Espaço público e sociabilidade em contexto de violência urbana

AutorNeide Maria de Almeida Pinto/Ana Louise de Carvalho Fiúza/André Luis Gomes/Geraldo Magela da Cruz Pereira
CargoPós-Doutorado em Ciências Sociais pela Universidade do Minho em Braga, Portugal/Pós-Doutorado em Ciências Sociais pela Universidade do Minho em Braga, Portugal/Doutor em Economia Doméstica na área de concentração: Família e Sociedade, pelo programa de PósGraduação em Economia Doméstica (PPGED) da Universidade Federal de Viçosa (2020)/Possui...
Páginas820-854
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Rev. Dir. Cid., Rio de Janeiro, Vol. 14, N.02., 2022, p. 820 -854.
André Luis Gomes, Neide Maria de Almeida Pinto, Ana Louise de Carvalho
Fiúza e Geraldo Magela da Cruz Pereira
DOI: 10.12957/rdc.2022.54998| ISSN 2317-7721
ESPAÇO PÚBLICO E SOCIABILIDADE EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA URBANA
Public Space and Sociability in the Context of Urban Violence
Neide Maria de Almeida Pinto
Universidade Federal de Viçosa - UFV, Viçosa, MG, Brasil
Lattes:http://lattes.cnpq.br/9078207930978711 Orcid:http://orcid.org/0000 -0002-8713-5471
E-mail:nalmeida@ufv.br
Ana Louise de Carvalho Fiúza
Universidade Federal de Viçosa - UFV, Viçosa, MG, Brasil
Lattes:http://lattes.cnpq.br/6980818349328612 Orcid:http://orcid.org/0000 -0002-3898-1583
E-mail:louisefiuza@ufv.br
André Luis Gomes
Universidade Federal de Viçosa - UFV, Viçosa, MG, Brasil
Lattes:http://lattes.cnpq.br/6020427082718955 Orcid:https://orcid.org/0000- 0002-3395-9192
E-mail:andre.l.gomes@ufv.br
Geraldo Magela da Cruz Pereira
Universidade Federal de Viçosa - UFV, Viçosa, MG, Brasil
Lattes:http://lattes.cnpq.br/3918050985377865 Orcid:https://orcid.org/0000- 0001-6280-4870
E-mail:geraldomcpereira@gmail.com
Trabalho enviado em 07 de outubro de 2020 e aceito em 04 de maio de 2021
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.
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Rev. Dir. Cid., Rio de Janeiro, Vol. 14, N.02., 2022, p. 820 -854.
André Luis Gomes, Neide Maria de Almeida Pinto, Ana Louise de Carvalho
Fiúza e Geraldo Magela da Cruz Pereira
DOI: 10.12957/rdc.2022.54998| ISSN 2317-7721
RESUMO
Procurou-se nesse estudo analisar a influência da violência urbana nas interações sociais e no uso
espaços públicos pelos jovens residentes em uma cidade média no estado de Minas Gerais. Para tanto,
foram aplicados questionários em uma amostra de 618 jovens. Como método de análise utilizou-se a
análise exploratória de dados, o qui-quadrado e a regressão logística multivariada binária. De acordo
com os resultados, os espaços mais frequentados pelos jovens foram a igreja, o cinema e o shopping,
considerados pelos jovens como os espaços mais seguros. As maiores vítimas de roubos foram os
jovens da região de maior renda, já as de homicídios e agressões físicas, principalmente das agressões
empregadas pela polícia, os jovens das regiões de renda baixa e de maior vulnerabilidade social. Devido
à violência, mais de 50% dos jovens disseram ter medo de sair e modificam algum comportamento por
medo da violência. Concluiu-se que a violência urbana afeta o uso da cidade pelos jovens, pois na
expectativa de não serem vítimas de violência, modificam as condutas cotidianas. Além disso, concluiu-
se que ter sido vítima de violência ou ter tido um membro da família como vítima, constitui-se em um
dos elementos mais importantes na determinação da mudança de conduta.
Palavras-chaves: Crime violento; Espaço público; Jovem; Sociabilidade; Violência urbana.
ABSTRACT
The aim of this study was to analyze the influence of urban violence on social interactions and the use
of public spaces by young people living in a medium-sized city in the state of Minas Gerais. For this
purpose, questionnaires were applied to a sample of 618 young people. As an analysis method,
exploratory data analysis, chi-square and binary multivariate logistic regression were used. According
to the results, the spaces most frequented by young people were the church, the cinema and the mall,
considered by young people as the safest spaces. The biggest victims of robberies were young people
from the region with the highest income, while those from homicides and physical attacks, mainly from
the attacks employed by the police, young people from low-income regions and those with greater
social vulnerability. Due to violence, more than 50% of young people said they were afraid of going out
and modified some behavior for fear of violence. It was concluded that urban violence affects the use
of the city by young people, because in the expectation of not being victims of violence, they modify
their daily conduct. In addition, it was concluded that having been a victim of violence or having a
family member as a victim, constitutes one of the most important elements in determining the change
in conduct.
Keywords: Violent crime; Public place; Young; Sociability; Urban violence.
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Rev. Dir. Cid., Rio de Janeiro, Vol. 14, N.02., 2022, p. 820 -854.
André Luis Gomes, Neide Maria de Almeida Pinto, Ana Louise de Carvalho
Fiúza e Geraldo Magela da Cruz Pereira
DOI: 10.12957/rdc.2022.54998| ISSN 2317-7721
1. INTRODUÇÃO
O forte impacto da violência urbana na saúde, economia e segurança tem feito dela objeto de
discussão e de preocupação dos gestores públicos, meio acadêmico e da população de forma geral. No
Brasil, o fenômeno tem atingido níveis cada vez mais alarmantes, sobretudo, os homicídios, que
aniquila o indivíduo e não permite o seu reestabelecimento. (BRANDÃO; COSTA, 2015). De acordo com
o DATASUS (2020), enquanto no ano de 2007 ocorreram 48.219 homicídios no Brasil, em 2017 esse
número saltou para 65.602 casos, com 44% (29.186) deles nos espaços públicos das cidades, tais como
praças, ruas, praias e outros lugares em que as pessoas não tenham o acesso limitado, ou seja, uma
acessibilidade física condicionada, a qualquer outra norma, a não ser aquelas que regulam o
comportamento em áreas comuns. (GOMES, 2002).
Entretanto, a violência no Brasil, principalmente a letal, não afeta todos o s indivíduos da
mesma forma, sendo os jovens1 as maiores vítimas do fenômeno, os quais representaram 60% do total
de óbitos identificados apenas em 2017. (DATASUS, 2020). A maioria é moradora de áreas periféricas
e que, devido ao intenso processo de urbanização e industrialização deficiente e excludente,
apresentam precárias habitações e problemas de infraestrutura e equipamentos públicos. (CA RDIA;
ADORNO; POLETO, 2003). Enquanto isso, a infraestrutura básica e os equipamentos públicos, em maior
número e melhor qualidade, são encontrados nas regiões habitada pela população de renda mais
elevada, com maior poder aquisitivo e influência. (SCHVASBERG, 2003).
Como resultado desse quadro, ocorre uma diferenciação nos índices de homicídios, roubos e
agressões físicas nos diferentes espaços da cidade (CANO, 1997), bem como uma representação
negativa da população pobre e dos locais por ela habitada, que passam a ser vistos como espaços de
violência. Dentre os vários aspectos, portanto, pode-se entender a violência urbana também como um
fenômeno socioespacial, devido à variabilidade dos locais de ocorrência de casos, bem como da
influência desses locais e do modo de vida urbano na constituição de determinados tipos de violência.
(MAGRINI, 2014).
A violência urbana tem forte impacto sobre o padrão de comportamento da população,
limitando a convivência no espaço público, a liberdade de deslocamento e as opções de lazer, como
revelou um estudo desenvolvido pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)
(2013), que tomou como referência 18 países na América Latina, no ano de 2012. Entretanto, conforme
Jacobs (2014), deixar de frequentar os espaços públicos pelo medo da violência2 é um erro, pois o
problema da insegurança3, devido à violência, não será solucionado com a dispersão das pessoas,
trocando os espaços públicos das cidades por outros espaços. Logo, para que esses espaços sejam

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