Diálogo entre as Ciências Sociais e Médicas: Saúde e Sustentabilidade Instrumentalizadas na Cidade

AutorBernardo Acácio Daibes e Natalia Costa Polastri Lima
Páginas155-172
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DIÁLOGO ENTRE AS CIÊNCIAS SOCIAIS E MÉDICAS: SAÚDE
E SUSTENTABILIDADE INSTRUMENTALIZADAS NA CIDADE
Bernardo Acácio Daibes
Natalia Costa Polastri Lima
INTRODUÇÃO
O presente estudo trata das categorias sustentabilidade e saúde
e as interpreta р luz da hermenêutica para avaliar se as suas
instrumentalidades se encontram no contexto urbano.
Nessa linha, define-se como marco teórico do presente trabalho
a teoria hermenêutica desenvolvida por Martin Heidegger, a qual
procura a natureza do ser através da temporalidade e da historicidade
(MELLO, 2018, p. 32), conjugada à concepção historiográfica do
tempo de Reinhart Koselleck.
O tema é desenvolvido, primeiramente, a partir de uma breve
explanação da hermenêutica heideggeriana e do sistema conceitual
koselleckiano aplicados ao atual momento histórico vivido,
denominado “modernidade tardia” por Ulrich Beck. Na ocasião, são
trazidas algumas ideias que auxiliam na tarefa ora proposta, como
experiência, expectativa e riscos.
Em seguida, no item 2, faz-se uma compreensão de
sustentabilidade, realizando apontamentos acerca de sua natureza
jurídica e de sua proteção legal e relacionando com o referencial teórico
apresentado. Destaca-se, ainda, a Agenda 21 Brasileira e a Agenda 2030
da ONU, relevantes documentos políticos de âmbito nacional e
internacional, respectivamente, para o tema em análise.
No item 3, por sua vez, realiza-se um processo semelhante,
desta feita em relação ao conceito de saúde, que se revela, no presente,
como um fenômeno biopsicossocial aproximado ao conceito de
sustentabilidade.
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Por fim, no último item, analisa-se a cidade como contexto
sociopolítico base para as instrumentalidades da sustentabilidade e da
saúde, considerando as sensíveis diferenças de acordo com o aspecto
geográfico e temporal em que se aplicam.
1. REFERENCIAL TEÓRICO: A HERMENÊUTICA
HEIDEGGERIANA, O SISTEMA CONCEITUAL
KOSELLECKIANO E A MODERNIDADE TARDIA
A atividade hermenêutica é ligada à interpretação e à
compreensão. Segundo Richard Palmer (1969, p.24), “a origem das
atuais palavras «hermenêutica» e «hermenêutico» sugere o processo de
«tornar compreensível», especialmente enquanto tal processo envolve
a linguagem, visto ser a linguagem o meio por excelência neste
processo”.
Palmer destaca que o termo “compreensão” (Verstehen) possui
um significado específico para Heidegger3, teórico fundamental para a
hermenêutica aplicada no presente estudo, a saber:
A compreensão não se concebe como algo que
se possua mas antes como um modo ou elemento
do ser-no-mundo. Não é uma entidade no
mundo, antes é a estrutura do ser que torna
possível o exercício actual da compreensão a um
nível empírico. A compreensão é a base de toda
a interpretação; é contemporânea da nossa
existência e está presente em todo o acto de
interpretação. (PEIXINHO, 2015, p. 6 apud
HEIDEGGER, 1988, p. 135)
A compreensão, assim, é ligada ao ser e é base de todo e
qualquer ato de interpretação.
Cleyson de Moraes Mello (2018, p. 31), também estudioso do
pensamento heideggeriano, ressalta que, em escritos posteriores,
3 Manoel Messias Peixinho (2015, p. 6) destaca que “a questão fundamental na
hermenêutica de Martin Heidegger (1988, p. 131) é a interpretação do ser, não no
sentido da metafísica ocidental, mas como os próprios gregos a haviam concebido”.

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