Bioética e a educação nas escolas
| Autor | Ronaldo Piber |
| Páginas | 101-119 |
BioÉTiCA 101
CAPÍTULO 6 - BIOÉTICA E A
EDUCAÇÃO NAS ESCOLAS
Ronaldo Piber
INTRODUÇÃO
O período escolar é um marco na vida de todo o ser humano. Além
das habilidades próprias do letramento – falar, ler, escrever e desenvol-
ver aptidão com números – é na escola que o indivíduo tem contato
com as diferenças existentes na nossa sociedade em um sentido amplo.
O tema Ética nos Parâmetros Curriculares Nacionais possibilita, à luz
da lei, discussões abertas sobre o tema na escola, que é vista como local
privilegiado para uma educação baseada em valores, apontando o desafio
de se instalar no processo de ensino e aprendizagem que ocorre em cada
área do conhecimento uma atitude crítica constante, de reconhecer os
limites e possibilidades dos sujeitos e das circunstâncias, e problematizar.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, os Parâmetros Cur-
riculares Nacionais e a Base Nacional Comum Curricular nos trazem a
indicação de sua viabilidade para uma educação bioética, pois, além de
destinar-se a todos os brasileiros, objetivam alcançar e fortalecer a meta
maior que é a formação do cidadão.
Dessa forma, o objetivo deste estudo é de analisar a necessidade do
ensino da Bioética na escola, em todos os níveis, concluindo com re-
flexões acerca dos temas de redação do Exame Nacional do Ensino
Médio, o ENEM.
NASCIMENTO SEM ÉTICA / AÉTICO
O ser humano tem o potencial de se tornar ético com o tempo, já que
não nasce nem ético e nem antiético; ao contrário, o ser humano nasce
aético (COHEN, 2005). Ou seja, a ética é um componente essencial do
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processo de humanização e vamos buscá-la à medida que avançamos
em nosso crescimento (OLIVEIRA, 2012). Cada pessoa é responsável
por navegar neste caminho; no entanto, só porque o fazem não garante
que serão julgados pela sociedade como tendo padrões éticos.
Enquanto a moralidade se preocupa com a resposta do indivíduo aos
seus conflitos, que começa com uma decisão pessoal e é impactada por
representações sociais, bem como pela integração cultural e política; a
ética se atenta com a resposta aos seus problemas (CREMONESE, 2021).
Dessa forma, a existência em sociedade requer a presença de critérios
e valores, pois todas as ocorrências da vida social têm uma dimensão
ética e moral (MARTINES, 2019).
A formação dos sujeitos que serão os futuros agentes dentro de uma
comunidade, além do seio familiar, tem a sala de aula como aliada,
motivo pelo qual se torna fundamental debater questões morais e éti-
cas e estimular a discussão sobre esses temas no ambiente escolar.
A realidade é que ensinar moralidade apenas por meio da emulação
é insuficiente; em vez disso, são necessários pesquisa, desenvolvimen-
to de ideias e treinamento no contexto social. Vivemos sob uma ava-
lanche de informações sobre diversos assuntos, com forte enfoque na
educação e na relevância da escola como remédio para todos os males
da sociedade atual, assolada ciclicamente por crises econômicas, so-
ciais, políticas, geopolíticas e, por óbvio, morais (LOMBARDI, 2006).
A mudança de valores é responsável pelo declínio dos padrões mo-
rais. Ou seja, na sociedade atual, o privado é mais valorizado do que
o público, o que coloca o ônus da responsabilidade pelo bem-estar
pessoal sobre o próprio indivíduo (REGO; PALÁCIOS, 2016).
Sendo assim, a perda dos parâmetros que designam a área de atuação
do indivíduo tem desdobramentos para a sociedade, pois as pessoas,
perseguindo seus próprios interesses, não se preocupam se a vitória
de seus próprios objetivos é benéfica para a sociedade (MOTA NETO,
2018). Os objetivos terão um impacto no bem-estar do outro.
Isso se deve à visão de mundo narcisista, que rejeita a possibilidade
de mudança social positiva e vê o engajamento político como um esfor-
ço inútil para melhorar a vida das pessoas, ao contrário, enfatizando a
introspecção, a consciência corporal e a sexualidade (OLIVEIRA, 2022).
Além dos problemas estruturais do Estado, há outro aspecto que
contribui para a crise ética: o processo educacional, que é algo do qual
as crianças e os adolescentes em idade escolar, por óbvio, fazem parte
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