Patrimônio cultural do Brasil resistência e (re)existência afro do Marabaixo (Amapá/Brasil)
Autor | Juliana Monteiro Pedro, Célia Souza da Costa, Manuel Caleiro |
Cargo | Professora efetiva da Universidade Federal do Amapá e doutoranda da Pontifícia Universidade Católica do Paraná/Professora efetiva do Instituto Federal do Amapá e doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná/Professor adjunto na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) |
Páginas | 131-166 |
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PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL: RESISTÊNCIA
E (RE)EXISTÊNCIA AFRO DO MARABAIXO (AMAPÁ/
BRASIL)
CULTURAL HERITAGE OF BRAZIL: AFRO RESISTANCE AND (RE)
EXISTENCE OF MARABAIXO (AMAPÁ/BRAZIL)
Juliana Monteiro PedroI
Célia Souza da CostaII
Manuel Munhoz CaleiroIII
Resumo: O Marabaixo é uma manifestação cultural
dançante que faz parte da história do Estado do Amapá
desde a colonização. É caracterizada pelo viés da
resistência, apesar de todos os episódios de desgastes
com a sociedade hegemônica. Em 2018, foi reconhecido
pelo Insti-tuto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) como Patrimônio Cultural do Brasil,
o que conferiu ocialidade à cultura que foi por muito
tempo considerada inferior por ser realizada por classe
“subalterna”. Esse movimento busca também reduzir
o precon-ceito e discriminação étnica em relação aos
negros. Diante disso, o objetivo do trabalho é descrever
como se deu o processo de resistência e (re)existência
da cultura do Marabaixo no Estado do Amapá, praticado
pelos afrodescendentes, que culminou nos movimentos
sociais para o reconhecimento jurídico-institucional.
A pesquisa utilizou o método fenomenológico de
abordagem qualitativa, de cunho descritivo e explicativo,
mediante o levantamento de referências bibliográcas e
documental. O estudo aponta que o reconhecimento do
Mara-baixo como Patrimônio Cultural do Brasil é uma
luta engendrada pelos movimentos sociais marabaxeiros,
uma forma de resistência e (re)existência do bem cultural
dos afrodescenden-tes.
Palavras-chave: Marabaixo. Cultura Popular. Patrimônio
Cultural. Afrodescendente. Resistência.
DOI: 10.20912/rdc.v15i36.21
Recebido em: 15.01.2020
Aceito em: 11.04.2020
I Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUCPR),
Curitiba, PR, Brasil.
Doutoranda em Direito.
E-mail: julimpedro@gmail.
com
II Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUCPR),
Curitiba, PR, Brasil. Doutora
em Educação. E-mail: celia.
amapa@hotmail.com
III Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUCPR),
Curitiba, PR, Brasil.
Doutor em Direito. E-mail:
manuelcaleiro@gmail.com
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Revista Direitos Culturais | Santo Ângelo | v. 15 | n. 36 | p. 131-166 | maio/agos. 2020
DOI: http://dx.doi.org/10.20912/rdc.v15i36.21
Abstract: Marabaixo is a dance cultural manifestation
that has been part of the history of the state of Amapá
since colonization. It is characterized by resistance bias,
despite all episodes of con-icts with hegemonic society.
In 2018, it was recognized by the Institute of National
Histori-cal and Artistic Heritage (IPHAN) as Cultural
Heritage of Brazil, which gave ofciality to the culture
that was long considered inferior for being carried out
by the “subaltern” class. This movement also seeks to
reduce prejudice and ethnic discrimination against af-
rodescendents. The goal of this paper is to describe how
the process of resistance and (re)existence of Marabaixo
culture took place in the State of Amapá, practiced by Af-
rodescendants, which culminated in social movements
for legal and institutional recognition. The research used
the phenomenological method of qualitative approach,
of a descriptive and explanatory nature, through the
survey of bibliographical and documentary references
The study points out that recognition of Marabaixo as
Cultural Heritage of Brazil is a strug-gle engendered by
the Marabaxeiro social movements, a form of resistance
and (re)existence of the culture of afrodescendents.
Keywords: Marabaixo. Popular Cuture. Cultural
Heritage. Afrodescendant. Resistance.
1 Introdução
O objetivo principal deste estudo foi descrever como se deu o
processo de resistência e (re)existência da cultura do Marabaixo no
Estado do Amapá, praticado pelos afrodescendentes, que culminou nos
movimentos sociais para o reconhecimento jurídico-institucional. A
pesquisa utilizou o método fenomenológico de abordagem qualitativa
de cunho descritivo e explicativo, mediante o levantamento de
referências bibliográcas e documental. O método fenomenológico
“limita-se aos aspectos essenciais e intrínsecos do fenômeno [...]
buscando compreendê-lo por meio da intuição, visando apenas o dado,
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Patrimônio Cultural no Brasil...
Juliana Monteiro Pedro | Célia Souza da Costa | Manuel Munhoz Caleiro
o fenômeno, não importando sua natureza real ou ctícia”1, no caso o
fenômeno do Marabaixo.
A pesquisa descritiva “têm como objetivo primordial a
descrição das características de determinada população ou fenômeno
ou o estabelecimento de relações entre variáveis”2, por isso em toda
a escrita há a caracterização do Marabaixo, onde estão inseridos os
pontos de discussão. Então, a pesquisa também é explicativa que “têm
como preocupação central identicar os fatores que determinam ou
que contribuem para a ocorrência dos fenômenos”3. Os dados foram
colhidos em referências bibliográcas, o que “permite ao investigador
a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que
aquela que poderia pesquisar diretamente”4; e em fontes documentais5
que resultou na análise de documentos ociais fundamentais para o
direcionamento crítico dos autores.
A partir da modernidade, pode-se dizer que o Marabaixo
está integrado à concepção de cultura popular, já que a construção
da racionalidade moderna é baseada no conhecimento cientíco
considerado como único válido. Ela afasta desse rol as crenças
populares, os mitos, as superstições como “ciências conáveis”. Essa
nova ideologia é iniciada na Europa e incorporada à criação dos Estados-
Nações na América Latina. Um dos pilares dessa superestrutura é o
arcabouço jurídico como meio de controle social e individualização,
de bens e subjetividades. Aspirações por hegemonias de certos grupos
sobre demais, em certos espaços geográcos, demandaram a criação
1 PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do
trabalho cientíco: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2.ed.
Novo Hamburgo: Feevale, 2013. p.36.
2 GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. São Paulo: Atlas,
2008. p.28.
3 GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. São Paulo: Atlas,
2008. p.28.
4 GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. São Paulo: Atlas,
2008. p.50.
5 GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6.ed. São Paulo: Atlas,
2008. p.51.
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