Migração, violência e retorção / Migration, violence and retortion

AutorCarlos Emilio Ibarra Montero, Francisco Ramos de Farias
CargoDoutorando no Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Pesquisador sobre temas migratorios e professor em Ciências Políticas e Sociologia da Universidad Autónoma de Sinaloa, México (UAS). Bolsista do programa de qualidade do Concejo Nacional de Ciencia y Tecnología, México (CONACy...
Páginas1257-1274
Revista de Direito da Cidade vol. 10, nº 2. ISSN 2317-7721
DOI: 10.12957/rdc.2018.30514
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Revista de Direito da Cidade, vol. 10, nº 2. ISSN 2317-7721 pp. 1257-1274 1257
MI GR ÃO , VIO NC IA E R ETO ÃO
MI GR AT IO N, V IOL EN CE AND R ETO RT IO N
Car lo s Emi li o I bar ra M ont er o1
Fr an ci sc o Ram os d e F ari as 2
Resumo
Este artigo é um exercício que pretende incentivar a reflexão sobre a migração a partir de uma
perspectiva transdisciplinar que questiona as interações que se desenvolvem entre o cientista e
o migrante. Partimos da ideia de que o migrante é violentado de duas maneiras: a primeira,
pelos diversos dispositivos de observação utilizados pelo pesquisador, e a segunda, pela
simulação do cientista, que desconsidera a importância da retorção que os migrantes
aparentemente apresentam. Estima-se que a retorção seja uma forma de reação à violência
infligida aos migrantes pelo fato de serem o objeto de estudo de uma pesquisa. Mediante a
releitura de trabalhos investigativos que versam sobre migração, a análise de documentos
digitais como documentários e filmes e as experiências vividas nas pesquisas de campo
desenvolvidas nos últimos seis anos, pretendemos abordar a pesquisa de forma crític a, com
vistas a pensar os diferentes caminhos que as ciências humanas têm percorrido e seus
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aquilo que é mais real do que o real.
Palavras-chave: Migração; Retorção; Violência.
Abstract
This articl e is an exercise that intends to encourage the reflection about migration through a
transdisciplinarity perspective that questions the interactions developed between the scientist
and the migrant. It starts from the idea that the migrant is violated in two ways: first, by t he
diferent observation devices used by the researcher, and the second, by the scientist simulation
which disconsider the importance of the retortion that migrants apparently present. It is
esteemed that retortion is a form of reaction to the violence inflicted to migrants by the fact
that they are the object of a research study. one, by the simulation made by the scientist in not
remarking the importance of the retort appa rently presented by the migrants as a way of
reacting to the violence that represents the fact that they are the object of study. Through
rereading some studies about migration issues, analyzing digital documents such as
documentaries and films and the experiences lived in the field research in the last six years, we
take a critical approach to thinking about the different ways human sciences h ave taken, and
1 Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (UNIRIO). Pesquisador sobre temas migratorios e professor em Ciências Políticas e
Sociologia da Universidad Autónoma de Sinaloa, México (UAS). Bolsista do programa de qualidade do
Concejo Nacional de Ciencia y Tecnología, México (CONACyT). E-mail: carlos.iba.bra@gmail.com
2 Doutor em Psicologia Clínica pela Fundação Getúlio Vargas. Coordenador e professor do Programa de
Pós Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). E-mail:
frfarias@uol.com.br
Revista de Direito da Cidade vol. 10, nº 2. ISSN 2317-7721
DOI: 10.12957/rdc.2018.30514
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Revista de Direito da Cidade, vol. 10, nº 2. ISSN 2317-7721 pp. 1257-1274 1258
their impact, in order to find the "real" or, to paraphrase Jean Baudrillard, to find that which is
more real than the real.
Keywords: migration; retortion; violence.
IN TR OD ÃO
O que nos faz supor que o migrante quer falar? Não s erá talvez que nós, em nossa
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Começaremos com dois questionamentos que são também dois grandes blocos de
concreto, pesados, densos e que fazem tanto ruído durante o processo d e pensar a migração
que não podem ser ignorados nem subestimados. Se fizéssemos uma revisão cronológica das
ciências humanas, iríamos observar que os estudos desenvolvidos no contorno da cultura
ocidental nas últimas décadas estiveram e estão focados na abordagem d o fenômeno da
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A fenomenologia3 (THOMAS & ZNANIECKY, 1918; HUSSERL, 19 84; MERLEAU -PONTY,
1993) e o interacionismo simbólico4 (BLUMER, 2013) são algumas das correntes de análise que
têm um importante sucesso nos estudos sobre migrações, pois exploram o fenômeno a partir
das histórias e experiências de vida, dos discursos dos migrantes, da observação participante,
das entrevistas não estruturadas, das narrativas etc. Isso tem definido uma pauta no campo das
migrações porque em vez de o migrante fazer parte da estatística, em vez de ser só um número,
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informações p osteriores às edições subjetivas do cientista são publicadas em artigos
científicos, teses, ensaios, monografias etc. e são utilizadas como armas letais que justificam e
afirmam hipóteses que depois viram conclusões ou incertezas.
3 A fenomenologia pretende analisar a essência encontrada na relação entre a consciência e os objetos,
sendo a construção da realidade feita por cada indivíduo a partir do uso dos sentidos e sua relação ou
intencionalidade para com os objetos e os outros atores da sociedade.
4 Segundo o interacionismo simbólico, os seres humanos interpretam ou definem as ações dos outros, em
vez de simplesmente reagir a elas. O significado atribuído às ações é construído mediante símbolos,
interpretações e a atribuição de significados dos outros neste caso, os atores que fazem parte direta ou
indiretamente do ambiente em que se dá a dinâmica social. Uma das características importantes do
interacionismo simbólico é dar atenção quase exclusiva à compreensão da ação social a partir do ponto
de vista do ator.

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