Lição de moral

AutorJosé de Assis
Páginas246-246
ALÉM DO DIREITO
246 REVISTA BONIJURIS I ANO 34 I EDIÇÃO 674 I FEV/MAR 2022
TRÊS CITAÇÕES
VENENOSAS
Todo homem decente se
envergonha do governo sob o
qual vive.
(H.L. M)
s
De vez em quando um homem
inocente é escolhido para a
legislatura.
(K H)
s
Na política é di cil distinguir os
homens capazes, dos homens
capazes de tudo.
(H B)
A CULPA É DA ESPINGARDA
Houve o interrogatório do
Chico da Pedra. Era extrator
de pedras para calçamento e
“comia água”, como se dizia dos
que bebiam muita pinga. Está
preso por ter atirado com espin-
garda em seu colega de trabalho.
Ele negava, dizendo que havia
atirado em uma cobra. As pedras
de calçamento eram tiradas em
local afastado, no meio do mato.
A arma, apreendida, foi mostra-
da para reconhecimento. O Chi-
co pediu para chegar mais perto
e confi rmou. Em seguida, na sua
simplicidade, disse ao juiz:
— Doutor, é a minha espin-
garda, mas não quero ela mais.
Está enferrujada e a mira ruim.
Por isso errei a cobra e acertei o
Tião. O senhor me arruma outra.
A pedido da Promotoria, foi
solto para responder em liber-
dade.
A  H. M
   M
LIÇÃO DE MORAL
O
juiz de direito de uma
cidade do interior de
Minas , faz algum
tempo, interrogava uma
testemunha. A todo o mo-
mento, a testemunha, em
vez de empregar o vocábu-
lo “mulher” usava o termo
“esposa”. O juiz, interrom-
pendo a testemunha, ex-
plicava-lhe que não havia
qualquer despudor em di-
zer mulher em vez de espo-
sa, mesmo porque o nosso
Código Civil registra mari-
do e mulher e não marido e
esposa. Esposa é linguagem
literária, completou o juiz.
A testemunha, olhar fi xo
no juiz, nervoso, em alto e
bom som disparou:
— Doutor juiz, sou sim-
ples funcionário da Central
do Brasil (nome antigo da
Rede Ferroviária). A minha
obrigação é saber a que ho-
ras chega o trem Baiano ou
o Rápido e a que horas eles
saem; se os trens de miné-
rio vão transitar cheios ou
vazios. Se essa lei que o se -
nhor falou aí diz que é mu-
lher, e não esposa, o senhor
e os advogados é que têm a
obrigação de saber, não eu.
Já estou com o saco cheio
de ser corrigido.
A escrevente, os advoga-
dos e os demais presentes à
audiência fi caram espanta-
dos com o que ouviram e se
prepararam para a reação
do juiz. Ele, bonachão, com
as mãos entrelaçadas so-
bre o volumoso abdômen,
olhando a testemunha por
cima dos óculos, sorrindo,
calmo, respondeu:
— O senhor me deu uma
lição. Desculpe-me. A razão
é toda sua. Realmente, a
obrigação de saber o que a
lei fala é nossa e não do se-
nhor, do leigo. Fique à von-
tade. Pode prosseguir.
J  A   
M
“O justo não é mais nem menos do que a
vantagem do mais forte”
(Trasímaco)
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