Entre duas crises, uma cidade. A produção do espaço urbano de Campinas, na primeira metade do século XX / Between two crises, a city. The production of urban space of Campinas, in the first half of the twentieth century

AutorEdemir de Carvalho
CargoEstagio pós-doutoral Universidad de Castilla-La Mancha (UCLM). Pesquisador Visitante na Universidade Federal de Alagoas - UFAL. Docente da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP - Campus Marília. Avaliador de Instituições de Ensino Superior e de cursos, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio ...
Páginas587-610
Revista de Direito da Cidade vol. 08, nº 2. ISSN 2317-7721
DOI: 10.12957/rdc.2016.21089
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Revista de Direito da Cidade, vol. 08, nº 2. ISSN 2317-7721 pp.587-610 587
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Partimos do pressuposto de que, para o estudo de uma situação particular como a de Campinas,
haveria necessidade de fixarmos alguns pontos de seu desenvolvimento: o entendimento das
crises urbanas, bem como as questões delas resultantes e, por último, o porquê as crises urbanas
possuem uma interface com as questões sociais e que, a cada crise, remontam e costuram a
complexidade dos problemas urbanos. Pelo menos dois fatos concomitantes sustentam esta
posição: a) a formação de uma estrutura urbana, a qual vai se utilizar das “bases urbanas”
estabelecidas pela economia apoiada no café, e, ainda, b) a consolidação mercado imobiliário em
Campinas. Desse fato, resulta um questionamento importante: se o problema da moradia não se
instala subitamente, então cabe desvendar os processos sociais articulam e desenham as crises
urbanas e as consequências na produção do espaço urbano de Campinas. Metodologicamente
utilizou-se dos estudos historiográficos com base documental, tanto bibliográficos, como arquivos
mapotecas e jornais locais. Como resultado final considera-se que a hipótese da produção do
espaço urbano de Campinas foi explicada p ela saídas das crises urbanas identificadas.
- Campinas; Urbanização; Crise urbana; Habitação popular; mercado imobiliário
We assume that for the study of a particular situation like that of Campinas, would need to fixate
some points of its development: the understanding of urban crises, as well as issues resulting from
them and, finally, why urban crises have an interface with social issues and that every crisis, go
back and sew the complexity of urban problems. At least two concomitant facts support this
position: a) the formation of an urban structure, which will use the "urban bases" established by
the economy resting on the coffee, and also b) consolidating real estate market in Campinas. This
fact results an important question: if the housing problem is not installed suddenly, then it is up to
unravel the social processes articulate and design the urban crisis and the consequences in the
production of urban space in Campinas. Methodologically we used the historiographical studies
with documentary base, both bibliographic such as files - maps collections and local newspapers.
As a final result it is considered that the hypothesis of the production of urban space in Campinas
was explained by the outputs of the identified urban crises.
Campinas; Urbanization; Urban crisis; Public housing; Real estate market
1 Estagio pós-doutoral Universidad de Castilla-La Mancha (UCLM). Pesquisado r Visitante na Universidade
Federal de Alagoas - UFAL. Docente da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP -
Campus Marília. Avaliador de Instituições de Ensino Superior e de cursos, pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teix eira - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO - MEC. E-mail:
edemir@marilia.unesp.br
Revista de Direito da Cidade vol. 08, nº 2. ISSN 2317-7721
DOI: 10.12957/rdc.2016.21089
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A ideia central deste trabalho reside na compreensão da construção do espaço urbano,
através de uma perspectiva sociológica que possibilita alinhavar, historicamente, as diversas
questões decorrentes dessa construção, especialmente a habitação. Portanto, a articulação entre
essa construção e a produção da habitação emergiu no interior da trama urbana, como resultado
de vários processos, que por sua vez artic ulam-se entre si.
A primeira hipótese explicativa para tornarmos os surtos epidêmicos de febre amarela
como manifestação de crise urbana está no fato de que, naquele momento, estávamos diante da
formação de uma rede urbana, expressão fen omenológica do insipiente processo de urbanização.
Se a face da crise urbana frente ao capital cafeeiro estava expressa na completa
desorganização das atividades urbanas campineiras, a face social atingia diretamente a força de
trabalho. O lado trágico da crise estava expresso no morticínio causado pela epidemia, que
apressava a fuga de grande parte da população para outras localidades.
A hipótese sustenta-se na ideia de que a febre amarela conduziu a este trágico desfecho
porque o espaço urbano chamado Campinas dava conta apenas de propiciar as condições gerais e
necessárias à reprodução do modelo primário-exportador, regido pelo café. A força de trabalho
urbana pouco significava frente ao capital cafeeiro, ficando à mercê da própria sorte. A epidemia
colocou a nu as miseráveis condições a que estava submetida esta força de trabalho urbana em
formação.
A transição (1889/1930) que se interpõe entre a primeira crise (1889/1897) e a seguinte
(1930/1945) esteve marcada pela presença do Estado, na formulação de políticas públicas,
invertendo o processo do período anterior, onde a esfera do privado confundia-se com a pública.
Nesta transição, além do novo papel do Es tado, observa-se o desenvolvimento da força de trabalho
urbana.
No primeiro decênio do século XX surgiram as primeiras greves operárias; contudo, elas
não possuíam a mesma abrangência daquelas que se produziriam em 1918/19. Estas últimas
denunciavam claramente as fissuras no sistema ou os elementos da nova crise que se manifestaria
com maior rigor na década de trinta. A segunda crise tem sua primeira manifestação nas greves,
dado que estas tinham um caráter muito mais amplo do que apenas as reivindicações salariais: elas
estavam denunciando a emergência de uma força de trabalho urbana, a qual não possuía as
mínimas condições necessárias para sua repro dução.

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