Juventudes e violência em Juiz de Fora: as brigas entre jovens de bairros tidos como rivais e seus atravessamentos

AutorEllen Rodrigues/Luiza Cunha Lenzi
Páginas213-230
5 Juventudes e violência em Juiz de Fora: as
brigas entre jovens de bairros tidos como rivais e
seus atravessamentos.
Ellen Rodrigues
Luiza Cunha Lenzi
Durante o percurso de confecção desta pesquisa, cha-
mou a atenção da equipe a recorrência com que os episó-
dios violentos verificados na cidade nos últimos anos foram
relacionados à juventude. Ademais, os dados estatísticos
demonstraram a preponderância dos jovens como grupo
mais vitimado por homicídios na cidade, sobretudo aqueles
negros e do sexo masculino, o que revela a importância de
um olhar mais detido sobre esse importante contingente da
população de Juiz de Fora. Nesse sentido, pretende-se pro-
mover uma aproximação com esse grupo através de análises
acerca da forma como são percebidos pela sociedade juiz-
forana e também da forma como os próprios jovens se per-
cebem, no sentido de expor a riqueza das experiências so-
ciais que eles protagonizam.
De acordo com o artigo Representações na mídia da ju-
ventude e a produção do medo: experiência em uma cidade
média brasileira (CASSAB et al., 2016), a imprensa local
constrói muitas vezes a imagem dos jovens pobres e de seus
respectivos bairros de forma restrita. O estudo foi realizado
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a partir do exame de todas as edições do jornal local Tribu-
na de Minas publicadas entre 2005 e 2011, tendo por foco
o levantamento de reportagens envolvendo jovens de 15 a
24 anos relacionados a eventos como acidentes de trânsito,
assaltos, assassinatos, brigas, consumo ou tráfico de drogas
e porte ilegal de armas.
De acordo com a análise feita por Cassab et al. (2016, p.
16), autoras do referido trabalho, a mídia local participa de
modo ativo da produção do medo e insegurança social em
relação aos jovens da cidade. Pois, ao associar, por diversas
vezes, as palavras juventude e violência, a imprensa difunde
a ideia de que é necessário conter esses indivíduos para se
evitar a violência, o que reduz a problemática da violência
afeta aos jovens a uma relação de causa e efeito que não se
confirma em sua verdade objetiva.
De acordo com as pesquisadoras, a difusão desse medo
em relação ao contingente juvenil é realizada a partir da
geografia da cidade, reproduzindo dicotomias que opõem
centro e periferia, bairros nobres e bairros pobres, lugares
bonitos e feios, espaços limpos e sujos, asfalto e favela, na-
turalizando, assim, a desigualdade estrutural e os precon-
ceitos tão arraigados na história local.
Com a intenção de apresentar uma visão contra-hege-
mônica dessa representação dos jovens oriundos das perife-
rias juiz-foranas, buscando evidenciar o que a mídia comu-
mente não mostra, procurou-se descrever como os jovens
das periferias locais são apartados das oportunidades ofere-
cidas no município tanto em relação ao trabalho, ao estudo
e ao lazer quanto no que diz respeito a sua livre circulação
pela cidade. Para tanto, nossa análise se apoiou na pesquisa
realizada por Cassab e Mendes (2012), que entrevistaram
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