Construindo a partir de Marx: reflexões sobre 'raça', gênero e classe

AutorHimani Bannerji
CargoProfessora do Departamento de Sociologia, York University, Toronto, Canadá
2079
Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, Vol. 13, N. 3, 2022, p. 2079-2101.
Himani Bannerji
DOI: 10.1590/2179-8966/2021/63501 ISSN: 2179-8966
Construindo a partir de Marx: reflexões sobre “raça”,
gênero e classe
Himani Bannerji1
1 Universidade de York, Toronto, Canadá. E-mail: himanib@yorku.ca.
Versão original:
BANNERJI, Himani. “Building from Marx: reflections on ‘race’, gender and class”. In:
BANNERJI, Himani. The Ideological Condition: Selected Essays on History, Race and
Gender. Leiden; Boston: Brill, 2020. p. 5-22.
Tradução recebida em 15/11/2021 e aceita em 4/12/2021.
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License
2080
Rev. Direito e Práx., Rio de Janeiro, Vol. 13, N. 3, 2022, p. 2079-2101.
Himani Bannerji
DOI: 10.1590/2179-8966/2021/63501 ISSN: 2179-8966
Eu sei que não estou sozinha. Deve haver centenas de outras mulheres,
talvez milhares, que se sentem como eu. Pode haver centenas de homens
que queiram que as mesmas mudanças drásticas aconteçam. Mas como se
relacionar com eles? Como podemos interligar nossa própria luta e objetiv os
com essa miríade de pessoas hipotéticas, pessoas que estão completamente
escondidas ou camufladas por estereótipos e/ou generalidades de
“plataforma” como qualquer novo movimento que parece surgir? Eu não
sei. Não gosto dessa sensação de estar sozinha quando está claro que será
preciso multidões trabalhando juntas ao redor do mundo para que uma
mudança radical e positiva seja imposta a esse hediondo status quo que
desprezo em todo o seu poder avassalador (Jordan 1989, p. 115).
Introdução
Atualmente, é convencional nos círculos acadêmicos e políticos falar de raça ao
mesmo tempo em que se fala de gênero e classe. É mais ou menos reconhecido que a
raça pode ser combinada com outras relações sociais de poder e que elas poderiam
mediar e intensificar umas às outras1. Essa combinação de raça, gênero e classe é
frequentemente expressa através do conceito de interseccionalidade, no qual três
vertentes particulares de relações sociais e práticas ideológicas de diferença e poder são
interpretadas como que surgindo em seu terreno social específico e, em seguida,
cruzando-se inter-seccionalmente ou de forma agregada2. Diferentes problemas
sociais são reunidos para que se crie, a partir desta reunião, um momento de
experiência social.
No entanto, quando se fala de experiência, tanto os não-brancos como os
brancos que vivem no Canadá e no Ocidente sabem que essa experiência social, ao ser
vivida, não é uma questão de interseccionalidade. Sua sensação de estar no mundo,
texturizada através de inúmeras relações sociais e formas culturais, é vivida ou sentida
ou percebida em conjunto e ao mesmo tempo. A presença de uma mulher não-branca
da classe trabalhadora (negra, sul-asiática, chinesa, etc.) em seu ambiente habitual
racializado não é divisível, não pode ser separada e seriada. Sua negritude, seu sexo e
sua personalidade neutra em termos de gênero enquanto trabalhadora, se misturam
1 Sobre o começo da teorização acerca da relação entre “raça”, gênero e classe que co nstitui o ponto de
partida deste ensaio, ver Bannerji, 1993, 1995; Davis, 2016; Smith, Hull, and Bell-Scott, 1982.
2 A noção de “interseccionalidade” é a mais utilizada nas teorias críticas da raça, bem como nas teorias do
Direito. Ver, por exemplo, Crenshaw (1989), Hill Collins [1998] (2019).

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