O consumo de carne e o aquecimento global

AutorHeron José de Santana Gordilho
CargoProfessor Universitário. Promotor de Justiça do Meio Ambiente em Salvador
Páginas355-357

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Em recente artigo, publicado na revista The Economist, Peter Singer, professor de bioética da Universidade de Princeton, re-vela que o consumo global de carne deve duplicar até 2020, de modo que na Europa e nos EUA já existe uma crescente preocupação ética com essa questão. De fato, o consumo de vitela caiu drasticamente quando as pessoas ficaram sabendo que para produzí-la bezerros recém nascidos são separados aleatoriamente da mãe, mantidos artificialmente anêmicos e confinados em baias tão estreitas que eles não podem caminhar ou virar-se.

Relatórios da ONU revelam que a criação de animais de corte é responsável por cerca de 18% por cento das emissões mundiais de gases estufa, responsáveis pelo aquecimento do planeta, superando a indústria global de transportes.

Seja como for, a pecuária industrial nega aos animais uma vida minimamente decente, pois dezenas de milhares de milhões de frangos hoje produzidos nunca foram ao ar livre, e vivem em galpões que podem ter mais de 20.000 aves, onde o nível de amônia no ar decorrente de suas fezes acumuladas arde seus olhos e fere seus pulmões. Em seguida são abatidos com apenas 45 dias de idade, quando seus ossos imaturos dificilmente poderiam suportar o peso de seus corpos. As condições são ainda piores para as galinhas poedeiras, abarrotadas em jaulas

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tão pequenas que, mesmo se estivessem em apenas uma gaiola ela seria incapaz de esticar as asas, o que leva as aves mais agressivas bicarem até a morte as aves mais fracas. Para evitar esta situação os produtores cortam seus bicos com uma lâmina quente, sem qualquer anestésico, embora no bico dessas criaturas existam tecidos nervosos, pois são o principal instrumento de seu relacionamento com o ambiente.

Porcos podem ser os mais inteligentes e sensíveis dentre os animais que geralmente comemos e podem exercer essa inteligência explorando variados ambientes. Antes de dar à luz, as porcas utilizam palhas e galhos para construir um confortável e seguro ninho, que funcionam como uma cama. Mas hoje, as porcas grávidas são mantidas em jaulas tão estreitas que mal podem se virar ou ficar em pé. Os leitões são retirados da porca o mais rapidamente possível, para que ela possa engravidar novamente, sem nunca deixar o galpão, até que sejam levadas para o abate.Os defensores desses métodos de produção afirmam que embora eles sejam lamentáveis, são uma resposta necessária a uma população crescente em busca de alimentos.

É triste que o...

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