Enfrentar a crise climática com mais bem-estar. Os argumentos do comunitarismo e do decrescimento se sustentam face às pesquisas sobre o bem-estar?

AutorJacson Roberto Cervi, João Pedro Schmidt
CargoUniversidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Santo Ângelo, RS, Brasil/Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, RS, Brasil
Páginas225-249
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Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
ENFRENTAR A CRISE CLIMÁTICA COM MAIS BEM-ESTAR: OS
ARGUMENTOS DO COMUNITARISMO E DO DECRESCIMENTO
SE SUSTENTAM FACE ÀS PESQUISAS SOBRE O BEM-ESTAR?
FACING THE CLIMATE CRISIS WITH MORE WELL-BEING: DO THE
ARGUMENTS OF COMMUNITARIANISM AND DEGROWTH HOLD UP IN THE
FACE OF RESEARCH ON WELL-BEING?
Jacson Roberto CerviI
João Pedro SchmidtII
Resumo: A busca do bem-estar move, desde sempre, os
processos de desenvolvimento, os quais conduziram ao
incremento notável das comodidades humanas, mas, por
outra parte, a uma degradação inédita do ambiente natural.
A face mais dramática da degradação é a crise climática, um
fenômeno que não pode mais ser considerado um risco do
futuro: é uma ameaça do presente. Apesar disso, as respostas
práticas têm sido incipientes, por falta de freios sistêmicos.
O problema de fundo da crise climática reside nas formas
vigentes de suprir as demandas do bem-estar humano e sua
solução depende da adoção de modelos compatíveis com a
sustentabilidade ambiental. Este texto apresenta argumentos
comunitaristas e do decrescimento que atestam ser possível a
complementaridade entre bem-estar humano e preservação
da natureza. A linha conclusiva é que os argumentos
comunitaristas e decrescentistas sobre a compatibilidade entre
preservação ambiental e bem-estar humano se sustentam em
face dos achados das pesquisas científicas sobre a relação entre
a condição econômica e o bem-estar. A técnica de pesquisa é
bibliográfica e documental.
Palavras-chave: crise climática; bem-estar; comunitarismo;
decrescimento; sustentabilidade.
Abstract: e quest for well-being has always driven
development processes, which have led to a notable increase
in human comforts, but also to an unprecedented degradation
of the natural environment. e most dramatic face of this
degradation is the climate crisis, a phenomenon that can no
longer be considered a risk of the future: it is a threat of the
present. Despite this, practical responses have been incipient,
for lack of systemic brakes. e root problem of the climate
crisis lies in the current ways of meeting the demands of
DOI: http://dx.doi.org/10.20912/rdc.v17i41.716
Recebido em: 30.03.2022
Aceito em: 27.05.2022
I Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões, Santo
Ângelo, RS, Brasil. Doutor em Direito.
E-mail: jrcervi@san.uri.br
II Universidade de Santa Cruz do
Sul, Santa Cruz do Sul, RS, Brasil.
Doutor em Ciência Política. E-mail:
rodrigocnster@gmail.com
226 Revista Direitos Culturais | Santo Ângelo | v. 17 | n. 41 | p. 225-250 | jan./abr. 2022
DOI: http://dx.doi.org/10.20912/rdc.v17i41.716
human well-being, and its solution depends on the adoption
of models compatible with environmental sustainability.
is paper presents communitarian and degrowth arguments
that attest that complementarity between human well-being
and nature preservation is possible. e conclusion is that
the communitarian and degrowthist arguments about the
compatibility between environmental preservation and
human welfare are supported by the findings of scientific
research on the relationship between economic condition
and welfare. e research technique is bibliographic and
documentary.
Keywords: climate crisis; welfare; communitarianism;
degrowth; sustainability.
1 Introdução
As evidências de que a crise climática não é o futuro, mas o presente, muda (deveria
mudar) toda a perspectiva sobre o nosso estilo de vida e a forma como concebemos
a nossa presença no planeta. A nova normalidade instaurada no planeta não pode ser pensada
senão sob a perspectiva da emergência climática. Os diagnósticos do Painel Intergovernamental
do Clima - IPCC, da ONU, atestam que o quadro não é apenas dramático, mas os sintomas de
desequilíbrio estão em aceleração, a despeito dos compromissos assumidos pelas principais nações
em conferências internacionais do clima, desde fins do século passado. Wallace-Wells, começa o
seu livro A Terra Inabitável com a declaração: “É pior, muito pior do que você imagina!”.1
Se a situação é de tamanha gravidade, como entender a falta de medidas práticas
condizentes com a enormidade da ameaça à sobrevivência da espécie humana? Há, ao menos, três
elementos a considerar. O primeiro: o negacionismo, a negação da gravidade da crise climática
ou da responsabilidade humana na crise, assumido por alguns poucos os estudiosos, mas por
segmentos influentes (embora minoritários) das forças políticas, especialmente a extrema direita
fundamentalista, que gera confusão na população. As posições negacionistas estão vinculadas a
interesses egoístas de certas corporações, que vêm financiando pesquisadores dispostos a colocar
em dúvida as evidências sustentadas pela absoluta maioria dos acadêmicos das diversas partes do
mundo.2 Outro elemento é o das disputas econômicas e geopolíticas que influenciam a tomada
de decisões em nível mundial, que opõem, por exemplo, os interesses imediatos dos países do
Norte e os do Sul, bem como de potências rivais (como EUA, China, Rússia e União Europeia).
O terceiro e mais complexo é a responsabilidade difusa dos cidadãos, parte significativa dos quais
têm ciência de que a degradação ambiental está associada ao consumismo, mas não se afasta
desse modo de vida insustentável.
1 WALLACE-WELLS, David. A terra inabitável: uma história do futuro. São Paulo: Companhia das Letras,
2019, p. 11.
2 WALLACE-WELLS, David. A terra inabitável: uma história do futuro. São Paulo: Companhia das Letras,
2019.
LÉNA, Philipe. Os limites do crescimento econômico e a busca pela sustentabilidade: uma introdução ao debate.
In: LÉNA, Philipe; NASCIMENTO, Elimar P. (orgs.). Enfrentado os limites do crescimento: sustentabilidade,
decrescimento e prosperidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2012, p. 23-44.

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