No caminho de Santiago

AutorErnani Buchmann
Páginas248-248
ALÉM DO DIREITO
248 REVISTA BONIJURIS I ANO 33 I EDIÇÃO 670 I JUN/JUL 2021
“O advogado deve sugerir por forma tão discreta os argumentos que
lhe dão razão, que deixe ao juiz a convicção de que foi ele próprio
quem os descobriu”
(Piero Calamandrei)
NO CAMINHO DE SANTIAGO
José Lucio Glomb, ex-
-presidente do Institu-
to dos Advogados do
Paraná e da OAB Paraná,
é um homem determina-
do. Atleta de carteirinha,
tenista de amanhecer em
quadra, velejador de longo
curso, é também adepto de
caminhadas.
Quem o conhece sabe
que é movido por desafios.
Ainda assim, seus amigos
se surpreenderam quando
revelou que pretendia fa-
zer o Caminho de Santiago.
Se bem disse, melhor o fez.
No fim do verão euro-
peu, Glomb iniciou sua jor-
nada de 800 quilômetros.
Marcou com sua esposa, a
também advogada Suely,
que ao final se encontra-
riam em frente à Catedral
de Santiago, em determi-
nado domingo, às 10 ho-
ras. Esperando ali, ansiosa,
Dra. Suely viu surgir no
meio da multidão seu ma-
rido Lucio, 20 quilos mais
magro, cajado na mão, mo-
chila às costas e o sorriso
franco que todos conhe-
cem dominando o rosto.
Entre as boas histórias
que trouxe, escolhi a que
segue.
Certo dia, depois de uns
30 quilômetros de cami-
nhada, Glomb chegou a
uma pequena estalagem,
bem simples. O proprietá-
rio avisou que a cama que
lhe estava reservada ficava
encostada em uma parede
de pedra, responsável por
separar a pousada de um
cemitério.
Cansado como estava
e, depois de algumas san-
grias no jantar, em uma
taverna próxima, Glomb
deitou-se. Fazia muito frio
e o vento soprava na pare-
de. Nosso herói, depois de
tentar esquentar o corpo,
sem sucesso, vestiu nova
camada de roupa e tratou
de dormir trajado qual um
aventureiro do Pólo Norte.
Nada do sono restaura-
dor. Tiritando, levantou
em plena madrugada e re-
solveu ir ao banheiro, loca-
lizado em uma construção
à parte, fora da pousada.
No caminho, vislumbrou
alguns túmulos, batidos
pelo vento.
Aquele sussurro lúgu-
bre da ventania, o frio,
a parede de pedra, tudo
conspirava contra o seu
descanso. Voltou ao quar-
to, arrumou a mochila,
enquanto seus compa-
nheiros de jornada ainda
roncavam, e meteu-se na
estrada com o relógio mar-
cando cinco horas.
Seguiu em frente em
busca do sol que iria aque-
cer a alma dele. Naquele
dia, andou quase 40 qui-
lômetros para encontrar
alguma pousada que não
ficasse ao lado de um ce-
mitério uivante.
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