
avesso, a cultura, os valores e a visão de mundo daqueles que as pro-
duzem. Estátuas esculpidas por leões contariam uma história muito
diferente da que se depreende daquelas feitas por mãos humanas. E
essa diferença se dá não porque os humanos produzam obras deli-
beradamente mentirosas (embora isso possa ocorrer, é claro), mas
porque, como astutamente observa o leão, eles muitas vezes sequer
desconfiam dos pressupostos inscritos em sua forma de expressão.1
1 Tra dução livre do autor a partir de AESOP’S FABLES: a new translation
by Laura Gibbs. Oxford: Oxford University Press, 2002 (World’s Classics).
Texto original: “A man and a lion were arguing. The man proclaimed the
superiority of the human race, while the lion argued on behalf of his own
kind. As they were contending with one another as to who was superior, the
man produced as evidence the statue of a lion being defeated by a man. The
lion retorted, ‘And if there were also sculptors among us lions, you would
see more people being conquered by lions than lions by people!’”.
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