Grafias: adrede, boa-fé, sub examine, susomencionado, variantes

AutorMaria Tereza de Queiroz Piacentini
CargoLicenciada em letras e mestre em educação pela UFSC. Revisora da Constituição de Santa Catarina de 1989
Páginas252-252
252 REVISTA BONIJURIS I ANO 33 I EDIÇÃO 670 I JUN/JUL 2021
Grafias: adrede, boa-fé, sub examine,
susomencionado, variantes
A palavra adrede significa “de propósito, para
esse fim, intencionalmente, de caso pensado”
e, sendo advérbio, não carece da terminação
-mente que às vezes erroneamente lhe dão (p.
ex. *ideia adredemente concebida). Em geral se
usa o termo junto de um particípio:
Tratou de implementar uma ideia adrede
concebida com o intuito de desfalcar o
patrimônio alheio.
A primeira autoridade baixou a
regulamentação para o preenchimento das
vagas, enquanto a segunda ficou encarregada
de sua execução material, inclusive com
responsabilidades adrede definidas.
***
Bom (e fem. boa), como mero adjetivo a
designar uma qualidade positiva, não se liga ao
substantivo com hífen (ex.: bom coração, gênio
bom, refeição boa, bom humor, boa tarde) a não
ser que seja substantivado. Isso tem levado
a dúvidas em relação a bom senso, bom gosto,
boa vontade, que já chegaram a ter a grafia
hifenizada porque pareciam formar uma ideia
própria, diferente da leitura de seus elementos
separados. Mas quando se lê que alguém tem
bom gosto, por exemplo, já se reconhece que
é um gosto elegante, bom e refinado. Não há
necessidade de hífen.
Em boa-fé, no entanto, o uso do hífen é
necessário para marcar a mudança de sentido:
não se trata de uma fé boa, mas sim de
“sinceridade, lisura”. Ou seja, boa-fé forma uma
unidade vocabular, embora composta. O mesmo
vale para má-fé, então significando “perfídia,
intenção dolosa”. Nesses casos, escreva-se:
Agiu de boa-fé. Agiu de má-fé.
***
Nos meios forenses é comum a dúvida entre a
grafia “sub examen” e “sub examine” quando
se pretende dizer que a matéria está sendo
examinada ou está sob exame.
Para explicitar a forma correta, vou me basear
na locução adverbial in limine (“desde logo, no
início”), originada pelo substantivo limen, que
significa “limiar, entrada”; o caso nominativo é
limen; liminis é o genitivo e limine o ablativo,
caso latino que representa as palavras na
função de adjunto adverbial, em que aparece
uma preposição, como in, sub, de.
Então, como examen e limen pertencem à
mesma declinação (neutros da 3ª) temos
examen, examinis, examine. Consequentemente,
deve-se redigir sub examine.
***
O termo suso não é facilmente encontrável
por ser considerado “desusado, antigo”.
Juntando o que dizem os cinco dicionários (dos
19 consultados por mim) em que se registra
o elemento de composição suso, temos que
se trata de preposição e advérbio, do latim
susum ou sursum, com o significado de “acima,
anteriormente, antes, atrás”. O emprego que
ainda se vê, sobretudo na área jurídica, tem o
objetivo de indicar “os autos acima citados”,
expressão que também pode ser substituída
por: [autos] supracitados, retromencionados ou
sobreditos. Observar que a grafia é sem espaço
e sem hífen:
Não será possível consultar os autos
susomencionados.
***
Para finalizar esta série, vamos listar algumas
palavras que têm grafias variantes. Segue em
primeiro lugar a forma que é mais usada ou
melhor: abdome e abdômen, bile e bílis, catorze
e quatorze, champanhe e champanha, cota
e quota, garçom e garção, gérmen e germe,
hidrelétrica e hidroelétrica, húmus e humo,
maquiagem e maquilagem, nuance e nuança,
porcentagem e percentagem, quadriênio e
quatriênio, tetravô e tataravô, vitrine e vitrina n
Maria Tereza de Queiroz Piacentini
LICENCIADA EM LETRAS E MESTRE EM EDUCAÇÃO PELA UFSC. REVISORA DA CONSTITUIÇÃO DE SANTA CATARIN A DE 1989
linguabrasil@linguabrasil.com.br
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