Fórmulas de modéstia e majestade + multi

AutorMaria Tereza de Queiroz Piacentini
CargoLicenciada em Letras e mestra em Educação pela UFSC. Revisora da Constituição de Santa Catarina em 1989
Páginas82-82

Page 82

De Campo Grande/MS escreve o leitor O. M. de Araújo para perguntar o que é plural majestático.

Em duas palavras, é o emprego da 1a pessoa do plural no lugar da 1a pessoa do singular. Significa dizer "(Nós) queremos manifestar nossa satisfação" em vez de "(Eu) quero manifestar minha satisfação".

Os antigos reis de Portugal adotaram a fórmula "Nós, el-rei, fazemos saber..." procurando, num estilo de modéstia, diminuir a distância que os separava do povo. Até que no início do séc. XVI, com D. João III, aparece o absolutismo real e a consequente mudança da fórmula para a 1a pessoa: "Eu, el-rei, faço saber que..." Entretanto os altos prelados da Igreja continuavam a usar o pronome NÓS como um tratamento de humildade e solidariedade com os fiéis. Só que, crescendo a Igreja em poder e bens temporais, aquele plural começou a dar a impressão não de modéstia mas sim de grandeza e majestade. Daí o nome "plural majestático".

Sua outra denominação é "plural de modéstia". Ainda o utilizam escritores, oradores e políticos, que dessa forma pretendem fundir-se em simpatia com seus leitores, ouvintes e correligionários, parecendo com eles compartilhar suas ideias e afastando qualquer noção de importância pessoal, vaidade e orgulho.

Mas veja bem: não é necessário que numa correspondência formal ou num discurso o redator tenha de usar a 1a pessoa do plural para "não ficar mal". De modo algum! Desde que ele esteja falando em seu próprio nome e não no de uma coletividade ou da empresa como um todo, é natural que se expresse na primeira pessoa do singular:

Venho transmitir-lhe meus cumprimentos... Solicito a colaboração de todos... Recebam os meus agradecimentos... Tenho a certeza do seu empenho... Minha intenção é dar o melhor de mim pela comunidade...

Quando, porém, prefere usar o plural majestático, o redator ou orador deve saber que verbos e pronomes vão para o plural, mas os adjetivos permanecem no singular, flexionando de acordo com a pessoa que fala ou a quem eles se referem. Por exemplo:

Sejamos claro e sucinto (falou o doutor). O mestre agradeceu dizendo: "Nós nos sentimos orgulhoso com esta homenagem". Não pretendemos ser vaidoso, acreditem. Estamos imunizada contra os ataques...

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