Histórias do Rábula
Autor | Pedro Paulo Filho |
Ocupação do Autor | Formado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, foi o 1º presidente da 84ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil |
Páginas | 140-141 |
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O jornalista Sebastião Nery contou saborosas histórias sobre o rábula Cosme de Farias.
Em Catu, cidade próxima a Salvador, houve um crime horrendo e a população estava enfurecida, querendo linchar o criminoso.
O advogado que ousasse defender o réu também seria escorraçado. Pois Cosme de Farias foi defendê-lo.
Chegando de trem na estação, uma multidão o esperava debaixo de vaias.
Cosme subiu à janela e gritou:
Cala a boca, canalha! Mas é desta canalha que eu gosto, porque foi esta canalha que derrubou a Bastilha!
Meia hora depois, carregado pelo povo no Tribunal do Juri, Cosme de Farias defendia um réu acusado de estupro.
Na acusação, o promotor público verberava:
O réu, com as duas mãos, segurou pelos ombros a vítima já caída, impossibilitando qualquer reação da moça e deflorou-a.
Cosme de Farias fez apenas uma pergunta.
Excelência, e quem guiou o ceguinho?
O réu foi absolvido.
No Tribunal do Juri, o promotor Joaquim de Almeida Gouveia, famoso por suas inúmeras condenações, encerrou a sua peroração:
Agora, vocês vão ouvir as razões da defesa na palavra de Cosme de Farias, o campeão de absolvições.
E sentou-se. Cosme de Farias também ficou sentado e calado. Mas o promotor público provocou-o:
"Vossa Excelência está triste, major Cosme? Já está sentindo o amargor da derrota?’
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Não, doutor promotor. Estou triste, mas é de pena de V. Exa., de seu sofrimento, indo todas as noites para casa carregando nas costas tantos anos de condenações. E mais triste ainda por saber que as varizes de V. Exa. são essas condenações que estão explodindo para fora do seu corpo.
O réu foi absolvido.
Um ladrão entrou na Igreja do Senhor do Bonfim e roubou as esmolas que o povo doava.
Cosme foi ao Tribunal de Juri e proclamou:
"Senhores jurados! Não houve crime. Houve um milagre. O Senhor do Bonfim, que não precisa de dinheiro, é que ficou com pena da miséria dele, com mulher e filhos em casa, com fome e lhe deu o dinheiro,dizendo assim: Meu filho, este...
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