O gerenciamento da pandemia da gripe A (H1N1): uma visão alternativa

AutorGermán Velásquez
Páginas108-136
108
Jul./Out.2012RDisan, São Paulo
Germán Velásquez
v. 13, n. 2, p. 108-122
(*) Doutor, Universidade Sorbonne (Paris). Conselheiro especial sobre Saúde e Desenvolvimento do
Centro Sul (Genebra). Genebra – Suiça. E-mail: south@southcentre.org.
Texto recebido em 16.07.2012. Revisado em 09.04.2012. Aprovado em 22.10.2012.
ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES
O GERENCIAMENTO DA PANDEMIA DA GRIPE
A (H1N1): UMA VISÃO ALTERNATIVA
THE MANAGEMENT OF A (H1N1) PANDEMIC: AN ALTERNATIVE VIEW
Germán Velásquez*
RESUMO
Este artigo tem por objetivo analisar os interesses comerciais não
relacionados à saúde pública que surgiram durante a condução da pandemia da
gripe A (H1N1) no Hemisfério Norte. Também busca ref‌l etir como a preparação
para esta pandemia poderia se tornar um peso para os países do Hemisfério
Sul. Além disso, este trabalho examina a complexidade da divulgação científ‌i ca
pelos meios de comunicação em casos de surtos epidêmicos graves.
Palavras-chave:
Meios de Comunicação; Organização Mundial da Saúde; Pandemia H1N1.
ABSTRACT
The purpose of this paper is to analyse the commercial non-sanitary
interests of the management of the pandemic inf‌l uenza preparedness in the
Global North and how this preparedness for the pandemic could be an additional
burden for the countries of the Global South. Moreover, this paper examines
the complexity of scientif‌i c outreach to society through the media in the case of
serious epidemic outbreaks.
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O gerenciamento da pandemia da gripe A (H1N1): uma visão alternativa...
v. 13, n. 2, p. 108-122
Keywords:
H1N1 Pandemic; World Health Organization; Media.
INTRODUÇÃO
Jornalistas são frequentemente criticados e tachados de irresponsáveis,
exagerados e sensacionalistas quando cobrem desastres naturais ou surtos
epidêmicos graves. Porém, uma ref‌l exão sobre a comunicação da pandemia
da gripe A (H1N1)(1) mostra que houve um maior entendimento entre os meios
de comunicação do que entre os chamados “cientistas” das organizações inter-
nacionais e ministérios da Saúde dos países desenvolvidos. A partir de junho-
-julho de 2009, a imprensa começou a questionar os cientistas e as autoridades
públicas que não se mostraram capazes de responder às perguntas levantadas.
Hoje, três anos depois, os jornalistas podem ter acertado em formular aquelas
questões e inquietações que conduziram avaliações externas independentes,
como a do Conselho Europeu(2) e a do Parlamento Francês.(3)
Antes de tudo, é importante lembrar que um terço da população mundial
não tem acesso regular a medicamentos e que milhares de pessoas morrem
diariamente em razão dessa situação(4). Segundo o Programa Conjunto das
Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), 20 milhões de pessoas nos países
em desenvolvimento deveriam estar recebendo tratamento antirretroviral, mas
apenas 5,2 milhões(5) recebem efetivamente essas drogas. Isso signif‌i ca que
muitos dos 15 milhões de pacientes sem acesso aos medicamentos podem
morrer nos próximos dois a quatro anos, se não houver uma mudança radical.
(1) Segundo a OMS um alerta de pandemia na fase 5 carateriza-se pela contaminação de homem
para homem em pelo menos dois países. A fase 6 (o estágio mais avançado) de uma pandemia tem
como característica surtos em níveis comunitários em pelo menos um outro país em uma região
diferente. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Current WHO phase of pandemic alert for Pandemic
(H1N1) 2009. Disponível em: f‌l u/phase/en>. Acesso em: 4 set.
2012. A pandemia H1N1 foi descrita pela OMS, pela primeira vez, em abril de 2009; em 10 de agosto
de 2010, a diretora geral da organização, Margareth Chan, anunciou o f‌i m da pandemia H1N1.
(2) CASSEL, Ingri. H1N1 pandemic scam cost $billions worldwide. European Parliamentary Assembly
holds public hearing to investigate “what went wrong”. Idaho Observer, Strasbourg, France. Feb. 10th,
2010. Disponível em: . Acesso em: 26 jul. 2012.
(3) ASSEMBLÉE NATIONALE. Rapport. Au nom de la Commission d’enquête sur la manière dont a été
programmée, expliquée et gérée la campagne de vaccination contre la grippe A(H1N1). Disponível em:
. Acesso em: 26 jul. 2012.
(4) De acordo com a OMS, “Cerca de nove milhões de crianças menores de cinco anos morrem
todos os dias, muitas delas em situações que poderiam ser tratadas com medicamentos ef‌i cazes e
seguros”. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Medicines: medicines for children. Fact Sheet n. 341,
June 2010. Disponível em: . Acesso
em: 26 jul. 2012.
(5) UNAIDS. Global Report 2010. Disponível em:
htm>. Acesso em: 26 jul. 2012.

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