Os paradoxos da democracia e as insuficiências do marxismo. Notas sobre um debate na Itália

AutorDaniele Stasi
CargoProfessor de Filosofia do Direito e Filosofia Política na Faculdade de Filosofia da Universidade de Rzeszow, na Polônia
Páginas127-145
Daniele Stasi
OS PARADOXOS DA DEMOCRACIA E AS
INSUFICIÊNCIAS DO MARXISMO. NOTAS
SOBRE UM DEBATE NA ITÁLIA1
Professor de Filosofia do Direito e Filosofia Política na Faculdade de Filosofia da
Universidade de Rzeszow, na Polônia.
Professor visitante na Universidade LUISS -”Guido Carli” de Roma.
Resumo: O problema da relação entre marxismo e democracia foi objeto
de debate na Itália trinta anos atrás. Norberto Bobbio foi o principal prota-
gonista de um confronto que, surgindo em um período de crise do marxismo
italiano, girava em torno dos problemas do Estado e da organização do Di-
reito. Com seu método da “filosofia do diálogo”, Bobbio provocava respos-
tas de diversos intelectuais da área marxista. Este ensaio reconstrói aquele
debate, enfatizando o papel cultural de Bobbio diante da crise de uma teoria
e filosofia da sociedade então praticamente hegemônica.
Palavras-chave: Bobbio. Democracia. Marxismo. Situação política italiana.
LOS PARADOJOS DE LA DEMOCRACIA Y LAS INSUFICIENCIAS
DEL MARXISMO . NOTAS SOBRE UN DEBATE EN ITALIA
Resumen: El problema de la relación entre marxismo y democracia fue
objeto de debate en Italia treinta años atrás. Norberto Bobbio fue el
principal protagonista de un enfrentamiento que, surgiendo en un
periodo de crisis del marxismo italiano, giraba alrededor de los pro-
blemas del Estado y de la organización del derecho. Con su método de
la “filosofia del diálogo”, Bobbio provocaba respuestas de diversos
intelectuales del area marxista. Ese ensayo reconstruye aquel debate,
realizando el papel cultural de Bobbio delante de la crisis de una teoría
y filosofía de la sociedad entonces prácticamente hegemónica.
Palabras-llave: Bobbio. Democracia. Marxismo. Situación Política Ita-
liana.
1 Tradução: Maria Lúcia Karam.
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1. O quadro histórico-político
Para efetivamente compreender o sentido da polêmica de que foi
protagonista Norberto Bobbio sobre os paradoxos da democracia e as insu-
ficiências do marxismo – polêmica essa ocorrida na Itália no final dos anos
70 do século passado –, é necessário descrever o quadro histórico de fundo,
as razões não só teóricas mas também políticas que caracterizaram o de-
senvolvimento e a afirmação do marxismo na Itália. A polêmica, que fre-
quentemente encontrou espaço nas colunas da revista Mondoperaio2, não
nasce, como se poderia dizer, qual Minerva da cabeça de Júpiter, tampouco
constituindo mera ocasião para uma diatribe cultural em si mesma, ou para
um confronto de caráter essencialmente filosófico-político desvinculado da
realidade política italiana daqueles anos. A discussão sobre temas como “as
regras democráticas do jogo”, a função dos intelectuais, o papel dos parti-
dos, a atualidade e o valor das elaborações marxianas nasce em um contex-
to de profunda transformação social que não deixa indiferentes alguns inte-
lectuais, constituindo-se em uma oportunidade para enfrentar iniludíveis ques-
tões de uma corrente cultural em crise, como era o marxismo na Itália no
final dos anos 70. Uma crise que parece se desenvolver essencialmente em
torno dos problemas do Estado e, mais genericamente, no que diz respeito à
organização do Direito em uma sociedade capitalista avançada.
A descrição das razões históricas daquele debate não pode pres-
cindir da análise da situação das relações entre cultura e política naqueles
anos de máximo esplendor – pelo menos em termos quantitativos – da cul-
tura progressista na Itália. O ensaio que ora apresento parte de um breve
exame da cultura política italiana no segundo pós-guerra, para, em seguida,
reconstruir os termos e resultados de um confronto que, passados trinta
anos, em muitos aspectos ainda se mostra atual e significativo. O método
utilizado para elaborar essas reflexões une o aspecto histórico-politológico
com o estritamente filosófico e teórico-político, este último orientando-se
para a práxis e o alcance de objetivos reconhecidamente decisivos para a
transformação da sociedade, em um sentido progressista.
2 A revista [N.T.: “Mundo Operário”], fundada em 1948 pelo líder socialista Pietro Nenni, em
homenagem à gloriosa revista antifascista espanhola “
Mondo obrero “, e ainda existente, se destacou, no final dos anos 70 do século XX, por sua
efervescência cultural. Veja-se a respeito, F.Coen, P.Borioni, Le cassandre di mondoperaio.
Veneza, 1999.
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OS PARADOXOS DA DEMOCRACIA E AS INSUFICIÊNCIAS DO MARXISMO. NOTAS SOBRE UM DEBATE NA ITÁLIA
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