Uma história social do conhecimento: De Gutenberg a Diderot
Autor | Claudia Rosane Roesler |
Cargo | Doutora em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo |
Páginas | 653-656 |
Page 653
Peter Burke, renomado historiador e filósofo inglês, resume 40 anos de estudos dos primeiros textos modernos, bem como de obras secundárias a eles pertinentes, no livro A Social History of Knowledge (From Gutenberg to Diderot), publicado na Inglaterra em 2000 e no Brasil em 2003.1 O estudo de Peter Burke analisa, conforme o subtítulo expressamente menciona, o período no qual, na Europa, a difusão do conhecimento foi largamente favorecida pelo desenvolvimento tecnológico representado pela invenção da prensa tipográfica por Gutenberg, trazendo à tona os múltiplos elementos que favoreceram esta difusão. O autor, neste sentido, situa a sua análise como uma confluência entre a história do conhecimento, a sociologia do conhecimento, a antropologia do conhecimento e a geografia do conhecimento, todas elas necessárias à construção do que chama de uma "história social" do conhecimento.
O ponto de partida é, pois, a constatação de uma lacuna na literatura acadêmica, e o ponto de chegada um ensaio, ou conjunto de ensaios, eis que, como assevera o autor, algo além disso sobre um tema tão amplo seria uma prova irrefutável de falta de modéstia,Page 654 além de uma tarefa impossível de realizar. Atendo-se a estas delimitações iniciais, o autor produz um texto extremamente saboroso para quem possui interesse em saber como se chegou à organização moderna do conhecimento, explorando com riqueza de dados e detalhes os aspectos formais, institucionais, classificatórios e históricos do período em análise.
Chama a atenção do leitor, aliás, a primeira página de seu capítulo introdutório, no qual desafia a idéia de que a "sociedade do conhecimento" ou "sociedade da informação" é uma característica especial da sociedade contemporânea, afirmando que não somos a primeira época a levar a sério estas questões e que a mercantilização da informação é pelo menos tão velha quanto o capitalismo. Afirma também que as dúvidas que nossa época apresenta sobre a confiabilidade do saber científico remontam ao filósofo grego Pirro, e que nossa discussão dos usos políticos da informação para fins de controle da população são "antigas", no sentido literal, pois fazem parte do que conhecemos sobre os romanos e os chineses. Retirando o ar "novidadeiro" das discussões sobre o conhecimento e sua função social na sociedade contemporânea, pretende o autor ressaltar as peculiaridades do presente a partir da análise do que considera "tendências de longo prazo", as quais...
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